O Banco Central anunciou recentemente que, em outubro de 2024, será lançado o Pix Automático. Dessa maneira, a plataforma de pagamentos instantâneos dará a opção de se fazer diversas transações de forma recorrente e automática, sem precisar validar os dados e autorizar cada operação.
Para Nathan Marion, gerente geral da Yuno, orquestradora global de pagamentos, a novidade tem bastante potencial, com capacidade de ser um dos principais meios de pagamento em 2024. “O Pix movimentou 1,53 trilhão de reais só em setembro deste ano, o que só mostra sua importância no país. Com o Pix Automático, a plataforma ganha um upgrade, pois será uma espécie de débito em conta, permitindo o agendamento de contas de água, luz e telefone, além de serviços diversos como streaming, mensalidades escolares e até parcelamentos de consórcio. Assim, mais produtos serão englobados, movimentando a economia de forma mais geral”, explica.
Com a grande confiança do público em relação ao Pix, a tendência é que a medida em que novas funcionalidades forem surgindo, serão de fácil aceitação por parte de todos. “Vale destacar que somente 40% da população brasileira tem acesso a um cartão de crédito, de acordo com o estudo Beyond Borders 2022/2023. Dessa maneira, essas pessoas que até então viviam à margem das transações online já estão começando a fazer parte desse cenário. Assim, com novas funcionalidades que permitem o agendamento de contas e futuramente o seu parcelamento, a tendência é que o número de adeptos seja cada vez maior”, complementa Marion.
O Pix completou recentemente três anos de existência e, de acordo com o Banco Central, foi o responsável por 36% de todas as transações realizadas no segundo trimestre de 2023 aqui no Brasil. Para se ter uma ideia, esse montante, em números absolutos, representa 3,86 bilhões de operações. “O segredo do seu sucesso é que ele é vantajoso tanto para os consumidores quanto para os lojistas, pois além de praticidade, ainda traz taxas menores e mais segurança contra fraudes, já que o dinheiro cai de forma instantânea na conta do favorecido”, finaliza.
Avanços
Na LiveBC desta segunda-feira (4/12), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falou sobre a função do Banco Central na sociedade, abordando temas como autonomia, Pix, Drex, Open Finance e democratização financeira e fez um breve balanço da Agenda BC#. A conversa foi conduzida pelo Diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do BC, Maurício Moura.
Campos Neto contou, na live, que enxerga o futuro do Sistema Financeiro Brasileiro “mais digital e tokenizado” ao citar os quatro blocos em que a agenda de inovação e tecnologia do BC se baseia: trilho de pagamentos instantâneos (Pix), plataforma de compartilhamento de dados financeiros (Open Finance), internacionalização da moeda e tokenização dos ativos com a criação do real em formato digital, o Drex.
Além disso, mostrou sua visão de futuro para o BC e respondeu a perguntas de quem participou ao vivo da live. Confira abaixo alguns dos destaques do programa, que pode ser conferido na íntegra aqui.
Na live realizada ontem, o BC também destacou outros avanços do sistema financeiro, com destaque para o Drex e a digitalização de múltiplos processos. Veja os destaques.
Autonomia
Para o presidente do BC, conseguir a autonomia da instituição “foi uma grande vitória institucional para o país”. Segundo ele, a atuação da autoridade monetária vai além de mandatos de governo. “A autonomia do BC aproxima o Brasil das boas práticas internacionais e faz com que se consiga separar o ciclo de política monetária do ciclo político. A gente viu isso na passagem de um governo para o outro, em como o BC foi capaz de atuar de forma independente”.
Ele destacou que é a primeira vez que um presidente do BC trabalha com um ministro que não fazia parte da mesma equipe econômica que ele, mas que foi possível avançar com propostas que vão ficar para o futuro. “O BC é um órgão técnico e a autonomia o coloca em outro patamar institucional, inclusive em pé de igualdade com alguns outros bancos centrais que estão mais adiantados”, afirmou.
Agenda BC#
A Agenda BC# reformula o projeto iniciado em 2016 com a Agenda BC+, acrescentando novas dimensões e fortalecendo pilares anteriores. “Além de buscar a queda no custo do crédito, a modernização da lei e a eficiência no sistema, o BC mira a inclusão, a competitividade, sustentabilidade e a transparência”, afirmou. “É uma agenda mais digital, mais tecnológica, de inclusão e de sustentabilidade”.
Open Finance
O Sistema Financeiro Aberto dará mais “liberdade de escolha” por meio do compartilhamento de dados, produtos e serviços financeiros. Ao falar sobre o Open Finance, Campos Neto destacou que o ecossistema vai permitir que as pessoas concentrem dados em diferentes plataformas e comparem os produtos financeiros em tempo real, possibilitando a migração de uma plataforma financeira para outra tendo, assim, produtos sob medida e a preços mais acessíveis: “Os dados já estão trafegando e as pessoas já estão fazendo a comparabilidade de dados e produtos”.
Drex
Real em formato digital, o Drex vai possibilitar às pessoas migrarem do mundo de contas para o mundo tokenizado. Campos Neto destacou que, com ele, novos prestadores de serviços financeiros e novos modelos de negócios surgirão a custos menores. Isso porque os serviços financeiros inteligentes que acontecerem na Plataforma Drex serão automatizados, seguros, programáveis e padronizados. “O Drex vai retirar muito do ruído do processo de compra e venda, principalmente em relação aos ativos mais caros”, afirmou.
Para explicar o uso da moeda digital na prática, ele deu o exemplo da compra e venda de um carro usado. “Você vai até a loja comprar o carro, mas não confia muito na loja e só quer fazer o pagamento quando o documento do veículo estiver no seu nome. Ao mesmo tempo, o dono da loja condiciona a transferência do carro ao pagamento. Com o Drex, esse ruído vai acabar”.
O Drex vai permitir que vários tipos de transações financeiras seguras com ativos digitais e contratos inteligentes estejam à sua disposição. “Esses serviços financeiros inteligentes serão liquidados pelos bancos dentro da Plataforma Drex do Banco Central”, que é um ambiente em desenvolvimento utilizando a tecnologia de registro distribuído (em inglês Distributed Ledger Technology – DLT).
Futuro do sistema financeiro
Perguntado sobre como estará o Sistema Financeiro Brasileiro daqui a cinco anos, Campos Neto disse enxergar no futuro um sistema mais digital e tokenizado, com a criação de produtos e serviços cada vez mais segmentados e o desenvolvimento de marketplaces para portabilidade das soluções.
Será um sistema financeiro “mais competitivo, mais inclusivo e com as pessoas tendo um nível de educação financeira diferenciado, porque elas ficarão acostumadas a equiparar produtos e serviços. Será uma evolução como um todo, mas num nível digital”.
Sustentabilidade
Ao falar de sustentabilidade, Campos Neto defendeu que as autoridades monetárias fiquem de olho no impacto das mudanças climáticas. No Brasil, em especial, de acordo com ele, “a mudança climática está intrinsecamente ligada ao nosso mandato”.
Ele citou como exemplo a correlação de preços de produtos com fenômenos naturais: “Tem ligação com volatilidade de preço de alimentos e faz com que a inflação, que é um mandato do BC, tenha mais volatilidade também”.
Campos Neto também falou do mercado de carbono: “O Brasil e o mundo precisam se envolver e desenvolver esse mercado”. Ainda segundo o presidente do BC, “o Brasil deveria ter papel fundamental na criação e regulação do mercado de carbono, pois temos oportunidade de monetizar a floresta e é importante que o BC esteja inserido nesse tema”.
Balanço
Após quase cinco anos à frente do BC, com mandato até dezembro de 2024, Campos Neto mencionou que “nesses cinco anos fizemos muitas coisas. Injetamos liquidez e capital no sistema financeiro brasileiro, atravessamos uma pandemia, fizemos inúmeros programas com o governo de crédito para atender pequenas, médias e grandes empresas e melhorar a vida das pessoas. Inserimos uma agenda de digitalização bancária que começou no meio da pandemia, fizemos o Pix e temos o Open Finance”.
“E espero ainda ter tempo de fazer novas realizações e de ter, por exemplo, a moeda digital funcionando e ver o sistema financeiro tokenizado, menos analógico e mais digital, até o fim do mandato”, completou.
A maior frustração nesses cinco anos, segundo ele, “é claramente a parte interna, de melhorar a situação do quadro dos funcionários. Ver maior capacidade de reconhecer tudo o que foi feito”. “[Faltou] essa parte de remuneração, gratificação, reconhecimento interno. Eu gostaria de poder ter feito muito mais e ter contribuído mais. Merecimento não falta, sobretudo pelo que foi feito”.
Fim do papel-moeda
Perguntado se o avanço dos serviços digitais, como Pix e Drex, acabariam com o papel-moeda, Campos Neto afirmou que o objetivo do BC é dar mais conforto e segurança aos usuários. A extinção do dinheiro em papel pode ser uma “consequência dessa digitalização”.
Segundo ele, o BC quer fazer um processo mais digital “para ter mais segurança, transparência e agilidade para as pessoas”. “A gente ainda tem uma boa parte da população que paga em papel-moeda. O nosso objetivo não é acabar com o papel-moeda, mas transformar as transações em mais eficientes”, disse.
Fonte: Banco Central e NR7
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