A conjuntura econômica atual tem mostrado sinais de crescimento, mas também de fragilidade estrutural. Para compreender os principais movimentos no Brasil e no cenário internacional, a SIS Prime do Brasil, em celebração aos seus 28 anos, promoveu a palestra “Cenários Macroeconômicos: Tendências e Oportunidades para o Brasil e o Mundo”, conduzida pelo economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e uma das vozes mais respeitadas do país.
Na abertura da noite, o presidente do Conselho de Administração da SIS Prime do Brasil, Álvaro Jabur, destacou a importância de trazer uma análise técnica e apartidária da conjuntura. “É uma oportunidade de compreender como o Brasil pode encarar seu presente e futuro de forma mais objetiva e profissional”, afirmou. Jabur também ressaltou que a cooperativa já soma 55 mil cooperados e administra R$ 10 bilhões em recursos, números que refletem a força do cooperativismo e a confiança de seus associados.
O encontro abordou os desafios da política fiscal, o papel do consumo no crescimento brasileiro e os riscos trazidos pela desaceleração global, sob a justificativa da importância de compreender como esses fatores moldam as oportunidades e ameaças para a economia nacional.
A apresentadora Raquel Rodrigues reforçou o propósito cooperativista e os resultados alcançados pela instituição, lembrando que “na união está a força, na excelência o resultado, e no cooperado, o propósito”. Em seguida, convidou Schwartsman a conduzir a análise econômica da noite.
Enfraquecimento do dólar
Na primeira parte, Schwartsman destacou as transformações no cenário norte-americano. O dólar se enfraqueceu ao longo de 2024, mesmo diante da elevação das taxas de juros de longo prazo, um comportamento atípico que revela preocupações fiscais e comerciais.

Segundo o economista, a dívida pública dos EUA já alcança 100% do PIB – cerca de US$ 30 trilhões – e pode ultrapassar 130% em dez anos, pressionando juros e reduzindo a confiança nos títulos do Tesouro.
Outro ponto crítico é a elevação das tarifas de importação, que saltaram de menos de 2% para cerca de 17%. “Essa política compromete a produtividade e pressiona a inflação, afastando os EUA do padrão de crescimento sustentado observado nas últimas décadas”, avaliou.
Crescimento brasileiro
Ao analisar o desempenho nacional, Schwartsman observou que a economia brasileira cresceu em média 3% ao ano entre 2022 e 2024, taxa superior à registrada na última década. Contudo, ele questionou a sustentabilidade desse avanço.
“O motor do crescimento tem sido o consumo, impulsionado pelo aumento das transferências de renda e pela valorização real do salário mínimo. Esse movimento reduziu o desemprego de 15% para 5,5%, mas pressiona a inflação e eleva os gastos públicos”, afirmou.
Dados apresentados mostram que as transferências às famílias cresceram R$ 310 bilhões desde 2021, com destaque para o Bolsa Família, que passou de cerca de R$ 50 bilhões para R$ 170 bilhões ao ano. Apesar do efeito positivo imediato, Schwartsman alertou que a expansão do consumo não foi acompanhada por ganhos equivalentes de produtividade.
Salários em alta
O economista ressaltou que a produtividade fora da agricultura segue praticamente estagnada, enquanto os salários reais avançam cerca de 9% ao ano.
“Estamos pagando mais caro pelo trabalho, mas sem aumento proporcional de produção. Isso eleva o custo unitário e acelera a inflação de serviços”, explicou. Ele destacou ainda que a agricultura foi a única a registrar ganhos expressivos, com produtividade crescendo entre 6% e 9% ao ano.
Schwartsman ainda enfatizou que a inflação brasileira voltou a acelerar, especialmente nos serviços, e deve se manter acima da meta até 2027. Para conter os preços, o Banco Central mantém a taxa Selic em 15%, nível que encarece o crédito e inibe investimentos.
“O maior entrave ao crescimento sustentável está no descontrole dos gastos públicos. Nossa dívida já se aproxima de 90% do PIB e tende a continuar crescendo, exigindo juros reais persistentemente elevados”, alertou.
Tarifas e impacto no Brasil
O economista também comentou os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que atingem em especial os manufaturados. As perdas diretas para o PIB devem ficar entre 0,1% e 0,2%, mas o impacto é mais severo em setores que têm nos EUA seu principal destino.
“Cerca de 80% do que exportamos para os americanos são manufaturas. Isso representa 17% das exportações industriais brasileiras e 13% do PIB da indústria de transformação. Portanto, o efeito é localizado, mas relevante”, explicou.
Ao encerrar, o economista reforçou a mensagem central: sem disciplina fiscal e ganhos de produtividade, o Brasil encontrará limites para sustentar seu crescimento. Segundo ele, “enquanto insistirmos em crescer apenas pelo consumo, sem criar novas bases produtivas e sem colocar as contas públicas em ordem, estaremos construindo um modelo que não se sustenta a médio e longo prazo”.
Por João Victor, Redação MundoCoop