Indiscutivelmente o cooperativismo de crédito tem avançado de forma significativa no sistema financeiro nacional. E, em sua grande maioria, de forma transformadora nas comunidades onde atua.
Mesmo assim, ainda há muito espaço para o setor levar suas finanças éticas e seu jeito singular de propriedade democratizada.
Onde o cerne das decisões se baseia nas pessoas e não no capital, onde a inclusão e a sustentabilidade se confundem com sua própria história e princípios e são indissociáveis de sua estratégia e modelo de negócio.
Segundo dados do BC, em 2007, registramos o maior número de CC no país, 1.427 singulares. Passados 10 anos, em 2017, havia menos de mil, precisamente, 986. Em dezembro de 2022, registrava-se 800 CC singulares no Brasil. Em junho deste ano, 786.
Apesar de aparentemente estranho, a redução das CC não significa necessariamente a redução do cooperativismo de crédito. Por vezes, é exatamente o contrário!
Nos últimos 10 anos os ativos saltaram de R$ 100 bi, para quase R$ 600 bi. O número de agências saiu de 5 mil para quase 10 mil (somente em 2022, foram inauguradas em média 88 agências a cada mês). Cooperados partiu de 6 milhões e hoje ultrapassa 17 milhões.
E assim como no Brasil, esse ‘fenômeno’ de ajuste/acomodação de estruturas, também faz parte da história do cooperativismo de crédito de outros países, representando um pouco dessa jornada natural do processo de maturidade, expansão, racionalidade e eficiência.
Contudo, chama atenção o comportamento do setor pós-pandemia.
Conforme apresenta o gráfico, uma taxa maior da Selic produzia, de certa forma, algum efeito de queda no ritmo de redução de singulares. Já uma taxa menor da Selic, produzia efeito inverso, ou seja, uma elevação no ritmo de redução de singulares.
Talvez a Selic até não seja o fator principal e determinante do processo de queda e elevação no ritmo da redução das singulares. Mas é inegável que com uma taxa de operação pressionada para baixo, as margens de atuação se comprimam e cooperativas com baixa eficiência e/ou escala podem acabar sofrendo severos efeitos desta situação.
O fato é que após 2019 (média mensal de redução = 4,33) com toda a insegurança que a pandemia trouxe, aquela máxima do trânsito, de que ‘na dúvida, não ultrapasse’, parece que foi a tônica do setor para a queda do ritmo de redução de singulares. Mesmo com Selic em queda, em 2020 a média mensal apresentou 2,83.
O curioso é que em 21 e 22 a Selic se acentuou bastante, mesmo assim, a média mensal de redução de singulares apresentou 2,17 e 2 respectivamente. Portanto, bem abaixo dos 4,33 de 2019. Sendo que até junho deste ano a média se apresenta em 2,33. Mantendo o comportamento ‘pós-pandemia’ e contrariando o comportamento anterior de 2012 a 2019, onde a redução média mensal ficava na faixa entre 3 e 5.
Ou seja, antes da pandemia, parecia haver uma correlação mais forte entre o aumento da Selic e a queda na redução das singulares (comportamento de 2012 até 2016) e o aumento da redução das singulares com a queda da Selic (2017 até 2019).
Esse comportamento não se apresentou em 2020, talvez pelos efeitos da pandemia, inclusive pela relevância da atuação local das cooperativas naquele momento de grandes incertezas.
Já em 2021 e 2022 o comportamento volta a aparecer (aumento da Selic, queda na redução das singulares), embora, em um novo patamar de intensidade (abaixo de 3).
Com isso, talvez tenhamos um novo paradigma a ser interpretado.
Será que estamos chegando muito perto do número de singulares ideal para o atendimento no país, com potencial de expansão, escala e eficiência, promovendo os valores do cooperativismo e materializando o seu propósito de prosperidade coletiva e compartilhada?
Será que há um comportamento represado de incorporações, postergado pelos efeitos da insegurança surgida com a pandemia e com a sequencial elevação da Selic?
Será que independente da Selic o novo comportamento de ajuste de estruturas das CC será este?
Ou Será que com a redução da Selic prevista para os próximos anos (Focus projetada no gráfico) haverá um comportamento de intensidade igual ao período antes da pandemia?
Enfim, como em tantas outras situações, parece que algumas respostas acabarão vindo na sela do tempo. A expectativa que fica, é que o tempo traga sempre, a nossa melhor versão.
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