Em uma viela da zona norte de São Paulo, onde antes se ouvia o eco do vazio e da incerteza, agora há vozes de crianças, sorrisos de adultos e o barulho de ferramentas construindo sonhos. Lá, a vida de muitas famílias foi transformada graças a uma cooperativa habitacional. É a prova viva de que, quando as pessoas se unem por um propósito comum, até mesmo o impossível se torna realidade.
Uma luta compartilhada
Dona Maria Aparecida, 54 anos, é uma das moradoras da cooperativa “Novo Lar, Nossa Casa” formada em 2021 por um grupo de trabalhadores que sonhavam com a casa própria. Ela conta que nunca imaginou sair do aluguel, mas a união de vizinhos e colegas de trabalho fez surgir uma oportunidade.
“Todo mês eu via aquele dinheiro do aluguel indo embora, mas parecia que o sonho da casa própria era inalcançável. Então, um dia, um amigo falou da ideia de formar uma cooperativa. No começo, confesso que duvidei, mas hoje estou na minha casa e sei que cada tijolo foi colocado com suor e esperança”, conta, emocionada.
Como funcionam as cooperativas?
As cooperativas habitacionais são iniciativas coletivas, em que pessoas com um objetivo comum — no caso, o acesso à moradia — se organizam para viabilizar empreendimentos imobiliários de forma colaborativa. Cada membro contribui financeiramente, e as decisões são tomadas em assembleias, dando voz a todos os participantes.
O modelo permite não apenas reduzir custos, mas também criar uma comunidade sólida. Além disso, em muitos casos, o governo participa oferecendo subsídios, terrenos ou financiamentos especiais, como parte de políticas públicas de habitação.
“Uma cooperativa não é só construir casas; é construir vidas. Nós dividimos custos, mas também dividimos sonhos e dificuldades. Aqui, ninguém é apenas um número”, explica um dirigente da cooperativa “Novo Lar, Nossa Casa”.
Desafios no caminho
Por trás do sucesso das cooperativas, há desafios que exigem organização e persistência. A burocracia para a aquisição de terrenos, a dificuldade em acessar financiamentos e a falta de conhecimento sobre o modelo cooperativista são barreiras frequentes.
“Não foi fácil. Tivemos que lutar por cada documento, cada aprovação na prefeitura. Mas, no final, a sensação de entrar na casa que você ajudou a construir não tem preço”, diz Francisca Silva, outra cooperada da cooperativa.
Histórias de transformação
No condomínio residencial erguido pela “Novo Lar, Nossa Casa”, cada casa tem uma história para contar. Marcos, um pedreiro de 38 anos, não apenas construiu a própria casa, mas ajudou a erguer as dos vizinhos. “A gente não construiu só paredes, construímos uma amizade que vai além da vizinhança. Aqui, todo mundo se ajuda.”
Enquanto conversávamos, crianças corriam pelas ruas pavimentadas, onde antes havia apenas terra batida. O local, que antes era um terreno vazio, agora pulsa com vida.
Por que apostar nas cooperativas habitacionais?
Em um país com um déficit habitacional de mais de 6,2 milhões de moradias, segundo dados da Fundação João Pinheiro, as cooperativas se mostram uma alternativa eficiente para enfrentar o problema. Elas combinam o esforço coletivo com a redução de custos e a criação de comunidades fortes e resilientes.
Dona Maria resume o impacto da cooperativa em uma frase:”Aqui, minha casa não é só minha. Ela é de todos que acreditaram que, juntos, podemos mais.”
Próximos passos
Para quem quer formar ou se juntar a uma cooperativa habitacional, especialistas recomendam começar com informação e planejamento. Consultar associações, buscar assessoria jurídica e conhecer experiências bem-sucedidas são os primeiros passos para transformar o sonho da casa própria em realidade.
O que a história da “Novo Lar, Nossa Casa” nos ensina é que, mesmo em meio às dificuldades, o ser humano tem uma capacidade extraordinária de se reinventar. E que, na luta por um lar, o mais importante é nunca lutar sozinho.
Fonte: Cooperemais com adaptações da MundoCoop