A abertura dos trabalhos do cooperativismo na COP30 evidenciou o papel do setor no fortalecimento da transição climática com finanças de proximidade e soluções nascidas nos territórios. Os dois primeiros dias da conferência, iniciada na última segunda-feira (10), mostraram como as cooperativas viabilizam o acesso ao crédito e conectam políticas públicas aos produtores de diversas regiões.
Além de marcar presença nos debates centrais da conferência, o movimento cooperativo apresentou resultados concretos em frentes como energia renovável, inclusão produtiva e bioeconomia, destacando o potencial do modelo para impulsionar o desenvolvimento sustentável.
O início da COP30 também trouxe alertas da ONU sobre a urgência climática. Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apontou que as emissões globais continuam elevadas e podem levar o planeta a um aquecimento de até 2,5°C até o fim do século. O secretário-geral António Guterres reforçou o tom de preocupação ao criticar governos e empresas que, segundo ele, “permanecem cativos de interesses arraigados” enquanto o mundo enfrenta secas, enchentes e recordes de calor sem precedentes.
Crédito de baixo carbono
Depois do foco na estratégia climática, o debate sobre cooperativismo e financiamento apresentou a capilaridade do segmento. O Sistema OCB lembrou que o cooperativismo financeiro está presente em 60% das cidades e é a única instituição em 469 delas, com R$ 90 bilhões em crédito verde em 2024 e alcance de educação financeira a mais de 50 milhões de pessoas.
Na mesma direção, o BNDES reportou R$ 96 bilhões financiados em economia verde desde 2023, sendo 73% das operações intermediadas por cooperativas de crédito.
As experiências apresentadas por Sicredi, Sicoob e Cresol reforçaram essa capilaridade.
- O Sicredi registrou R$ 12 bilhões em financiamentos de energia solar e vem ampliando o acesso de mulheres rurais ao crédito, fortalecendo a inclusão produtiva no campo.
- O Sicoob movimentou R$ 55 bilhões em crédito rural, atendendo 600 mil produtores com suporte técnico e incentivo a boas práticas ambientais.
- A Cresol, com R$ 50 bilhões em ativos e mais de mil agências, figura entre as três maiores no crédito à agricultura familiar, com R$ 7,6 bilhões aplicados em 117 mil contratos. A instituição também anunciou R$ 320 milhões voltados à bioeconomia amazônica, estimando a entrada de 8 mil novos cooperados nos próximos anos.
Na Amazônia, onde as questões fundiárias e logísticas ainda representam entraves ao crédito, o Sistema OCB/PA destacou que o Pará já reúne 82 cooperativas atuantes em mais de 80 municípios. Para Ernandes Raiol, presidente daorganização, garantir segurança jurídica, tecnologia e infraestrutura é essencial para que o crédito se transforme em produção sustentável.
Bioeconomia
Em sequência ao debate financeiro, o painel “Cooperativismo e Bioeconomia: da floresta ao sertão”, mediado por representantes da OCB e do Ministério do Meio Ambiente, trouxe experiências que uniram política pública, inovação e protagonismo comunitário. Na discussão, Débora Ingrisano, Gerente de Desenvolvimento de Cooperativas, afirmou que o Brasil pode movimentar até US$ 140 bilhões por ano até 2032 com a bioeconomia do conhecimento e ressaltou que as cooperativas garantem que esse valor retorne às comunidades onde as soluções nascem.
A presença de representantes empresariais e governamentais reforçou a convergência entre iniciativas privadas e políticas públicas. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) destacou a articulação do cooperativismo com programas lançados durante a COP30, como o Plano Nacional de Bioeconomia, o Prospera Sociobio e a rede de Agentes de Crédito Verde, todos voltados ao fortalecimento das economias locais.
Essa integração entre políticas públicas e arranjos locais também foi ampliada pelo Governo Federal, que apresentou a inclusão da agricultura familiar no programa Contrata+Brasil, plataforma que permite a venda direta de produtos e serviços por cooperativas e produtores a escolas, hospitais e outros órgãos públicos. Desde fevereiro, o sistema já reúne 6 mil microempreendedores individuais cadastrados, 976 órgãos compradores e mais de 1,2 mil contratos firmados, somando aproximadamente R$ 6,4 milhões em operações, conforme destacou Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos do Brasil.
Ações de sustentabilidade
Em continuidade às discussões sobre bioeconomia e desenvolvimento territorial, o segundo dia da COP30 reforçou o papel das cooperativas como protagonistas na construção de soluções sustentáveis. Na Agri Zone, o Sistema OCB reuniu experiências de cooperativas como Coplacana, Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) e Cooperativa Agropecuária dos Agricultores Familiares Irituenses (D’Irituia), que apresentaram práticas de descarbonização, rastreabilidade e restauração produtiva.
Na Amazônia, a D’Irituia mostrou resultados com Sistemas Agroflorestais (SAFs) e iniciativas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) que beneficiam mais de 200 famílias com apoio técnico da Natura. A Camta, referência internacional em produção sustentável, evidenciou como os SAFs recuperam áreas degradadas e garantem renda a centenas de agricultores familiares que hoje exportam frutas tropicais para mais de 50 países.
No agronegócio, a Coplacana e a Cooxupé apresentaram metas de descarbonização e certificação socioambiental. A Coplacana destacou seu Programa de Descarbonização, que prevê neutralidade total até 2040, e o projeto PASS, voltado à sustentabilidade de 200 produtores cooperados. Já a Cooxupé apresentou o Protocolo Gerações, que apoia 21 mil cooperados na adoção de práticas de baixo carbono e rastreabilidade total do café.
Por fim, a participação da cooperativa financeira Cresol reforçou seu compromisso com a transição ecológica e a inclusão financeira, apresentando projetos voltados à gestão hídrica, à agroecologia e à expansão do crédito verde. A cooperativa também participou de encontros paralelos sobre finanças climáticas, demonstrando na prática como os sistemas cooperativos integram a agenda ambiental com desenvolvimento territorial.
COOP É COP
Em preparação para a COP30, a MundoCoop – com o apoio do Sistema OCB – lançou a série especial ‘COP É COP – Cooperações pelo Clima’. Ao longo de seis episódios, o videocast discute os principais temas que devem ser destaque ao longo da COP30, e como a cooperativas se conectam a cada um deles. É a oportunidade de conhecer cases que demonstram na prática, os motivos que colocam as cooperativas no centro do debate climático.
Por Redação MundoCoop












