Nos dias 22 e 23 de setembro, o World Coop Management 2025 reuniu em Belo Horizonte quase 2 mil pessoas, em uma edição histórica que reafirmou o evento como o maior espaço de diálogo estratégico do cooperativismo global. Mais do que um encontro, o WCM25 foi um chamado à ação: diante de um mundo cada vez mais fragmentado, tenso e em transformação acelerada, o cooperativismo mostrou sua força como sistema capaz de organizar pessoas, construir confiança e abrir caminhos onde parece não haver diálogo possível.
Além do Palco World, a programação do WCM ocupou o Summit Cooptech, inovação e tecnologia; Conferência RH Coop, gestão de pessoas e liderança; e Papo 360°, com conteúdos dos patrocinadores. E a MundoCoop, Mídia Oficial, esteve presente para trazer o maiores destaques desse encontro.
Na abertura, líderes do Brasil e do mundo provocaram os participantes a olhar para o futuro sem perder de vista os princípios que sustentam o movimento. Ronaldo Scucato, presidente do Sistema Ocemg, destacou a urgência de trazer jovens e mulheres para o centro das decisões, não apenas pela energia transformadora, mas pelo conhecimento que carregam. “O cooperativismo precisa mostrar para o mundo que é o melhor sistema de vida. Valorizem os jovens e as mulheres”, afirmou.
Na mesma direção, Márcio Lopes, presidente do Sistema OCB, reforçou que confiança é hoje “o insumo mais raro da humanidade” e que as cooperativas são justamente ambientes capazes de cultivá-la. Ao lembrar que o setor já ultrapassa R$ 850 bilhões de faturamento e reúne 25 milhões de cooperados no Brasil, Márcio defendeu a renovação das estruturas de governança: conselhos mais estratégicos, participativos e abertos à diversidade, para sustentar os grandes desafios que estão por vir.
Já Ariel Guarco, presidente da ACI, chamou atenção para o reconhecimento internacional que o movimento recebe em um cenário global polarizado. Ao declarar o Ano Internacional do Cooperativismo, a ONU sinalizou que o modelo é parte essencial das soluções que o mundo precisa. “Dialogamos onde não dá para dialogar, levamos para frente o que parece impossível”, disse. Orgulho, comunidade e inovação, inclusive com a utilização responsável da inteligência artificial, foram os eixos de sua mensagem.
Da própria ONU, Andrew Allimadi, coordenador de Questões Cooperativas, reforçou que a inteligência artificial está redesenhando a forma de trabalhar e decidir, e que as cooperativas não podem se ausentar desse processo. “Precisamos adotar a IA para compartilhar recursos, melhorar a tomada de decisão e inovar tecnologicamente com responsabilidade social”, destacou.
Assim, o WCM25 abriu sua jornada não apenas celebrando números e conquistas, mas provocando uma reflexão profunda: como o cooperativismo pode atravessar fronteiras e se afirmar como alternativa de vida em um tempo marcado por rupturas?
PROPÓSITO HUMANO E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
A abertura dos debates trouxe a atriz e embaixadora da ONU, Danni Suzuki, que convidou o público a refletir sobre o tema “O futuro é humano”. Em sua fala, reforçou a necessidade de alinhar avanços tecnológicos a valores humanistas, especialmente na formação das próximas gerações. “A importância de passar valores para os jovens é que eles acessem, formem caráter e construam as próprias identidades”, destacou.
Na sequência, Monica Verma, CEO da Cyber Foyer e especialista em inteligência artificial e cibersegurança, trouxe para o centro do palco os impactos da inteligência artificial no cooperativismo. Para ela, o desafio não está em temer máquinas, mas em entender como construir confiança em meio a dados. “Não há mistério: para funcionar, a inteligência artificial precisa de propósito. Em escolhas sensíveis, o humano entra. Transparência e prestação de contas não travam inovação; elas evitam danos e preservam confiança duradoura.”

O FUTURO QUE ESTAMOS CONSTRUINDO
No painel “O Futuro que Estamos Construindo Hoje”, o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, abriu a reflexão lembrando que os avanços tecnológicos e a inteligência artificial, ao mesmo tempo em que ampliam possibilidades, também podem gerar exclusão social. Para ele, cabe ao cooperativismo atuar como força de inclusão. “Essa realidade do mundo desorganizado e desesperançoso precisa de uma filosofia que una todo mundo, que gere felicidade. A cooperativa é muito mais do que uma empresa baseada em valores e princípios, é o caminho para a felicidade coletiva”, afirmou.
Aos painelistas, foi lançada a pergunta: onde o cooperativismo estará em 2035? José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar, respondeu com uma meta ousada, superar a marca de R$ 1 trilhão em faturamento. Mas, além dos números, defendeu a criação de um programa nacional de educação política, alertando que conquistas históricas podem ser perdidas sem a consciência do poder do voto.
Para Tânia Zanella, superintendente do Sistema OCB Nacional, os números já indicam o potencial do setor, mas o verdadeiro desafio está em ampliar a base social. “Se hoje somos 12% da população brasileira, precisamos trabalhar o porquê o cidadão está em nosso modelo”, afirmou. Ela também reforçou a importância da diversidade e da sintonia com as novas gerações: “Somos um bom exemplo para a juventude que está vindo”.
ENTRE RISCOS, INCLUSÃO E NOVAS LIDERANÇAS
A presença da inteligência artificial seguiu como um dos fios condutores do WCM25, apontada tanto como oportunidade de inovação quanto como um desafio de inclusão e responsabilidade. Lisiane Lemos, mentora no Black Founders Fund do Google e secretária de Inclusão Digital do Rio Grande do Sul, trouxe dados que chamaram a atenção: embora a IA já alcance 93% dos brasileiros, apenas metade da população entende minimamente o que essas ferramentas são. “O Brasil é um dos países que mais usa ChatGPT”, destacou, provocando a necessidade de traduzir a tecnologia para o cotidiano das pessoas.
Para ela, a segurança da informação deve ser prioridade, não só para proteger cooperados e funcionários, mas também para garantir a confiança nas instituições. E reforçou que a inovação não pode estar isolada em um departamento, mas precisa ser um espaço vivo de criação, aberto à diversidade de perspectivas e experiências. “Quem lidera, quem toma as decisões precisa considerar as diferenças. Tecnologia precisa ser para todo mundo.”
Essa perspectiva foi complementada por Annette Collisy-Lenzen, especialista em desenvolvimento de liderança, que defendeu uma visão prática sobre o impacto da IA na gestão. “A IA nos motiva a redefinir o que podemos fazer e até onde podemos ir”, disse. Para ela, as habilidades humanas nunca foram tão necessárias: a verdadeira questão não é o que a IA pode fazer, mas como os líderes podem agir através dela. “A IA não vai substituir você, mas vai substituir a pessoa que não souber trabalhar com IA.”
A diretora de inovação e design do Cartão Elo, Duda Davidovic, trouxe ainda o olhar estratégico. Se 50% das empresas deixam de existir em até cinco anos, as cooperativas provam sua resiliência com trajetórias centenárias. Mas para seguir relevantes, será preciso adotar uma mentalidade digital que vá além de aplicativos e sites. “O risco de não fazer é maior do que o risco de fazer e lidar com a possibilidade de dar errado. Ficar de fora da inovação pode ser irreversível”, afirmou.



O COOPERATIVISMO COMO PROTAGONISTA DA NOVA ECONOMIA
Encerrando o evento, o painel “O Cooperativismo Como Protagonista da Nova Economia” trouxe reflexões sobre o papel das cooperativas em um mercado cada vez mais competitivo e tecnológico. Moacir Krambeck, presidente do Sistema Ailos e ex-presidente da Confebras, foi direto. “Não tem como ficar fora do avanço da tecnologia, as cooperativas precisam se inserir nisso”. Para ele, a tecnologia deve ser vista como ferramenta de eficiência, mas nunca como a solução em si. “Somos uma instituição de gente, então a tecnologia precisa ser entendida como ferramenta e não como solução. A solução, são as pessoas.”
Krambeck também provocou ao destacar a necessidade de reconexão com a juventude e com os mais vulneráveis: “O cooperativismo está perdendo sua essência, as pessoas, principalmente as mais carentes, não estão vendo mais as cooperativas como solução. Nosso desafio é chegar nas pessoas, é comunicar”.
Na mesma linha, Manuel Guerreiro, presidente do Conselho de Administração da Caixa Agrícola de Torres Vedras, reforçou que o cooperativismo já nasce com uma base sólida de sustentabilidade: “As cooperativas conhecem as terras e as pessoas, o que as terras produzem e o que as pessoas precisam e isso é sustentabilidade”.
PRÓXIMOS PASSOS
Luiz Branco, CEO da Wex, anunciou a próxima edição do evento, reafirmando a importância da trilogia temática que guiará o WCM até 2027: 2025 – Conexão: aproximação da cultura cooperativista com a inovação; 2026 – Fusão: “casamento” dessas culturas, atuando lado a lado; e 2027 – Singularidade: integração total em uma cultura única, sólida e transformadora. “Será uma visão global dentro dos temas que compõe a inteligência artificial e o mercado das cooperativas”.

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Por Redação MundoCoop