Uma das poucas cooperativas de eletrificação rural em funcionamento no Norte e Nordeste, a Cercos – Cooperativa de Eletrificação Rural da Colônia 13 – fornece energia elétrica a preços mais acessíveis do que os praticados por concessionárias convencionais. Localizada em Lagarto (SE), a Cercos atende cerca de 7.500 cooperados e 1.200 não cooperados na Colônia 13 e em outros 16 povoados vizinhos, região com população estimada em 30 mil habitantes. “Diferente das concessionárias convencionais, a cooperativa opera sem fins lucrativos, e são os próprios associados que definem o orçamento e o destino das sobras financeiras”, afirmou o presidente da Cercos, Aroldo Costa Monteiro.
Fundada há quase 49 anos, a Cercos atua desde 2008 com autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para distribuir energia de forma oficial e regulada. Ela compra energia da Energisa e redistribui para sua base de clientes, que inclui tanto associados (cooperados) quanto usuários não vinculados à cooperativa. A adesão é livre, mas quem opta por se tornar cooperado tem direito a uma série de benefícios, entre eles isenção de tributos como ICMS, PIS e Cofins, resultando em uma tarifa mais econômica.

“A diferença entre a tarifa da Cercos para os cooperados e a da Energisa pode chegar a até 13%”, afirma Monteiro. Hoje, a tarifa da cooperativa gira em torno de R$ 1,04 por kWh, um pouco acima da praticada pela Energisa, especialmente porque as cooperativas ainda não são beneficiadas pela Lei Federal 14.299, que garante subsídios às distribuidoras. Segundo Aroldo Monteiro, há um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional para que as cooperativas também passem a ter acesso a esse subsídio, o que reduziria o custo para o consumidor final.
Apesar da tarifa ligeiramente superior em alguns casos, a Cercos se destaca pela relação direta com a comunidade. Os cooperados participam de assembleias anuais nas quais decidem o destino das chamadas “sobras”, que, em empresas convencionais, seriam lucros. “Todo ano, a assembleia decide onde aplicar os recursos excedentes. Em 2022, decidimos investir totalmente em projetos sociais”, explica Monteiro. Um exemplo é a escavação de poços artesianos em comunidades carentes, uma ação que rendeu à Cercos o Prêmio Nacional da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) pelo impacto social positivo.
Compromisso além da energia
A Cercos conta com uma estrutura de 58 funcionários e um atendimento técnico dividido em três turnos, com equipes de plantão prontas para atender eventuais quedas de energia ou problemas na rede. A cooperativa é responsável por toda a infraestrutura da distribuição, inclusive a instalação e manutenção de postes. “Temos um compromisso com a qualidade da energia e com o serviço prestado, como qualquer outra concessionária regulada”, enfatiza o presidente.
Embora a Cercos não possa expandir seu raio de atuação além dos limites definidos pela Aneel — chamados de poligonais de concessão —, o crescimento interno, com melhorias constantes, é prioridade. Não há, por enquanto, projetos significativos de investimento em energia solar na área da cooperativa, mas o presidente reconhece o avanço dessa tecnologia e a possibilidade de, no futuro, haver migração parcial para fazendas solares, conforme a legislação permitir.
Outra meta da Cercos é ampliar o número de cooperados, já que ainda há cerca de 1.200 consumidores que recebem energia da cooperativa, mas não aderiram oficialmente. “Fazemos campanhas para mostrar as vantagens de ser cooperado, tanto na conta de luz quanto na participação em projetos sociais”, explica Monteiro. Muitos dos não cooperados são proprietários de chácaras ou casas de veraneio, o que dificulta o engajamento com os temas locais.
Ao longo de quase meio século de existência, a Cercos consolidou-se como um modelo de gestão comunitária de energia elétrica, único no Norte e Nordeste com autorização federal para operar nesse formato. E mesmo enfrentando limitações estruturais, como o não acesso a subsídios federais, a cooperativa se firma pelo compromisso social e pela tentativa de garantir tarifas justas para seus associados. “Nosso maior investimento é no serviço e na comunidade”, resume Aroldo Monteiro.
Fonte: Movimento Econômico