Durante três dias, mais de 400 membros de cooperativas reuniram-se na Cidade do Saber, no Panamá, para participar do último evento regional de 2025. O encontro, coorganizado pela Cooperativas das Américas, pelo Instituto Autônomo de Cooperativas do Panamá (IPACOOP), pela Cooperativa Profesionales RL e com o apoio do Comitê de Partes Aliadas, marcou o encerramento das comemorações do Ano Internacional das Cooperativas na região e inaugurou uma nova etapa de trabalho político e estratégico rumo a 2030.
Um começo carregado de significado político e compromisso multissetorial.
A semana começou com uma visita à comunidade Emberá-Druá no Parque Nacional Chagres, onde delegações de diversos países conheceram de perto os projetos implementados pela Cooperativa Tranchichi para melhorar a qualidade de vida de seus membros. A visita proporcionou um valioso intercâmbio cultural, territorial e cooperativo.
À tarde, o Auditório Ateneo da Cidade do Conhecimento recebeu os participantes com uma cerimônia de abertura que reuniu líderes do movimento cooperativo, autoridades do governo panamenho e representantes de agências das Nações Unidas.
Julio Moltó, Ministro do Comércio e Indústria do Panamá; Erika Vargas, Diretora Executiva da IPACOOP; María Teresa Donderis, Presidente da Cooperativa Profesionales; Jonathan Díaz, Diretor de Negócios da Fundação Cidade do Conhecimento; José Alves de Souza Neto, Presidente da Cooperativas das Américas; e Ariel Guarco, Presidente da Aliança Cooperativa Internacional, abriram a reunião, enfatizando o papel estratégico do cooperativismo na construção de modelos de desenvolvimento mais humanos, alinhados à Agenda 2030.
Um momento particularmente significativo foi a mensagem enviada pela ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, lida pela embaixadora e copresidente do Comitê de Partidos Aliados, Paula Narváez Ojeda, que destacou a importância de aprofundar a sociedade do cuidado por meio de políticas públicas robustas e alianças multissetoriais.
A primeira noite terminou com um espetáculo cultural panamenho e um coquetel de boas-vindas que facilitou encontros entre representantes de cooperativas de diversos setores, embaixadas, agências das Nações Unidas e delegações institucionais de toda a América.
Painéis, laboratórios e alianças: três dias que ampliaram a agenda regional de cuidados.
O segundo dia do programa técnico teve início com o Painel de Alto Nível sobre a Economia do Cuidado e a Sociedade. Representantes da CEPAL, da OIT, da ONU Mulheres, da FAO e do Comitê Regional para a Igualdade de Gênero concordaram que a região enfrenta desafios profundos em termos de emprego, desigualdade e acesso ao cuidado, embora as cooperativas já estejam oferecendo soluções concretas, sustentáveis e transformadoras. A participação de Paula Narváez, Bibiana Aido, Xiomara Núñez de Céspedes e Myriam Báez permitiu uma conexão direta entre essas experiências e as estratégias globais das Nações Unidas.
Em seguida, foi apresentado o relatório do Comitê Regional das Partes Aliadas para o Ano Internacional das Cooperativas, destacando que os quatro eventos oficiais do ano reuniram mais de 3.500 participantes. Este fórum proporcionou uma oportunidade para analisar o progresso nas parcerias institucionais, na mobilização regional, na influência sobre as políticas públicas e no papel crescente das cooperativas na saúde, na igualdade de gênero, na migração e nos sistemas alimentares.
Durante a tarde, as oficinas técnicas proporcionaram um diálogo mais prático entre especialistas e experiências locais. A oficina sobre desenvolvimento humano, redes de atenção e cooperativas de saúde analisou as conexões entre essas áreas, com estudos de caso do Brasil, Uruguai e Itália, e uma perspectiva regional fornecida pelo PNUD.
Posteriormente, o Laboratório de Cooperativismo e Cuidado – Experiências, Desafios e Compromissos para Ação – aprofundou-se nos desafios do fortalecimento do trabalho de cuidado, com a participação da ONU Mulheres, da OIT e experiências da Guatemala e da Argentina. Um dos principais resultados foi a assinatura de uma carta de intenções para promover a agenda regional de cuidado. Por fim, o Laboratório de Cooperação e Inovação para uma Economia Verde abordou as oportunidades de inovação e economia verde com base em experiências do Panamá, Honduras e Guatemala, juntamente com uma perspectiva regional da CICOPA Américas.
O dia terminou com uma partida de futebol (Copa do Mundo Cooperativa) e a inauguração das arquibancadas da Expo Aliados Cooperativos.
Saúde, envelhecimento, igualdade e prevenção da violência: uma visão abrangente do cuidado.
Na quarta-feira, a conferência focou em dois temas principais. Pela manhã, as sessões plenárias analisaram o papel das cooperativas nos sistemas de saúde, a saúde comunitária, o cuidado com idosos e as respostas ao envelhecimento populacional. Experiências da Itália, Canadá, Brasil, República Dominicana, Costa Rica e Argentina apresentaram soluções inovadoras em bem-estar, saúde e cuidados integrados.
O segundo painel do dia focou-se na igualdade de género, na liderança feminina e no empoderamento económico. Lucía Scuro (CEPAL) apresentou uma análise regional baseada em dados e enfatizou a necessidade de mais estudos sobre o setor.
María Noel Vaeza e Sonia Brucke enfatizaram que a agenda de cuidados é, por definição, uma agenda de igualdade de gênero e que sua consolidação requer políticas públicas sólidas e parcerias público-privadas.
De uma perspectiva cooperativa, foi enfatizado o potencial do movimento para democratizar oportunidades, transformar relações de poder e construir organizações onde as mulheres liderem processos-chave na sociedade do cuidado.
À tarde, três oficinas temáticas ampliaram a discussão. A oficina ” Fortalecendo a Economia do Cuidado a partir do Setor Cooperativo Agrícola” reuniu experiências regionais da Costa Rica, Colômbia, Chile e Brasil, com apoio técnico da FAO. ” Mobilidade e Conhecimento: Integração, Reconhecimento e Trabalho Decente nas Américas “, com especialistas da OIM e da OIT e experiências de El Salvador, Costa Rica e Equador, abordou a interseção entre migração, inclusão e trabalho decente.
Por fim, o laboratório Cooperativismo e equidade de gênero: experiências e alianças para prevenir a violência integrou contribuições da Fair Trade (CLAC), experiências da Argentina e o trabalho do Comitê de Gênero da Aliança Cooperativa Internacional.
Rumo a 2030: Transição justa, sustentabilidade e uma nova era cooperativa.
A reunião de quinta-feira terminou com uma análise da economia verde, sistemas alimentares sustentáveis, turismo comunitário, trabalho decente e migração. A FAO, a OIM, a OIT, o PNUD, a CICOPA e representantes do Panamá e do Brasil concordaram que uma sociedade do cuidado deve integrar a sustentabilidade ambiental e uma transição produtiva justa, com as cooperativas desempenhando um papel vital na proteção das pessoas, dos territórios e do clima.
O painel de encerramento reuniu Paula Narváez, José Alves, Ana Patricia Graça e autoridades panamenhas para delinear os compromissos regionais para uma nova fase. Foi enfatizado que a ação cooperativa em matéria de cuidados não termina com o encerramento do Ano Internacional das Cooperativas, mas é projetada como um capítulo estratégico que se estenderá até 2030.
A assinatura simbólica da bandeira da AIC2025 marcou o encerramento da celebração internacional. O Panamá também anunciou que voltará a sediar um importante encontro cooperativista em 2026, quando receberá a Assembleia Mundial da ACI e a Assembleia Regional de Cooperativas das Américas em setembro daquele ano.
Após um almoço de despedida — e com a sensação de terem construído um espaço inédito para a integração regional — as delegações encerraram o evento reafirmando seu compromisso de continuar promovendo soluções cooperativas para um futuro mais justo, solidário e sustentável nas Américas.
Embora este evento tenha marcado o fim do ano comemorativo, representou também um encontro dinâmico, íntimo e profundamente humano, que permitiu uma compreensão mais profunda do papel transformador do cooperativismo. Com novas alianças, lições aprendidas e um novo ímpeto, o setor inicia 2026 fortalecido e pronto para continuar a construir sociedades solidárias em todo o continente.
Acordos
Tendo como pano de fundo a reunião, foi assinado um acordo-quadro com a Coordenadoria Latino-Americana e Caribenha de Pequenos Produtores e Trabalhadores do Comércio Justo (CLAC), que reúne e representa as organizações de pequenos produtores e associações de trabalhadores do sistema Fairtrade International, bem como outras organizações de pequenos produtores de comércio justo no continente.
O documento foi assinado pelo diretor regional da Cooperativas das Américas, Danilo Salerno, e pela diretora executiva da CLAC, Xiomara J. Paredes, e possibilita ações coordenadas para o desenvolvimento sustentável na região.
“Esta aliança nos permitirá gerar evidências sobre o impacto do modelo cooperativo, fortalecer as capacidades das cooperativas agrícolas de comércio justo e ampliar a participação de suas organizações membros em espaços regionais e globais”, comemorou a CLAC ao anunciar a parceria com a Cooperativas das Américas.
Por outro lado, a Cooperativas de las Américas firmou um acordo com a SPES/Federación Trentina de Cooperativas (Trento, Itália) e a UNIMED Brasil, por meio do qual profissionais de enfermagem da entidade brasileira poderão trabalhar na Itália com facilidade de contato e logística de mobilidade internacional entre cooperativas.
Fonte: Aliança Cooperativa Internacional das Américas com adaptações da MundoCoop












