A cidade de São Roque de Minas, no Sudoeste do Estado, é o berço do queijo canastra. A iguaria é uma das riquezas de Minas Gerais, reconhecida como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2008. Mesmo guardando os saberes da produção de um dos alimentos mineiros mais tradicionais, no início da década de 1990, a única agência bancária da região fechou as portas.
Sem um banco, fazer com que a cidade fosse atrativa economicamente tornou-se um grande desafio. A adversidade foi superada pela força do cooperativismo. Criada por são-roquenses em 1991, a Cooperativa Sicoob Sarom salvou a economia local, preservou a tradição do queijo e, atualmente, administra R$ 1,2 bilhão por ano.
Mas o fortalecimento da região ainda não resolvia um problema mais profundo vivido por São Roque: a migração das novas gerações para outros locais. “Filhos de pessoas mais abastadas se mudavam para estudar, viravam doutores e não voltavam. Filhos de pessoas mais carentes não tinham escola adequada, não tinham emprego e se mudavam. A educação do município era muito fraca”, diz João Carlos Leite, presidente do conselho de administração do Sicoob Sarom.
Buscando fixar os jovens na região, nasceu em 1999 a Cooperativa Educacional Sarom (CES), uma escola privada para os filhos dos cooperados, que se tornou laboratório de boas práticas que têm sido replicadas na rede pública da região. Além do currículo pedagógico exigido pelo Ministério da Educação (MEC), os alunos da instituição também aprendem sobre cooperativismo, empreendedorismo e educação financeira.
Ensinamentos preciosos
Em parceria com o Sebrae, o Sistema Ocemg e o Banco Central, a Cooperativa Sicoob Sarom criou, em 2013, o Movimento CoopEducação, que leva as práticas empreendedoras da CES para as escolas públicas da região. A iniciativa treina os professores da rede pública para repassar ensinamentos sobre cooperativismo, empreendedorismo e finanças nas salas de aula. Os conceitos são aplicados na teoria e na prática, de maneira transversal e interdisciplinar.
O CoopEducação está presente em 16 municípios da região da Serra da Canastra, 104 escolas públicas, municipais e estaduais, e duas instituições privadas. Ao longo de 11 anos, o movimento já capacitou 2.000 professores e impacta cerca de 37 mil alunos anualmente.
A iniciativa possibilita que os alunos vivenciem experiências preciosas para dar seguimento ao cooperativismo, que é tão forte na região. Como ocorre na Escola Estadual General Carneiro, no centro de São Roque de Minas, onde é desenvolvido o Projeto de Educação Empreendedora e Cooperativista. Cada turma administra a sua própria cooperativa, cuidando dos seus produtos, que são vendidos anualmente na Feira dos Jovens Empreendedores da escola.
Para Kauan Henrique Humenhuk, aluno da segunda série do ensino médio, presidente da Cooperativa Balão Mágico, que vende doces e jogos infantis, o projeto mostra aos jovens ensinamentos para toda a vida. “Precisamos estar sempre em cooperação para atingir nossos objetivos e alcançar um bem comum”, analisa.
Agroeconomia vai para a sala de aula
Há dois anos, a Cooperativa Educacional Sarom incluiu em sua grade a agroeconomia. Por meio da disciplina, a temática da economia de São Roque de Minas é trabalhada com os alunos de forma transversal.
Eles aprendem sobre o que gera a riqueza para o município, como o queijo, o café e o turismo”, explica Maria José de Faria Leite, presidente do Movimento CoopEducação. A disciplina ainda não chegou às escolas públicas, mas a metodologia e o material didático estão em desenvolvimento para aplicá-la no Movimento CoopEducação.
“Queremos que os nossos jovens percebam as oportunidades que têm aqui, no território, e, a partir daí, empreendam, entendendo a vocação local e a identidade do município”, observa Ighor Oliveira, supervisor de educação e desenvolvimento do cooperativismo no Sicoob Sarom.
Segundo ele, essa busca pela valorização das riquezas locais por meio da educação está resgatando a autoestima da juventude da região. “Durante muito tempo a gente sentia vergonha de falar que era de São Roque. Só que, quando a gente começa, por meio da agroeconomia, a mostrar o potencial que o município tem e como ele é visto pelo mundo, os jovens passam a se sentir valorizados e a ter orgulho de dizer: ‘Eu sou de São Roque, cidade produtora do queijo canastra”, destaca.
Fonte: O Tempo
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