Vamos partir da premissa-matriz, de aceitação geral, de que a viabilidade econômica é condição de existência da cooperativa e, claro, pressuposto para dar as respostas na dimensão humanitária.
Para isso, a densidade ou, em amplitude ainda mais arrojada, fidelidade/centralidade/exclusividade operacional hão de ser uma realidade. Entre as muitas formas de apresentar ou propor o percurso até a opção do cooperado pela solução cooperativa, podemos, em uma perspectiva didática – como um caminho estruturado ou passo a passo –, associar as ações a objetivos representados por vocábulos que iniciam com a letra “e”.
Refiro-me, nessa ordem, a engajamento, economicidade, eficiência, experiência e escolha, aspirações essas que, por sinal, direta ou indiretamente, desde 2010 (Resolução nº 3.859, do Conselho Monetário Nacional – CMN), constituem diretrizes regulamentares, presentemente veiculadas pelas Resoluções CMN nº 5.051/2022 (art. 20) e nº 5.061/2023 (art. 2º).
Engajamento
Engajamento tem a ver com motivação – que reivindica justiça de oportunidades em todos os níveis, sem distinção ou preconceito entre os diferentes perfis demográficos –; compromisso e empenho dos dirigentes e profissionais contratados para bem-servir o quadro social e dar vida à sociedade cooperativa. Para além disso, é desejável o envolvimento ativo dos associados na gestão, que os leva a confiar na entidade, defendê-la e promovê-la.
Economicidade
Economicidade diz respeito ao uso parcimonioso e suficiente dos recursos dos cooperados, alcançando até mesmo as instalações físicas; as estruturas e os componentes organizacionais; a política de remuneração/bonificações/benefícios; as viagens e os eventos corporativos. Tem íntima ligação com a diretriz da utilidade e o princípio da intercooperação (intra e intersistêmica), que remetem a economia de escopo e ganho de escala.
Eficiência
Eficiência, no conceito de Índice de Eficiência Operacional (IEO), por sua vez, resulta da equação que confronta despesas e receitas operacionais da cooperativa. Quanto menor o número (40% para menos é a senha!), melhor – lembrando que o indicador, recomendadamente conjugado com métricas de produtividade, dialoga diretamente com a capacidade competitiva da cooperativa.
Experiência
Experiência que, visando à redução ou eliminação de fricções com os cooperados e potenciais ingressantes, conecta-se, entre outros aspectos, com o grau de satisfação acerca do tratamento/atendimento (presencial ou remoto; durante e após a concretização do vínculo negocial); à completude e qualidade do portfólio; à adequação da oferta ao perfil e à necessidade dos cooperados – âmbito em que se inserem o suitability e o relacionamento consultivo; aos limites operacionais; ao preço e aos processos, abarcando, neste caso, fluidez e agilidade/instantaneidade na entrega do produto ou serviço pela cooperativa.
O almejado impulsionamento do atual ritmo de filiações, sobretudo pela inclusão – prevalentemente por meio dos canais digitais – de uma parcela relevante do público situado nas classes C, D e E (universalização ou plenitude associativa), inevitavelmente passa por aqui.
Escolha
Escolha, que supõe conhecimento da proposta cooperativa, acessibilidade e atitude comercial – requisitos a serem substancialmente aprimorados entre nós –, é o efeito ou corolário do êxito nos quatro fundamentos anteriores, que igualmente reivindicam profunda evolução. Daí a principalidade – alvo de todos os agentes do varejo bancário e especialmente desafiador para o cooperativismo financeiro, que ainda vê seus membros prestigiando fortemente a concorrência.
Eis, portanto, uma ideia-síntese (certamente não a única e, talvez, nem mesmo a mais completa ou mais bem elaborada) de como podemos medir o progresso econômico de uma instituição cooperativa, notadamente do setor financeiro, imperativo para assegurar a continuidade do ciclo histórico de crescimento do segmento, com avanço no market share.
Dando a resposta eficaz sob a ótica empresarial – que há de abranger a maximização da entrega de valor para os donos-usuários – a cooperativa habilita-se ao papel de protagonista nas perspectivas social, ambiental e climática, sem o que não tem razão de ser.
Enfim, a organização cooperativa, para honrar, de modo virtuoso e sustentável, a sua identidade, o seu propósito, deve ser sólida economicamente – cultivando os cinco Es – e, a partir desse alicerce, efetiva nos laços com as pessoas do entorno e com o território que a acolhe, postura esta que renderá empatia e reciprocidade na forma de novos negócios.
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*Ênio Meinen, autor de Cooperativismo financeiro na década de 2020: sem filtros! (ed. Confebras, 2020 – na 2ª ed./2023) e diretor de coordenação sistêmica, sustentabilidade e relações institucionais do Sicoob.