O governo indonésio está agora a caminho de seu plano de criar milhares de cooperativas em aldeias, em uma tentativa de estimular economias rurais encurtando as cadeias de suprimentos, melhorando o acesso ao mercado e criando empregos.
Os ministros esperavam ter 15.000 Red and White Village Co-ops (RWCVs) operacionais até o final de agosto e planejavam aumentar esse número para 80.000 até novembro.
O projeto está sendo implementado em quatro etapas, organizadas por área geográfica: Yogyakarta e Java Central, com uma meta de 2.680 cooperativas; Ilhas Riau, Sumatra do Norte, Aceh, Java Ocidental, Lampung e Sumatra do Sul, com uma meta de 5.800 cooperativas; Jacarta, Banten e Sulawesi do Sul, com uma meta de 2.244 cooperativas, e Java Oriental e Bali, com uma meta de 5.412 cooperativas.
Tatan Yuliono, do Ministério de Coordenação de Alimentos, disse que os ministros esperam que o programa crie mais de 1,4 milhão de novos empregos — incluindo 240.000 cargos de gerente, 400.000 cargos de equipe e 240.000 cargos de supervisão, além de oportunidades de emprego para 560.000 trabalhadores em unidades de negócios.
Espera-se também que o plano simplifique as cadeias de suprimentos e reduza o número de intermediários, vistos como um fator de inflação.
Com aldeias devastadas pela pobreza e pela falta de oportunidades, o objetivo é usar o modelo cooperativo para impulsionar a participação econômica. Mas o ambicioso projeto exigirá uma boa governança local, apoiada por tecnologia digital integrada, com dados coletados de 20.000 aldeias autossuficientes pelo Ministério das Aldeias, Desenvolvimento de Regiões Desfavorecidas e Transmigração.
Cada vila usará o sistema digital desenvolvido pela operadora estatal de telecomunicações Telkom, que monitorará as atividades da cooperativa em tempo real, incluindo a movimentação de mercadorias e relatórios financeiros.
As cooperativas precisam apenas inserir os dados — referentes a transações diárias de até Rp9 milhões, principalmente das vendas de arroz, gás liquefeito de petróleo e fertilizantes — afirmam os ministros, com tudo controlado digitalmente.
O sistema monitorará “de forma automática e transparente” todos os desembolsos de fundos cooperativos, compras de mercadorias, vendas e estoques, disse a vice-ministra das empresas estatais, Kartika Wirjoatmodjo.
O governo também espera que essa infraestrutura digital melhore a distribuição equitativa e acessível de produtos básicos e ajude os produtores locais a chegar ao mercado de exportação.
Mas, para ter sucesso, o plano precisa de regulamentações harmonizadas entre os ministérios, permitindo que os líderes nos níveis de vila, distrito e prefeitura aprovem o financiamento das cooperativas.
A colaboração com várias partes, especialmente bancos estatais, é necessária para que os membros das cooperativas locais alcancem a necessária alfabetização financeira e tecnológica, alertou o ministro das cooperativas, Budi Arie Setiadi.
“Estamos monitorando de perto este programa”, afirmou o ministro em um comunicado. “Estamos mantendo a credibilidade deste programa, inclusive minimizando a possibilidade de uso indevido por certas partes.”
O especialista em cooperativas nascido na Indonésia, Robby Tulus — ex-diretor da Aliança Cooperativa Internacional que ocupou vários cargos importantes nos movimentos de cooperativas e cooperativas de crédito, na Indonésia e ao redor do mundo — diz que o projeto está há muito tempo em sua mente.
“Quero que as 80.000 cooperativas sejam bem-sucedidas”, disse ele ao Co-op News, “porque o projeto foi iniciado pelo recém-eleito presidente indonésio Prabowo Subianto Djojohadikusumo, cujo avô Margono Djojohadikusumo foi membro do conselho do Credit Union Counselling Office, que liderei no início da década de 1970, e agora tem cerca de 5 milhões de membros em todo o país.
O presidente nutria um ressentimento de longa data pelo crescente impasse estrutural e econômico em muitas aldeias rurais da Indonésia. Sua ideia de ajudar a população rural e acelerar o crescimento no campo por meio das cooperativas merece ser aplaudida.
Mas, alerta Tulus, “a abordagem de cima para baixo de ter 80.000 RWCVs estabelecidas em tão pouco tempo deve ser ponderada em relação a muitos outros fatores. Seria viável a designação de autoridades locais para agilizar o processo e se tornarem supervisoras dessas cooperativas?”
“O modelo de negócios que consiste em fazer com que esses RWCVs se tornem agentes distribuidores de nove produtos essenciais, como fertilizantes e óleo de cozinha, é considerado relevante?
“E como eleger membros inteligentes e éticos para o conselho e recrutar gestores dos RWCVs se os membros não forem suficientemente educados e treinados previamente?”
Para aumentar a incerteza, o projeto surge em meio a uma dívida pública nacional que onera cada vez mais a economia, afirma Tulus. “Os governos locais estão prontos para lidar com isso enquanto uma redução de 25% nas transferências de renda para os governos provinciais e locais está sendo autorizada e implementada?”, questiona. “O mais importante, no entanto, é evitar que essa abordagem de cima para baixo cometa os mesmos fracassos de muitas abordagens semelhantes no passado.”
Tulus dá o exemplo das Cooperativas de Unidades de Aldeia, iniciadas pelo presidente Suharto nas décadas de 1970 e 1980, que “baseavam-se na mesma abordagem de cima para baixo e enfrentavam falhas sistémicas”.
Tulus aponta para um artigo do deputado indonésio Abdul Munir, que apela para que a estrutura institucional dos RWCV seja construída com “precisão tecnocrática”.
“Se falhar”, acrescenta Tulus, “então será adicionado à longa lista de bons projetos enterrados no papel, enterrados pelo esquecimento ou por relatórios de prestação de contas muito grossos, mas nunca lidos.
Concordo plenamente com a ideia de Munir de que ‘as cooperativas não nasceram do Estado; nasceram da confiança do povo. Portanto, o Estado e os tecnocratas têm apenas uma tarefa: não destruir essa confiança. Que o povo tenha suas próprias instituições, seus próprios sistemas e seu próprio futuro’.
Em um tom mais positivo, Tulus afirma que as autoridades estão trabalhando com cooperativas de crédito e cooperativas rurais estabelecidas e bem-sucedidas para obter assistência técnica e orientação sobre as RWVCs. Isso poderia abordar a questão de como treinar pessoas suficientes para operar 80.000 cooperativas e garantir uma boa governança – o que Tulus chama de “uma pergunta de um milhão de dólares”.
“Ainda não encontrei um modelo que funcione para garantir uma boa governança por meio de soluções rápidas baseadas em uma abordagem de cima para baixo”, diz ele. “Mas quem sabe se os governos locais na Indonésia estão plenamente cientes dos fracassos do passado?”
Para que o esquema tenha sucesso, Tulus diz que é importante evitar uma burocracia pesada – e prevenir a corrupção, “para que a população local esteja pronta para apoiar seus esforços”.
Fonte: The Co-op News com adaptações da MundoCoop
