Já na entrada do 9º Coplacampo, uma das maiores feiras do agronegócio do Brasil, realizada em Piracicaba (SP) nesta semana, o visitante se depara com a imponência de um pulverizador com barras de 32 metros de largura, indicado para propriedades de 500 a 600 hectares. Com exceção das dimensões, trata-se de um maquinário com o qual o produtor rural já está acostumado. Mas quem visitou alguns dos 111 estandes se deparou com recursos de última geração que não costumam ser associadas a este setor.
A utilização de aplicativos para controle de máquinas de maneira remota, sistema blockchain para proteção de dados, nuvem para armazenar relatórios de lavoura, GPS para trabalhos noturnos, drones de pulverização e realidade virtual para simular etapas de produção estão entre as tecnologias que já são realidade no campo e foram apresentadas no evento, o maior da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacampo).
Se você já passou por uma grande plantação deve ter reparado em grandes estruturas metálicas utilizadas para irrigação das culturas cultivadas. Ela se chama pivô e uma das novidades apresentadas por uma das empresas na feira foi um aplicativo que permite controlá-los de maneira remota, armazenar os dados de sua operação em nuvem e até oferece recomendações sobre as próximas ações a realizar na lavoura. Além do controle a distância, uma solução para economia de água e energia.
“Você faz tudo por celular, tablet, smartphone, computador. Ele [aplicativo] vai conectar seu pivô na nuvem e os dados que estão na nuvem vão controlar esse pivô. Você vai programar, vai gerenciar, vai ter alertas, relatórios, toda essa parte de gestão de uso, consumo”, explica Rodrigo Bernardi, representante técnico de vendas Lindsay.
“E a gente tem um upgrade, que é o [aplicativo] FieldNet Advisor. O próprio aplicativo vai te recomendar quando aplicar, quanto aplicar e onde aplicar dentro do pivô”, acrescenta.
O app mostra que horas o equipamento foi ligado, quanto de água foi utilizado e também envia alertas quando há problemas na operação, como falta de energia e desalinhamento do pivô. Já os planejamentos são realizados com base em dados de estação meteorológica, histórico de chuva da região e o próprio sensor de chuva do equipamento, entre outros fatores.
Já a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) trouxe para o evento dois aplicativos para gestão da safra.
“Um é de monitoramento de safras, em que o produtor pode analisar safras passadas, principalmente de cana. Porque a cana passa por ciclos, ela é cortada, cresce de novo, e a produtividade vai caindo, até que não compensa mais deixar e crescer e faz uma reforma, que é plantar uma soja, fazer uma rotação”, explica o bolsista na Embrapa Caio Simplício Arantes. Já outro app traz uma estimativa da produtividade, com a quantidade de toneladas por hectare.
Além disso, a empresa pública apresentou um QR Code criado através de um sistema de blockchain, que é um banco de dados avançado que permite o compartilhamento transparente de informações. O QR Code foi implantado em um pacote de açúcar mascavo, que é o primeiro no Brasil com esta tecnologia, e permite acesso a informações sobre o produto.
O próprio produtor visitante do evento também teve a oportunidade de utilizar a inovação a favor de seu negócio durante a feira. Logo na entrada, ele tinha a opção de percorrer um labirinto sensorial, no qual recebia informações sobre o que é e para que servem cada um dos recursos mais recentes no agronegócios, como os insumos biológicos, drones, inteligência artificial e internet das coisas.
“Eu tenho que pegar também e conversar com meu cooperado, fazer ele passar por esse ambiente aqui e falar: ‘quais são os temas importantes que você acha de inovação para o seu negócio?’ […] O produtor vem e fala: ‘eu queria pulverizar minha lavoura, mas eu não consegui porque choveu muito e se eu entrar com trator vai atolar meu trator na roça’. Então você precisa de uma pulverização aérea e um drone pode ser uma solução”, explica o superintendente de inovação da Avance, Hub de inovação da Coplacana.
Já na área de pecuária, o visitante tinha a oportunidade, por meio de um óculos de realidade virtual, observar diferentes processos de produção em uma granja.
Diretor de negócios da Coplacana e organizador do evento, Roberto Rossi aponta que as principais mudanças do setor e maior adesão à tecnologia foram consequências do aumento da demanda por produtividade e eficiência e por mais sustentabilidade na cadeia de produção.
“Duas coisas muito importantes aconteceram: uma adesão maior dos insumos biológicos por ter avançado na tecnologia e porque o mundo pedia isso [maior sustentabilidade] e também a tecnologia, por exemplo, pelo uso de drones, de agricultura de precisão […] A produtividade não era boa e a gente tinha desperdício”.
“Quando entra a de precisão, a gente passa a olhar porções de áreas menores, colocar exatamente o que a planta e o sistema precisa. Então, [temos] a agricultura de precisão, a tecnologia, os drones, os equipamentos agrícolas com GPS, com os quais conseguimos operar à noite, aumentando a eficiência”, elenca.
Os insumos biológicos são um dos maiores investimentos do agro, atualmente, quando o assunto é sustentabilidade. Eles podem ser fungos, bactérias ou vírus que combatem grandes pragas das lavouras, que podem ser outros fungos, ervas daninhas e outros vírus, para trazer um equilíbrio da fauna do ecossistema.
“A gente tinha muito pouca oferta de insumos biológicos dez anos atrás e por que isso acontecia? Tinha um tempo de prateleira muito curto. Eu precisava, naquela época, ter um refrigerador. Qualquer descarga de energia eu perdia todo esse material vivo que ficava congelado. E com o passar do tempo a tecnologia avançou muito. Esses insumos biológicos hoje são in natura e são armazenados na temperatura ambiente e eu consigo colocar na prateleira de seis meses até um ano”, explica Rossi.
Para o diretor de negócios da cooperativa, toda a reinvenção do setor a partir dos avanços tecnológicos também se trata de uma previsão do protagonismo do Brasil na geração de alimentos nos próximos anos.
“Ter uma agricultura produtiva e eficiente é questão de sobrevivência. E a gente vai ter muito provavelmente até 2050, mais de 10 bilhões de pessoas no mundo. E de onde virá esse alimento? Muito provavelmente, uma boa parte do Brasil”.
A expectativa do evento era atrair 8 mil pessoas nesta edição, mas recebeu 9,5 mil pessoas. A estimativa também é de que foi atingida a meta de R$ 500 milhões em negócios realizados no evento. No próximo ano, entre as novidades avaliadas é agregar o setor industrial entre os expositores.
Fonte: G1
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