Ele é considerado o pai do conceito de sustentabilidade. O inglês John Elkington, 76 anos, é autor de 21 livros sobre o assunto, entre eles o best-seller Canibais com garfo e faca — obra em que apresentou pela primeira vez, em 1997, a ideia de que o sucesso das organizações depende de investimentos em três frentes: pessoas, meio ambiente e resultados econômicos, o tripé da sustentabilidade.
Com uma trajetória extensa na área, Elkington pertence à geração baby boomers (grupo nascido após o fim da Segunda Guerra Mundial), mas sempre esteve à frente dos debates de sua época. Nos anos 1970, ingressou no movimento ambientalista e concluiu que ele só geraria resultados duradouros se também promovesse desenvolvimento econômico e social. Na época, seus colegas — que rejeitavam qualquer menção ao dinheiro — reagiram com estranhamento. “O que aconteceu com você? Por que se tornou estranho?”, perguntavam. Ele seguiu adiante, fiel às próprias convicções, e hoje é uma autoridade global em responsabilidade corporativa e desenvolvimento sustentável.
“Eu sempre fui disruptivo”, afirmou Elkington, em entrevista exclusiva à Cooperação em Revista. “Queria mudar a maneira como as pessoas pensavam e se comportavam diante dos ambientalistas — profissionais que, na época, eram vistos como criadores de problemas.” Com fala calma e sotaque britânico, explica que decidiu dialogar com o setor empresarial por acreditar que ali seria possível promover mudanças reais. “Eu realmente estava interessado em entender o que as empresas estavam fazendo e como poderiam obter resultados melhores sem impactar o meio ambiente.”
Com entusiasmo e grande capacidade de articulação, ele começou a abrir caminho para instituições que desejavam atuar na agenda ambiental sem abandonar a rentabilidade de seus negócios. Por seu pioneirismo, tornou-se referência global — e influenciou inclusive o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato, a investir em sustentabilidade.
Onda cooperativa
Dono de uma mente inquieta, Elkington costuma afirmar que ainda está apenas “começando”. “O mundo que conhecemos está começando a desmoronar. E quando esses períodos históricos ocorrem — talvez a cada 60 ou 80 anos — no início é assustador. Depois, vemos uma enorme onda de inovação: novas tecnologias, novas ciências, novos modelos de negócios. É aí que acho que estamos.”
Segundo ele, as cooperativas terão papel decisivo nesse novo cenário, que demanda modelos econômicos mais humanos e sustentáveis. “Parte do que tenho tentado entender é o papel do cooperativismo nisso, e como ele pode impulsionar algumas dessas mudanças.”
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Sobre o cooperativismo
O movimento cooperativo é muito bom em pensar sobre como atender às necessidades sociais e produzir resultados econômicos. O mundo todo precisa saber mais sobre o que esse setor está fazendo, sua importância e como ele se conecta à sustentabilidade. O cooperativismo tem muito a ensinar às empresas tradicionais, e é fundamental levar essa mensagem ao mundo dos negócios.
Agricultura sustentável
A história da agricultura, até recentemente, foi marcada pelo uso intensivo de fertilizantes e pesticidas. Por isso, não surpreende que muitos ativistas ainda vejam o setor como parte do problema. Mas essa percepção está mudando. O interesse dos produtores por formas de proteger o solo, a atmosfera e a saúde das pessoas cresce de maneira consistente.
A agricultura orgânica, o comércio justo e a busca por produtos sustentáveis aumentam ano após ano. Cabe ao próprio setor comunicar essas mudanças aos consumidores, investidores e mídia. É preciso perguntar: quem, dentro dessa comunidade, tem capacidade de comunicar o que está sendo feito agora?
Resposta Transgeracional
A maioria de nós cresceu convivendo com a indústria de combustíveis fósseis e pesticidas sintéticos. Ainda dá tempo de mudar nossa mentalidade. Preocupa-me ouvir pessoas da minha idade dizerem: “Fizemos o nosso melhor; agora é com os jovens.” Os mais velhos não fizeram tudo o que era necessário. Eles continuam votando, possuem influência política e recursos financeiros. Precisam trabalhar com as gerações mais novas. O futuro exige uma resposta transgeracional.
Geração Z
Os jovens sabem exatamente quais problemas ambientais enfrentamos, porque estudaram sobre mudança climática, biodiversidade e direitos humanos. O que eles ainda não sabem é como transformar tudo isso em resultados concretos.
“O movimento cooperativo é muito bom em pensar sobre como atender às necessidades sociais e a produzir resultados econômicos.”
Liderança Corporativa
Precisamos de liderança política para mudar o mundo. Quando tivermos governos taxando o que é negativo e subsidiando o que impacta positivamente a economia, veremos avanços reais na preservação ambiental.
Prós e Contras
A mudança geracional é interessante e muito promissora. A internet e as redes sociais tornam os jovens mais informados e conectados aos desafios do século XXI. Mas o excesso de informação também é perigoso. Quando as pessoas ficam ansiosas, podem se fechar, expressar raiva ou adotar posições politicamente pouco construtivas.
Tendência de futuro
Independentemente do que façamos, as coisas devem piorar ambientalmente porque ultrapassamos limites planetários. Mas isso não significa que haverá retrocessos sociais. As pessoas estão despertando — ainda não como deveriam, mas já reconhecem que existe uma crise real e que é preciso agir.
Cooperativas e empresas sabem que precisam inovar e propor soluções. Mas governos também terão de fazer sua parte.
Fonte: Sistema Ocemg com adaptações da MundoCoop












