No evento do Comité Económico e Social Europeu (CESE) intitulado “Cooperativas a construir um mundo melhor: a contribuição do CESE para o Ano Internacional das Cooperativas”, Jeroen Douglas, Diretor-Geral da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), fez um apelo à transformação económica sistémica.
Sua intervenção, enquadrada pela adoção pelo CESE do parecer CCMI/242 sobre Cooperativas Industriais, do qual Giuseppe Guerini, Presidente da Cooperatives Europe, é o co-relator, posicionou as cooperativas não como um modelo complementar, mas como um elemento fundamental para uma economia resiliente e preparada para o futuro.
O Sr. Douglas começou por sublinhar a urgência de uma mudança nos sistemas económicos, enfatizando que o momento atual, marcado pela instabilidade climática, pela fragmentação geopolítica e pelo aumento das desigualdades, exige mais do que uma reforma incremental. As cooperativas oferecem precisamente o tipo de alternativa estrutural necessária, afirmou, uma vez que são democráticas, enraizadas na comunidade e capazes de criar valor a longo prazo. Descreveu as cooperativas como um “plano de ação” e apresentou o quadro estratégico da ACI, construído em torno de 15 pontos de ação para uma economia global alicerçada na sustentabilidade e na inclusão.
Um tema central de sua intervenção foi a capacidade do movimento cooperativo de lidar com crises globais interligadas, particularmente nas áreas de clima, energia e sistemas alimentares. O Sr. Douglas destacou a crescente importância de soluções energéticas democráticas e modelos de energias renováveis de propriedade da comunidade, atores capazes não apenas de acelerar a transição verde, mas também de garantir que os benefícios permaneçam ancorados localmente. Ele também enfatizou a crescente relevância das cooperativas de saúde e assistência social, apontando para sua comprovada capacidade de salvaguardar o acesso, a qualidade e a acessibilidade em sistemas de saúde cada vez mais sobrecarregados. A inclusão financeira teve destaque nas observações de Douglas. Ele observou que os bancos cooperativos e as cooperativas de crédito continuam sendo essenciais para expandir o acesso ao financiamento, especialmente para populações carentes e pequenas e médias empresas (PMEs). É importante ressaltar que ele argumentou que as cooperativas não buscam subsídios, mas sim exigem igualdade de condições em reconhecimento às suas estruturas de governança únicas e às suas contribuições para o bem público.
Ele defendeu um maior reconhecimento político a nível da UE, instando os legisladores a refletirem a natureza distinta das cooperativas na legislação societária e nos quadros regulamentares. O acesso ao financiamento foi outra prioridade fundamental: incentivou a UE a garantir que as cooperativas possam beneficiar plenamente dos instrumentos de transição verde e justa, bem como de outros mecanismos de financiamento relevantes.
Expandindo a conversa para além da Europa, o Sr. Douglas chamou a atenção para o papel que as cooperativas podem desempenhar nos países em desenvolvimento. Ele identificou o Global Gateway da UE como uma oportunidade estratégica para aproveitar o potencial das cooperativas na construção de economias locais resilientes, particularmente em regiões onde a democracia econômica ainda está em desenvolvimento. Para tornar isso possível, ele defendeu um diálogo estruturado e permanente entre as instituições da UE e a Cooperatives Europe, chamando-a de “parceira confiável” na concepção e implementação de políticas inclusivas para as cooperativas.
Sua intervenção serviu, em última análise, como um lembrete de que as cooperativas não são atores periféricos, mas componentes integrais de uma arquitetura econômica sustentável. Sua mensagem repercutiu amplamente na narrativa mais ampla do evento: a de que competitividade e responsabilidade social não são objetivos opostos, mas pilares que se reforçam mutuamente, e que as cooperativas estão singularmente capacitadas para conciliá-los.
Em nome da Aliança Cooperativa Internacional, Jeroen Douglas defendeu três ações concretas.
- Reconhecimento de Políticas: Exortar a União Europeia a reconhecer plenamente a natureza singular do modelo empresarial cooperativo em sua legislação societária e em seus marcos regulatórios. A UE deve ir além da visão das cooperativas como simples PMEs e reconhecer sua capacidade como atores econômicos de grande escala, governados democraticamente.
- Acesso a Fundos: Garantir que as cooperativas, especialmente aquelas focadas na Transição Verde e Justa, tenham acesso justo e direto aos mecanismos de financiamento relevantes da UE. Elas são os veículos ideais para assegurar que o investimento da UE tenha o máximo impacto local. Um acesso justo também ao financiamento do Global Gateway, com um fundo dedicado a investir em cooperativas em países em desenvolvimento.
- Parceria Estratégica: Aprofundar o diálogo estrutural entre a ACI e seu escritório regional, a Cooperatives Europe, e os setores da ACI, com a Organização Internacional do Trabalho e as instituições da UE.
Ele concluiu afirmando que a ICA estava pronta para ser a parceira mais confiável na concretização das ambições do Pacto Ecológico Europeu, do Pilar Social e de uma economia europeia resiliente e competitiva.
Outros oradores no painel incluíram representantes da OIT, da OCDE e da DG GROW.
Em sua intervenção, Carlien van Empel, Diretora do Escritório da OIT para a UE e o Benelux, enfatizou que o parecer CCMI/242 do CESE reflete com precisão a essência das cooperativas industriais e seu papel na economia atual. Ela destacou que as cooperativas contribuem muito além da produção de bens e serviços: elas constroem cadeias de suprimentos inclusivas, oferecem empregos de qualidade e reforçam tanto a resiliência quanto a governança democrática. Van Empel ressaltou que as cooperativas não devem ser vistas como um modelo “alternativo”, mas como uma abordagem econômica distinta, enraizada no mutualismo, na solidariedade e na cooperação. Nos setores de manufatura, produção digital e processamento, as cooperativas demonstram uma capacidade notável de manter o emprego e a estabilidade, mesmo em condições econômicas difíceis. Inserida no contexto mais amplo da economia social e solidária, elas garantem que o valor seja reinvestido localmente, fortalecendo as comunidades. Ela argumentou que as cooperativas industriais são fundamentais para alcançar uma competitividade inclusiva e sustentável, uma área em que a Europa pode liderar devido às suas fortes tradições em desenvolvimento econômico baseado em direitos e distribuição justa de valor. Van Empel reafirmou a parceria estratégica da OIT com a ACI e destacou normas internacionais do trabalho fundamentais, em especial a Recomendação 193, que apela a ambientes favoráveis, capacitação e acesso ao financiamento.
Em suas observações, o Dr. Joachim Schwerin, Economista Principal da Unidade de Conduta Empresarial Responsável da Direção-Geral do Mercado Interno, Indústria, Empreendedorismo e PMEs (DG GROW) da Comissão Europeia, sublinhou que a discussão sobre cooperativas vai muito além do Ano Internacional das Cooperativas, observando que o parecer do CESE oferece uma avaliação excelente e com visão de futuro. Ele enfatizou que os princípios cooperativos estão enraizados no que chamou de “DNA da humanidade”, valores que moldaram as sociedades ao longo da história. Para Schwerin, a importância das cooperativas reside não apenas no que fazem, mas em como operam: por meio da participação democrática, da governança de baixo para cima e da tomada de decisões inclusiva. Essas práticas, argumentou ele, exemplificam a democracia em ação, que não pode ser alcançada apenas por meio de instruções formais, mas deve ser vivenciada por meio da conduta e de valores compartilhados. Schwerin destacou a relevância das cooperativas nos setores industrial e financeiro, observando sua longa tradição intelectual e prática na Europa. Ele relacionou o pensamento cooperativo aos desafios contemporâneos, particularmente a digitalização da economia. Curiosamente, ele observou paralelos entre os princípios cooperativos e os mecanismos emergentes no mercado de criptoativos, como a transferência descentralizada de valor e a votação on-chain, ao mesmo tempo que alertou para as distorções introduzidas por grandes corporações de tecnologia. A educação, enfatizou, é essencial para fortalecer a cultura cooperativa, defendendo iniciativas em larga escala que incluam organizações sociais e cooperativas. Schwerin concluiu instando a um esforço renovado para fortalecer a imagem pública das cooperativas e promovê-las como modelos de negócios sustentáveis e resilientes para o futuro da Europa.
O Sr. Séamus Boland, Presidente do CESE, concluiu o debate afirmando que as cooperativas comprovam que a competitividade e a responsabilidade social não são objetivos opostos!
Fonte: Aliança Cooperativa Internacional com adaptações da MundoCoop












