Ter um negócio de sucesso não é uma tarefa fácil e a escritora portuguesa Ana Cristina Rosa sentiu essa dificuldade na pele. Por conta dos obstáculos vivenciados durante a sua trajetória de líder de sucesso e mentora de mais de 1500 empreendimentos, a autora resolveu lançar o livro “Empreender Sem Desculpas”, título lançado pela DVS Editora em Portugal e no Brasil.
A escritora é uma referência em Portugal quando o assunto é ajudar pessoas a viver financeiramente das suas paixões e transformá-las num negócio. Em 2011, ela fundou a Nova Vita, empresa onde tem orientado centenas de pessoas a desbravar o mundo do empreendedorismo. Em 2019, criou a 1ª Certificação em Instrução Online em Portugal e, desde então, deu valiosa contribuição para uma nova geração de empreendedores. É frequentemente convidada para ministrar palestras nacionais e internacionais sobre empreendedorismo digital.
Um dos motivos que a motivou a escrever Empreender Sem Desculpas para desromantizar o processo de construir o próprio negócio. “Viver na corda bamba sem saber quanto vai ganhar no mês, conviver com as inseguranças são alguns dos desafios enfrentados por quem se envolve no mundo do empreendedorismo”, conta.
Para superar estes obstáculos é necessário manter o foco, vencer a síndrome do impostor, assumir a posição de líder e entender a montanha russa do universo empresarial. “Passei a viver com duas vozes dentro de mim. Uma dizia-me que algo tinha de mudar, e eu tinha muito mais para dar ao mundo. A outra que eu era uma ingrata, e que tinha de agradecer a vida. Qual delas seria a certa? A qual deveria dar ouvidos?”, lembra.
Entrevistamos a autora que dá dicas de como as cooperativas, os cooperados e o associados podem ter sucesso no universo dos negócios
Por que o livro se chama “Empreender Sem Desculpas”?
Ao longo destes anos, percebi que a maior parte das pessoas (e eu própria, passei por isso), usam desculpas para não fazer acontecer. Quando você se coloca em ação, mesmo sem saber tudo, está um passo mais perto de ter resultados diferentes e de transformar na sua vida.
E é isso que muitas pessoas não entendem. Precisamos fazer acontecer, sem desculpas, mesmo com medo muitas vezes!
Muitos cooperados deixam de empreender por desculpas? Quais são as mais comuns?
Aqui poderia abordar uma série de desculpas, mas vou focar naquelas mais frequentes. Em primeiro lugar, a nossa maior barreia para não fazer algo, na maior parte dos casos, diria 90%, é a nossa mente.
Desenvolvemos uma série de crenças que nos levam a acreditar que tudo o que é “bom”, só pode acontecer aos outros.
Estas são algumas das desculpas mais usadas: “Não sou capaz”, “Não tenho as condições perfeitas reunidas”, “Não tenho nada para ensinar”, “Ninguém me vai pagar por isto”, etc.
Elas não passam de crenças limitadoras, que precisam ser trabalhadas para conseguirmos criar uma vida com as condições que desejamos para nós. Todos temos algo para partilhar e cada dia aparecem novas ideias de negócios. Basta estares um degrau à frente e já pode ensinar algo a outras pessoas. As pessoas esquecem de que o mais fácil para elas, não é para as outras pessoas. Por isso, eu não tenho dúvidas de que todos podem empreender. Será que as pessoas estão dispostas a deixar as desculpas de lado e a fazer acontecer?
Cabe a cada pessoa colocar na balança qual é que é mais importante: Uma vida na zona de conforto, mas sem realização profissional, pessoal e liberdade ou uma vida onde têm propósito, tempo e dinheiro para desfrutarem e viverem os dias com quem mais amam. É uma escolha que acarreta responsabilidade e muito compromisso. Mas, no meu caso, não me via fazendo outra coisa! Como digo no meu livro “Empreender Sem Desculpas”, são os empreendedores que enchem os livros de histórias.
Quando escreveu?
Posso explicar, que ao longo da minha jornada como empreendedora fui percebendo que muitas pessoas romantizam o empreendedorismo, abordando apenas as partes boas de ter um negócio próprio. A realidade é bem diferente e quando nós, empreendedores, não partilhamos isso de forma clara. As pessoas que entram neste mundo sentem-se frustradas porque não encontram o “mar de rosas” que lhes foi pintado. Há já alguns anos que estou pensando em escrever este livro, com o propósito de mostrar as pessoas as partes boas e más do empreendedorismo. Comecei em 2021, sempre que tinha tempo e de forma muito leve, ia escrevendo algumas linhas ao final do dia.
Quais foram os maiores desafios do tema?
O meu livro “Empreender sem desculpas” é o culminar de mais de uma década de experiência, onde já lidei com milhares de empreendedores. Muitos deles têm as mesmas crenças limitantes que eu já tive. Os desafios foram muitos, no meu livro “Empreender Sem Desculpas”. No entanto, se pudesse escolher um desafio, realço o fato de ter feito tudo sozinha. A minha essência empreendedora fez com que quisesse desbravar todo o caminho. A maioria dos empreendedores que acompanho cai nesse erro, que hoje vejo que como desnecessário e um atraso da minha evolução. É fundamental nos rodearmos de pessoas que estão passando por desafios semelhantes aos nossos.
O que indicaria para os cooperados que enfrentam essa situação?
Eu acredito que muitos empreendedores esperam saber “TUDO” para começar, mas isso nunca vai acontecer. Eu diria que o primeiro passo da receita é COMEÇAR. O segundo é procurar rodear-se de outros empreendedores, juntar-se a comunidades, grupos de networking onde possa partilhar experiências e trocar ideias. O terceiro é aprender sempre mais, procurar mentores de excelência no seu país e no estrangeiro, inspirar-se nessas pessoas e absorver tudo o que ele tem para ensinar. Quarto passo, é ousar, inovar, experimentar, e estar preparado para o fracassar quantas vezes forem necessárias. Se eu tivesse que dar uma receita para “Empreender com Sucesso” diria que os ingredientes principais são: Paixão, consistência, mudança e Fazer sem desculpas.
Se puder contar uma história que ilustra o tema do livro.
Posso contar de um episódio em que percorri mais de 120 quilómetros e ninguém apareceu para o meu Dia aberto de Sessões de Coaching. Tinha conseguido cinco marcações para uma sessão gratuita, onde ia apresentar os meus serviços de Sessões Motivacionais. Tinha-me levantado às sete horas da manhã, conduzido cerca de uma hora para chegar ao espaço onde ia dar as sessões. Na parte da manhã, das duas marcações que tinha, ninguém apareceu. Após o almoço, a situação repetiu-se. Lembro-me de voltar para casa nesse dia e ter feito o caminho todo chorando. Tinha ali todas as razões, e mais alguma para desistir do meu negócio que mal tinha começado. Mas, em vez disso, esta história foi apenas o início da minha jornada como empreendedora com altos e baixos. Devemos sempre lembrar-nos de que nunca vai correr tudo bem. Principalmente em uma fase inicial. O Importante é continuar o caminho, ser consistente, agarrar-nos à nossa paixão.
Como podemos levar esse tema para as cooperativas?
Eu não sou do género de romantizar o empreendedorismo, e de que este é o caminho para todos os problemas trabalhistas atuais. O meu livro “Empreender sem desculpas” foi precisamente escrito com o propósito de ajudar a quem deseja se aventurar no mundo dos negócios a identificar os principais medos que rondam os seus sonhos e oferecer respostas e caminhos a seguir. Embora o empreendedorismo sempre tenha feito parte do meu DNA, tenho conhecido muitas pessoas que preferem um trabalho por conta a um salário fixo. Temos muitos empregados com espírito empreendedor, que são uma mais-valia nas organizações, e que se sentem motivados e reconhecidos dando um contributo enorme para o crescimento dos negócios. Por isso o que defendo, não é que todo o mundo se torne empreendedor, vão sempre existir diferentes perfis de pessoas. O que vejo como um caminho é os patrões valorizarem os seus recursos humanos aproveitando os melhores talentos de cada um. Teremos assim pessoas felizes e realizadas quer sejam empregados ou empreendedoras.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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