Cuidar é um dos verbos mais importantes do vocabulário dos seres humanos, gerando benefícios a quem recebe o cuidado e também para quem pratica tão virtuoso gesto. Essa consciência é uma conquista especialmente de quem já atingiu a maturidade da vida, que sabe a grandeza da presença, da empatia, do olhar ao próximo e do compartilhamento, desde o mais simples sorrido, um carinho, o ombro de apoio, uma palavra de esperança e até um recurso material. Vale tudo quando se pratica o bem, quando se ajuda a multiplicar os elos da corrente da generosidade, que pode modificar o mundo para melhor.
Segundo dados da Pesquisa Voluntariado no Brasil (ano 2021, divulgada em abril de 2022), o percentual de pessoas com mais de 50 anos que realiza trabalhos voluntários cresceu de 26% para 37% nos últimos 10 anos. Porém, especialistas da longevidade e consultores de responsabilidade socioambiental no país indicam que esse índice deve ser ainda maior, de forma especial depois dos desafios sociais causados pela pandemia e também porque o voluntariado costuma ser um ato sem holofotes, sem registros oficiais. A pesquisa está na sua terceira edição e foi organizada pelo IDS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), em conjunto com o DataFolha, num trabalho realizado a cada 10 anos, para a formulação de um retrato do engajamento do brasileiro que pratica o voluntariado. Os objetivos do levantamento são mensurar o universo de voluntários a nível nacional, identificar a disposição dos diversos públicos e as principais formas de participação, nas mais variadas frentes de colaboração.
A pesquisa também trouxe instigantes resultados sobre o novo entendimento da população diante das ações de solidariedade. Entre as relevantes percepções destaca-se o fato de que os brasileiros acreditam que as pessoas podem e devem se envolver cada vez mais com as questões sociais, ampliando sua participação e exercendo seus deveres enquanto cidadãos. Além disso, os brasileiros discordam que o voluntariado é uma atividade somente para ricos e ociosos, ao mesmo tempo que não acreditam na desobrigação do engajamento só pelo fato da causa ser de responsabilidade dos governos e governantes. Por fim, vale salientar que a imensa maioria dos entrevistados (91%) concorda que ser voluntário é um processo transformador, que traz inspiração para ser uma pessoa melhor.
Bruno Barcelos Morais, especialista em sustentabilidade, investimento social privado e voluntariado, destaca a importância da pesquisa realizada pelo IDIS e afirma que existe um cenário de precariedade e desigualdades sociais que demanda aquilo que os 60+ podem dar de melhor: a atenção, a partilha de trabalho e talentos qualificados por meio de ações voluntárias para causas diversas. “O voluntariado é uma alternativa cheia de valor tanto para aqueles que desejam manter-se ativos profissionalmente após a aposentadoria, quanto para aqueles que querem apenas realizar atividades esporádicas em tempo limitado”. O consultor lembra ainda que o voluntariado na terceira idade ressignifica a antiga discussão de que as pessoas são “velhas demais” para isso ou para aquilo. “O aumento da expectativa de vida e da vitalidade das pessoas 60+ está evidente. Para fazer o bem não será diferente. Não há idade para a solidariedade”.
Mudança do perfil do voluntariado brasileiro por idade
Promoção do bem
Voluntariado é uma atividade realizada por vontade própria, de forma individual, em grupo, associado a ONGs (Organizações não governamentais), empresas privadas ou órgãos públicos. Suas principais premissas são:
- a existência de uma causa social por trás do trabalho;
- o objetivo de fazer atividades que promovam o bem-estar de pessoas, de animais e para o meio ambiente;
- a ausência de remuneração.
A data de 28 de agosto é importante no calendário brasileiro. Trata-se do Dia Nacional do Voluntariado, instituído pela Lei nº 7.352, de 1985. É uma data especialmente dedicada a reconhecer e destacar o trabalho de pessoas que, motivadas por valores de participação e solidariedade, doam seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada para causas de interesse social e comunitário.
Motivações e benefícios
A MGN, empresa especializada em gestão de projetos para transformação social, também realizou uma pesquisa sobre a solidariedade na terceira idade, em conjunto com a ONG Parceiros Voluntários. O trabalho revela as principais motivações e benefícios percebidos de pessoas idosas que atuam como voluntárias:
- Conquistar espaços para aplicar sua experiência em novos contextos.
- Aprender com novos conhecimentos e novas habilidades por meio de experiências diretas e práticas, com destaque para os benefícios de conseguir lidar com a diversidade.
- Aumentar a autoestima, sentindo-se necessárias e de bem em relação a si mesmas.
- Colocar em prática seus valores pessoais, como a importância de ajudar os outros, a preocupação dos públicos vulneráveis e o sentimento de compaixão por aqueles que passam por necessidades.
- Ampliar a socialização, com novas amizades de interesses comuns.
- Combater a solidão e a depressão, com o bem-estar físico e mental gerado por fazer o bem.
- Desenvolver uma rede de suporte e ajuda mútua.
Conteúdo exclusivo publicado na Revista MundoCoop edição 109
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