Deivid Ilecki Forgiarini, doutor em Administração, professor da Universidade Federal do Acre da UFAC e Coordenador do Grupo de Pesquisa “Identidade Cooperativista e Desenvolvimento Territorial” da UFAC começou a pesquisar cooperativas em 2016, quando se integrou ao Núcleo de Pesquisa da Escoop, na Escola Superior do Cooperativismo da SESCOOP-RS.
Durante os 8 anos em que esteve na Escoop/SESCOOP-RS trabalhou com cooperativas de todos os ramos, publicou livros, desenvolveu cursos e entendeu que o tema Identidade Cooperativista é pouco conhecido. Esse foi um dos motivos que escolheu o assunto para a sua tese de doutorado.
A MundoCoop conversou com o pesquisador sobre a importância de se desenvolver uma identidade cooperativista e quais são os desafios dessa construção.
Confira!
Qual é a identidade cooperativista que encontrou em suas pesquisas?
Existe muita confusão sobre o que é ser uma cooperativa. Essa confusão não é exclusiva do Brasil, ela ocorre em várias partes do mundo. Conforme as pessoas iam tendo a sua percepção do que era uma cooperativa e fazendo correlações com outros tipos de organizações, as organizações iam se transformando e ficando com a cara de cada território e cada vez mais as próprias cooperativas não se identificavam entre si, fragmentando a força deste tipo de organização.
Em 1995, atento a este movimento de perda de Identidade, a ACI – Aliança Cooperativa Internacional, concluiu um trabalho realizado ao longo de muitos anos definindo qual era a Identidade Cooperativista. Assim, a ACI define a cooperativa como: “autonomous association of persons united voluntarily to meet their common economic, social and cultural needs and aspirations through a jointly owned and democratically-controlled enterprise ou “associação autônoma de pessoas unidas voluntariamente para satisfazer as suas necessidades e aspirações económicas, sociais e culturais comuns através de uma empresa de propriedade conjunta e controlada democraticamente”.
Atrelado a este movimento os princípios ganharam a sua terceira modificação e a inclusão do sétimo princípio: “Compromisso com a Comunidade” (na sua tradução mais correta, vinda do francês). Na esteira do debate sobre Desenvolvimento Sustentável, fortalecendo que as cooperativas existem como instrumento de melhoria de qualidade de vida do cooperado.
Significa dizer que não existem identidades cooperativistas no plural e sim, apenas uma Identidade Cooperativista, que é o núcleo duro daquilo que faz com que as cooperativas do mundo todo se vejam como co-irmãs.
O que me surpreendeu foi que as cooperativas foram criadas no Brasil, sem um processo de Educação Cooperativista. Criamos as cooperativas, mas não desenvolvemos os cooperativistas. Acredito que este é o desafio do movimento cooperativista brasileiro no século XXI.
Como é o funcionamento dessas cooperativas e de que maneira essa identidade colabora para as marcas e os negócios?
Mensurar é fundamental para planejar. Sem mensuração, não há planejamento. Desde 2021 tenho feito trabalhos de consultoria para a CERTEL no qual estamos remodelando o Balanço Social da Cooperativa, incluindo termos ligado aos 17 ODS e aos princípios cooperativistas.
Sendo os princípios cooperativistas (aplicados em sua plenitude) um legado de gestão cooperativista para cooperativas do mundo todo, o alinhamento aos princípios contribui para a cooperativa não perder a sua Identidade Cooperativista e assim não perder o seu diferencial competitivo, que é: Ser uma Cooperativa!
As cooperativas que exploram esse diferencial competitivo mensuram as suas atividades também de acordo com os princípios do cooperativismo.
Como as cooperativas podem auxiliar no desenvolvimento da identidade cooperativista dos associados e dos cooperados?
O primeiro passo é tratarmos da Indissociabilidade entre Cooperativa e Cooperado. A cooperativa é o seu conjunto de cooperados. Quanto mais os seus cooperados são cooperativistas, mais a cooperativa é cooperativista. Contudo, nós não somos educados pelos valores e princípios cooperativistas, seja na educação, básica, média, superior ou mesmo na pós-graduação. Por isso é papel da cooperativa trabalhar ativamente no 5º Princípio “Educação, Treinamento e Informação” (na melhor tradução do inglês) entendendo que a Educação cooperativista é basilar para o desenvolvimento perene dos cooperados, da cooperativa e da região.
Qual é o segredo das cooperativas mais longevas em termos de identidade cooperativa?
A Identidade Cooperativista está em um cenário de questionamento de uma sociedade estressada por burnout, uma sociedade em que as pessoas ficam em segundo plano e o grande objetivo é bater as metas e gerar mais capital. É claro que as pessoas buscam recursos financeiros, mas esta é uma dimensão da vida das pessoas, as organizações que estão tendo sucessos expressivos contribuem para que os envolvidos possam ter qualidade em seu dia a dia, equilibrando as várias dimensões de sua vida.
Qual é a importância da sua pesquisa e dos resultados para a melhora das cooperativas?
A Identidade Cooperativista é fundamental para que as Cooperativas possam gerar melhores resultados para os seus cooperados. Pode parecer paradoxal, mas contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos cooperados é o que faz as cooperativas serem perenes, em uma lógica de desenvolvimento sustentável e sustentado.
Infelizmente ainda existem cooperativas que têm vergonha de ser cooperativa. Gestores formados para perseguir o lucro, gerenciando cooperativas. As cooperativas são o presente e o futuro de sociedades mais equilibradas, desenvolvidas de forma sustentável. O maior diferencial competitivo, que faz e fará as pessoas cada vez mais escolherem as cooperativas (e o conjunto de práticas, ideias, valores e princípios que formam o cooperativismo) é justamente a sua Identidade Cooperativista.
Contudo, se é o desejo de todos os envolvidos criar uma sociedade com equilíbrio pelo menos entre o econômico, o social e o ambiental, a cooperativa é uma das melhores formas organizacionais. Isso quando atua à luz da sua Identidade Cooperativista, ou seja, com respeito aos valores e princípios do cooperativismo.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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