Após recuar em 2022, a agronegócio deve voltar a crescer e a ser o motor, talvez o único, da economia em 2023. O Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), estima que o PIB do setor avançará 8% neste ano, depois de encolher 2% em 2022.
Se o número se confirmar, será o maior crescimento do setor desde 2017, quando a alta foi de 14,20%. Já o Santander, que prevê queda de 0,30% para este ano, projeta um aumento de 7,50% para o próximo.
Parte do resultado positivo estimado para 2023 será apenas efeito da comparação com um 2022 fraco, indicam os economistas. Por outro lado, a safra esperada para este ano deve ser recorde, o que justifica uma projeção otimista.
Dados de prognóstico de produção agrícola do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a safra de grãos, cereais e leguminosas deve totalizar 293.6 milhões de toneladas em 2023, o que significará uma alta de 11,80% em relação a 2022.
Para o Ibre, o setor será o único a crescer de forma expressiva neste ano, quando o PIB do País deve ficar praticamente estagnado.
“Nossa projeção de PIB está abaixo do mercado. Tem casas que apontam 1%. Nós estamos com 0,2%, isso com o agro, que é 10% do PIB, avançando 8%. Então projetamos uma queda pesada da atividade em geral”, disse Marina Garrido, economista do Ibre.
Safra
A alavanca da economia, portanto, deverá ser principalmente a soja e o milho. O economista Gabriel Couto, do Santander, indica que a safra de milho de 2021 esteve comprometida pela seca e que, em 2022, o problema foi com a soja. A expectativa agora, segundo ele, é ter safras boas de soja e de milho. “Se tivermos a safra de soja cheia, que é o que esperamos, isso impulsionará o PIB agrícola.”
Para Couto, o Santander não espera que a desaceleração global prevista para 2023 tenha, por ora, impacto no resultado do agronegócio brasileiro. “Não estamos vendo o produtor tirando o pé do acelerador. Ainda que ele resolva estocar grãos, a produção estará lá. O impacto do desaquecimento da economia global tende a ser no médio prazo.”
Presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho disse que, como os produtores conseguiram plantar soja e milho na época correta, a tendência é que a colheita de 2023 seja boa e que o Valor Bruto da Produção (VBP) cresça pelo menos 5%, ficando acima de R$ 1.3 trilhão. Além da soja e do milho, ele destacou que as produções de cana-de-açúcar, frutas e hortaliças estão indo bem.
Clima
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antônio Galvan, porém, afirma que as previsões dos economistas são feitas seguindo a lógica de que o clima vai favorecer a produção, o que não ocorreu nos últimos anos.
“Ter uma safra recorde, como se espera, é questão exclusiva de clima. Temos condições técnicas de fazer essa safra anunciada, só que é cedo para dizer que ela será realidade. Nos últimos anos, enfrentamos problemas de clima e tivemos perdas grandes.”
Segundo Couto, a estimativa que se fazia em 2021 para o setor agrícola em 2022 era de um aumento superior a 5%. Na medida em que os meses foram passando, o número foi sendo revisto para baixo, até chegar à atual retração de 0,30%.
Ele pondera, no entanto, que as secas que prejudicaram o setor nos últimos dois anos podem estar relacionadas ao fenômeno La Niña, que deve perder força a partir do segundo trimestre de 2023.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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