Pela primeira vez, uma cooperativa de crédito está lançando uma plataforma de investimentos aberta, que distribui uma maior oferta de produtos, no Brasil. A Unicred, a quarta maior cooperativa de crédito do país, ganhou o aval do Banco Central para ser uma distribuidora de investimentos e a ZIIN, a sua plataforma de investimentos, começará a funcionar em 24 de fevereiro.
As cooperativas de crédito são instituições reguladas pelo Banco Central que prestam serviços exclusivamente aos seus associados, que são donos e ao mesmo tempo usuários dos serviços. Conta, cartão de crédito, empréstimos, financiamentos e investimentos estão entre os serviços, ou seja, elas são quase como um banco, mas o atendimento e as condições dos produtos prometem ser melhores e mais justas.
Com os brasileiros mais interessados por investimentos e os influenciadores e assessores dessa área chegando no interior do país, as cooperativas estão ampliando o cardápio de investimentos para não perder os 17 milhões de associados para as corretoras. A ideia é deixar de ser apenas a fonte principal de empréstimos dos cooperados e ser também a sua principal plataforma de investimentos.
Mais cooperativas estão nesse caminho de ampliar o cardápio de investimentos também, como a Sicredi e a Sicoob, mas a Unicred é a única autorizada pelo Banco Central a ser uma distribuidora de investimentos e a ter uma plataforma de investimentos aberta, com mais alternativas de aplicações à disposição dos investidores.
Na nova plataforma da Unicred, podem abrir conta as pessoas que já são associadas à cooperativa, mas qualquer pessoa pode ser sócia na instituição. A ZIIN é uma intermediária do banco BTG Pactual e é uma corretora light, ou seja, quase todos os produtos da plataforma de investimentos do BTG estão acessíveis na distribuidora.
O investidor pode encontrar ações, fundos imobiliários, fundos de investimentos, Tesouro Direto e papéis emitidos por companhias, como certificados de recebíveis imobiliários e agrícolas (CRIs e CRAs) e debêntures. A plataforma, no entanto, não conta com certificados de depósitos bancários (CDBs) e letras de crédito agrícola e imobiliário (LCAs e LCIs) de outros bancos, porque eles concorrem com as LCAs, LCIs e os recibos de depósitos cooperativos (RDCs, o equivalente aos CDBs das cooperativas) da Unicred.
Além da maior oferta de produtos em relação às demais cooperativas, um dos diferenciais oferecidos pela ZIIN é o maior alinhamento de interesses com os investidores. Diferentemente de boa parte dos assessores das corretoras, os consultores das cooperativas não ganham para indicar produtos que pagam maiores comissões para eles, mas que não são necessariamente os melhores para os clientes. Assim, os conselhos são mais imparciais.
“Nossa proposta é disponibilizar aos cooperados a mesma variedade e qualidade dos produtos financeiros disponíveis nas maiores instituições do país, mas mantendo a proximidade e a transparência que representam a cooperativa”, afirma Remaclo Fischer Júnior, presidente da Unicred.
Os associados das cooperativas participam da gestão dessas instituições, que não visam lucro. Os resultados positivos são divididos entre os cooperados, mas eles podem ter que participar da divisão das eventuais perdas.
“Um dos maiores benefícios é o acesso à uma assessoria financeira focada nos interesses dos investidores, sem um viés comercial. Os associados se beneficiam do lucro das cooperativas”, afirma Patrícia Palomo, diretora executiva da ZIIN. “Com a plataforma de investimentos, ganhamos força para evitar o resgate de recursos para investir nas corretoras. Buscamos ser a instituição principal dos cooperados”, diz.
Próximos passos
Como uma distribuidora, a cooperativa poderá trabalhar também na estruturação de ativos como CRAs, CRIs e debêntures para as empresas que são suas cooperadas. As companhias emitem esses papéis de renda fixa para se financiar. Os CRAs, CRIs e debêntures poderão ser distribuídos na própria plataforma de investimentos da cooperativa, como as corretoras fazem.
“São empresas cooperadas que buscam um financiamento sob medida e com risco de crédito no qual confiamos. Assim, conseguimos gerar valor nas duas pontas, para as empresas que estão captando dinheiro e para os investidores que não teriam esse tipo de oferta em outros lugares”, afirma Palomo.
Cooperativas em crescimento
A Unicred tem atualmente 320 mil cooperados, que juntos têm R$ 29,9 bilhões em ativos na carteira de crédito e nas demais operações. Desses associados, apenas 12 mil contam com investimentos dentro da cooperativa, com R$ 2 bilhões sob custódia no total, o que representa uma oportunidade para crescer entre os cooperados. A meta é ultrapassar 30 mil investidores e R$ 10 bilhões sob custódia em cinco anos.
As cooperativas estão crescendo muito no país. Apesar de estarem sendo incorporadas umas pelas outras, as cooperativas estão ampliando as agências, os cooperados e a representatividade no sistema financeiro. O Brasil conta com 768 cooperativas, que alcançam R$ 731 bilhões em ativos na carteira de crédito e nas demais operações e 17 milhões de cooperados, segundo o último relatório sobre cooperativas do Banco Central.
Vale a pena investir em uma cooperativa?
As vantagens principais de investir por meio de uma cooperativa são o atendimento mais personalizado e o conflito de interesses menor na oferta de produtos. É claro que a cooperativa tem um interesse maior que o investidor aplique nos seus papéis, os RDCs, mas o conflito de interesses é menor na oferta dos outros produtos que não são emitidos pela cooperativa, porque seus especialistas não ganham incentivos para indicar investimentos.
Já as maiores desvantagens são a menor oferta de produtos e de profissionais especializados para aconselhar os clientes, dores que a Unicred está tentando resolver. As taxas de retorno oferecidas nas aplicações são parecidas com as do mercado em geral. As remunerações dos papéis de renda fixa não são altas demais porque o risco de investir nas cooperativas é relativamente baixo, mas também não são muito baixas porque elas necessitam ser atrativas para conquistar os investidores.
Fonte: Valor Investe