Cada vez mais, a “Experiência do Colaborador” vem ocupando espaço nas discussões entre executivos, CEOs, diretores e profissionais de Recursos Humanos (RH). Mas, em meio a teorias e estratégias sofisticadas, uma reflexão simples, porém poderosa, surge frequentemente nos corredores durante o tradicional cafezinho: a empresa em que trabalho me dá motivos para sentir orgulho de estar aqui?
Trabalhar com pessoas em ambientes cada vez mais exigentes já é um grande desafio. Imagine, então, assumir a responsabilidade de promover felicidade em um contexto em que cada indivíduo traz suas próprias experiências, particularidades, expectativas e necessidades. Considerada o conceito do “novo RH”, a experiência do colaborador vai muito além de métricas tradicionais, como índices de turnover, taxas de absenteísmo e outros indicadores que vêm perdendo relevância.
A realidade é que essa experiência começa antes mesmo do processo seletivo, quando os candidatos pesquisam em sites especializados e redes sociais para avaliar relatos de antigos e atuais profissionais das empresas que desejam integrar. Nessa análise, aspectos como políticas de remuneração, benefícios, clima organizacional, reputação de mercado, flexibilidade, comunicação, oportunidades de crescimento, governança, equidade, inclusão e envolvimento em questões sociais são cuidadosamente considerados.
Se satisfeitos com o que encontraram, os candidatos avançam para a jornada do processo seletivo, onde enfrentarão novos desafios, como a interação com sistemas automatizados de recrutamento e seus algoritmos. Nesse momento, um ponto crítico para a organização é garantir um retorno adequado aos candidatos não selecionados, preferencialmente com mensagens personalizadas, reforçando o respeito e a transparência desde o início da relação.
Para os aprovados no processo seletivo, a relação — que pode ser de amor ou, em alguns momentos, de desafios — começa com o recebimento da carta-convite para assumir a posição. Nesse ponto, tudo parece promissor, sem sinais das possíveis “DRs corporativas” que podem surgir ao longo da jornada.
Na sequência, entra em cena o processo de onboarding e integração, que exige cada vez mais robustez e investimentos significativos em tempo, logística e envolvimento de equipes. Esse momento é crucial para alinhar expectativas, promover a adaptação e fortalecer o vínculo inicial entre o colaborador e a organização.
Pós este período de fascinação e encantamento, onde o papel do profissional de RH é imprescindível, inicia-se a relação de trabalho propriamente dita, onde as cobranças e amarguras inevitavelmente aparecerão.
Ciente da sua responsabilidade primordial quanto a promover um ambiente propício ao trabalho sadio e agradável, o RH tem por obrigatoriedade entender e conhecer os seus públicos e seus desafios. Se fazer presente ouvindo e interagindo em todos os núcleos, auxilia muito na construção de ações e tomada de decisões assertivas e de ampla aceitação. A tríade ouvir, entender e agir deve ser colocada em prática.
E como a “experiência do colaborador” permeia a cultura, os processos e todas as pessoas que fazem parte da organização, gerando um vasto volume de informações a ser administrado. Para lidar com essa complexidade, é fundamental que o RH mapeie dados qualitativos e quantitativos de cada colaborador — algo plenamente viável com o suporte dos diversos sistemas de gestão disponíveis atualmente.
A partir da análise dessas informações, torna-se possível conduzir ações de reconhecimento, identificar necessidades de capacitação, aplicar eventuais medidas disciplinares e, se necessário, realizar desligamentos. Tudo isso de forma justa e imparcial, com base nos feedbacks registrados pelos gestores e pelo próprio RH.
Saiba que quanto mais a empresa investe em ações para engajar colaboradores, promover uma escuta ativa, fortalecer a cultura organizacional, oferecer treinamentos eficientes e fomentar uma política contínua de feedback assertivo, maiores são as chances de construir um ambiente de trabalho positivo. Com a análise constante dos dados e a sensibilidade dos profissionais de RH, torna-se possível criar um espaço onde seja genuinamente agradável dizer “bom dia” todos os dias — e ainda desfrutar, com prazer, do paladar e das conversas no bom e velho “cafezinho de corredor”.
Vinicius Gomes é Conselheiro Estratégico da ABRH-MG e Gerente de RH do Minas Tênis Clube