A capacidade de crescimento do Brasil empregando os recursos disponíveis sem gerar uma pressão sobre a inflação, o chamado Produto Interno Bruto (PIB) potencial, está próxima de 2%, segundo economistas.
Na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o País cresceu 1,4% no segundo trimestre. Após o resultado além das expectativas, os analistas consultados no último boletim Focus, do Banco Central, também elevaram previsões para o ano e agora esperam alta de 2,68%.
Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, as medidas macroeconômicas da sua gestão elevaram o potencial de crescimento do País. “Pouquíssimo tempo atrás, 9 entre 10 economistas diziam que o nosso PIB potencial era de 1,5% [ao ano]. Estamos crescendo 3%, não podemos nos conformar em crescer menos do que a média mundial”, disse ele, no fim de agosto.
“Hoje, vejo o potencial de crescimento em 1,8%”, avalia a coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, Silvia Matos.
Ela ressalta que a inflação tem ficado próxima ao teto da meta para este ano (4,5%). Agosto registrou deflação de 0,02%, a primeira desde junho de 2023. Em 12 meses, a inflação desacelerou para 4,24%, após 4,5% em julho, segundo o IBGE.
Para Silvia Matos, o aumento do potencial de crescimento ainda depende de um esforço para atacar problemas crônicos do País, como a questão tributária. “A produtividade média é baixa, a taxa de investimento é de 17%, ainda considerada pequena, falta mão de obra qualificada e mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento”.
“Acho impossível que o potencial esteja em 3%”, diz o economista, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais (do FGV Ibre) e coautor do Monitor do PIB-FGV, Claudio Considera.
Segundo seus cálculos, no primeiro trimestre de 2024, a margem que a atividade tinha para crescer até atingir sua capacidade máxima estava em 1,7%. “A partir de 2014, ficou estagnada e voltou a crescer há cerca de três trimestres”.
“Nos dois primeiros mandatos de Lula, os economistas diziam que o PIB potencial era de 3,5%; no período de crise, de 2015 a 2020, era de 1,5%; no pós-pandemia, de 2% a 2,5%. É sempre uma discussão sobre os últimos anos, olham o retrovisor”, diz o professor da UnB José Luis Oreiro.
Ele avalia que a economia pode crescer entre 2,5% e 3% sem gerar inflação, mas isso depende de investimentos públicos e privados. “A meta de inflação atual também pode estar errada, mas não importa, a decisão de aumentar juros já foi tomada. No fim, só estão buscando uma justificativa”.
Os analistas do Focus projetam uma alta na Selic neste mês, com a taxa encerrando o ano a 11,25%. Parte dos economistas também discute se o mercado de trabalho estaria sobreaquecido ou se o desemprego ainda tem espaço para cair abaixo dos 6,8% registrados no trimestre encerrado em julho.
Esse foi o menor nível para esse período desde o início da série histórica da Pnad Contínua em 2012, também segundo o IBGE.
Oreiro lembra que a pandemia de Covid-19 reduziu a taxa de participação da força de trabalho, que ainda não se recuperou totalmente. Essa taxa mede a proporção da população em idade ativa que está trabalhando ou buscando trabalho. Ela terminou o primeiro semestre em 62%, dois pontos percentuais abaixo do pico no segundo semestre de 2019.
“Não podemos falar em sobreaquecimento, o mercado de trabalho informal não gera pressão inflacionária significativa quando está sendo absorvido pelo mercado formal”, diz o economista da UnB.
O professor sênior da faculdade de economia da USP e coordenador do Salariômetro (Fipe), Hélio Zylberstajn, concorda que a taxa de participação indica que o mercado de trabalho não está sobreaquecido. “O momento atual, com aumento dos salários, pode levar a um aumento de preços, mas as empresas podem adotar medidas para aumentar a produtividade e mitigar esse efeito”, complementa.
“A expectativa é de um desemprego próximo aos 6% no fim do ano. O mercado tem conseguido absorver quem estava fora há mais tempo. Hoje, tudo indica que vamos ter novas quedas”, diz o economista da LCA Bruno Imaizumi.
Fonte: Diário do Comércio