O agro está em constante desenvolvimento. Sendo uma das grandes potências do Brasil, o setor a cada ano busca novas formas de produzir mais e melhor, com menor impacto ao meio ambiente.
Para que a segurança alimentar seja garantida, alcançar novos níveis de produção é fundamental. De olho neste objetivo, profissionais de diversas áreas estão olhando de novos modos para o setor, buscando soluções em players que vão além do setor agro.
Porém, mesmo com novas técnicas já sendo adotadas de forma ampla, velhos desafios ainda seguem presentes, como processos burocráticos e regulamentações que o pequeno produtor ainda busca.
Como garantir um agro forte e alinhado com valores universais de sustentabilidade e responsabilidade social e ambiental?
Para entender melhor sobre o desenvolvimento do setor e suas principais tendências e desafios, a MundoCoop conversou com o diretor Comercial e de Soluções Agro da Wiz Concept, Afonso Oliveira.
Confira na íntegra!
MundoCoop: Nos últimos anos o agronegócio passou por diversas mudanças, adotando novas ferramentas e processos. Quais as principais tendências que foram abraçadas pelo setor na última década? Como elas transformaram a forma como o agronegócio atua?
Uma grande revolução nesse sentido foram as adoções de inteligências de dados a partir de novas tecnologias e capacidades de processamentos. Isso revolucionou o manejo, eficiência (tanto produtiva, quanto financeira) e de governança para Bancos e Seguradoras, possibilitando mais investimentos ao setor.
Hoje temos sensoriamento remoto, uso de imagens de satélite quase que em tempo real, grande janela histórica, modelagens futuras, acesso a bases de dados em fontes diversas, públicas e privadas. É outro Agro e o Brasil não ficou para trás, está entre os protagonistas mundiais.
MundoCoop: O ESG tem sido um tema de vasta discussão no mercado. Para o agronegócio, por que é importante ficar atento a essa agenda? Que ferramentas podem ajudar o produtor rural a conduzir um trabalho conectado com a agenda ESG?
Sim, é uma agenda muito importante, temos ganhos em sustentabilidade, rastreabilidade, nos torna auditáveis em termos ambientais e legais, abre novos mercados, nos torna cada vez mais competitivos. São muitas ferramentas nesse sentido. Atualmente, há soluções de gestão de manejo porteira adentro – que engloba desde gestão dos colaboradores (legalização, inclusão, segurança e bem-estar) até preparo do solo, aplicações de insumos e descarte de embalagens; e se expande da porteira para fora (pessoas, logística, eficiência de consumo, armazenamento e distribuição). Assim, numa agenda ESG, todo supply chaim é gerido até o consumidor final.
Outro exemplo disso é a criação de uma plataforma de homologação e certificação da área produtiva como a Guarani, solução fruto do acordo operacional entre Wiz Concept e Toro Par, que gera alto impacto ao mercado e consumidores, desde a verificação de origem de determinada produção, averiguando se respeita reserva legal, biomas, matas ciliares, se ocorre ou ocorreu desmatamento ilegal etc. Até informações históricas de autoridades públicas, tais como, histórico de trabalho escravo, outorgas de água, uso de terras indígenas ou da União. Todo esse trabalho e averiguação agrega valor real à produção, o que impacta ainda mais no peso do Agro no PIB brasileiro (que atualmente representa 28%), além de possibilitar maior capacidade de captação de recursos pelos produtores a custos menores, visto que as terras legalizadas podem ser usadas em garantia, o que injeta ainda mais capital para manter o nosso Agro em evolução.
MundoCoop: Uma das dificuldades que o produtor ainda enfrenta no país é a regularização e homologação fundiária. Que fatores contribuem para esse cenário no país? Como garantir que o produtor, sobretudo o pequeno, esteja em conformidade com as leis e diretrizes que regem a legislação brasileira?
Os fatores que contribuem para esse cenário e que, sem dúvida, são críticos, são o nosso sistema cartorial descentralizado e, ainda, sendo analógico em muitos locais (com sistema no papel em velhos livros de registro); órgãos diferentes e não integrados para realização de gestão fundiária nas esferas federais, estaduais e municipais; altos custos de registros, além do trâmite lento e burocrático. Todos esses fatores geram informalidade, prevalência de regimes de posses e insegurança jurídica.
O processo de regularização passa primeiro por legalização das terras, títulos definitivos e incontestáveis a custos acessíveis ou concedidos pelo setor público, mesmo que o produtor contrate empresas privadas tecnicamente qualificadas para acelerar o processo. É investimento na essência da palavra, pois uma vez legalizadas essas áreas, os produtores podem acessar mais recursos, consequentemente, acabam produzindo mais, o que gera ganho para o país, tanto na arrecadação quanto na geração de mais empregos.
MundoCoop: Estamos vivendo a era da tecnologia, com novas soluções surgindo a cada dia. Porém, nem todos possuem acesso aos novos recursos, colocando parcelas inteiras da população em um grau de desvantagem. Como criar um ecossistema onde novas oportunidades e ferramentas estejam disponíveis para todos os indivíduos envolvidos no agro nacional? De que forma esse estímulo impactaria a posição do Brasil no mercado internacional?
Vejo que no Brasil já existe um forte movimento nesse sentido, tanto apoiado pelo setor público com órgãos como Emater, CATI-SP, Embrapa, e até mesmo o Sebrae, que investem fortemente em tecnologia e inovação, mas que, mais importante de tudo, têm em sua agenda a missão de checar lá na ponta do Agro, nas mãos dos produtores, por meio de suas redes técnicas, com agrônomos, técnicos agrícolas, veterinários, zootecnistas, consultores de negócios etc. Além disso, há linhas de crédito federais (linhas do Plano Safra) e estatuais (ex: Programa FEAP de SP) que proporcionam, a custos muito acessíveis, recursos para investimentos em tecnologia, que vão desde maquinários e implementos agrícolas a eficiência energética e conectividade no campo. Os bancos de fomento têm grande papel nessa distribuição.
Além disso, já existem muitas iniciativas vindo do setor privado que estão investindo muito em agritechs com projetos muito inclusivos, como acontece nas cidades de Piracicaba e São José dos Campos, em São Paulo, com seus hubs de inovação focados no Agro, além de fundo de investimentos que só investem projetos agropecuários sustentáveis. Isso tudo gera riqueza para o Brasil, pois acarreta mais gente produzindo no setor, gerando eficiência e mais valor agregado aos nossos produtos.
MundoCoop: Novas soluções trazem novas possibilidades para o futuro. Quais as perspectivas para o futuro das soluções digitais para o agronegócio? Este mercado continuará em expansão?
A necessidade de produção no mercado para os próximos 50 anos é de crescer 60%. Esse dado mostra projeção de expansão e, ao mesmo tempo, nos dá a dimensão do desafio que temos pela frente. Pois esse crescimento não virá de aumento nessa proporção de áreas produtivas, não há mais espaço para isso, o desafio é em ganho de eficiência, que virá de tecnologia e recursos financeiros acessíveis para a implantação/universalização.
Estamos falando de melhoramento genético, desenvolvimento de cultivares mais resistentes às intempéries climáticas (genética), melhoramentos de solos (química, geologia), eficiência energética (engenharia), modelos preditivos de clima x produtividade (estatística, meteorologia), manejo sustentável (ambiental), profissionais qualificados para um agro tecnológico (educação, formação técnica), investimentos em logística (rodovias, ferrovias, portos, silos) etc.
Temos um mar de oportunidades para o Brasil, pois somos um país com aptidão para o agro, tanto pela dimensão geográfica, áreas agricultáveis, riqueza de água como, principalmente, pela nossa capacidade de inovar no setor em nos adaptar às diferentes características de solo e clima.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
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