Coluna Economia & Cooperativismo O meu artigo na última edição de 2024 da MundoCoop falava sobre uma sensação de otimismo para 2025 a partir de uma enquete que eu fiz com os participantes da CoopsParty Summit Goiás 2024. Apesar da confiança num ano promissor da maioria das pessoas que estiveram no auditório do Centro de Convenções da PUC, em Goiânia, eu salientei que o Brasil acumulava graves problemas que ainda precisam ser superados. O maior deles é político. Os nossos representantes brigam por espaço enquanto o Poder Judiciário gera insegurança jurídica ao desrespeitar a Constituição e ao invadir as atribuições do Legislativo e do Executivo. Hoje, posso afirmar, que o Centrão comanda o orçamento brasileiro por meio de emendas parlamentares. O segundo maior problema segue sendo o déficit fiscal. O governo Lula gasta mais do que arrecada, pressionando o dólar e a inflação, o que acaba obrigando o Banco Central a subir juros. A consequência é o encarecimento do crédito e uma desaceleração do consumo. Na prática, o Produto Interno Bruto (PIB) terá uma expansão menor esse ano, entre 1,5% e 2%, ante uma alta de 3,4% em 2024. No artigo, destaquei que cenário previsto tinha uma enorme interrogação. Escrevi: “A principal dúvida envolve os impactos do novo mandato de Donald Trump, que promete uma guerra comercial com a China. A conferir a partir de 20 de janeiro de 2025.” Após tomar posse, Trump resolveu cumprir a promessa de campanha e iniciou uma guerra comercial com praticamente o mundo inteiro. O objetivo da nova gestão americana é reindustrializar o país que, segundo eles, virou uma economia de serviços. Por trás do fomento da indústria nacional está a constatação de que a China vem se transformando, nas últimas décadas, na principal potência tecnológica do mundo com a ajuda das próprias empresas americanas, que passaram a produzir no Oriente – a Apple é um bom exemplo. Na visão dos estrategistas do governo Trump, se nada for feito, a China vai dominar o mundo até o fim do Século XXI. O passo inicial foi a adoção de tarifas sobre as importações. Numa primeira leva, as maiores alíquotas pesaram sobre os países asiáticos que são grandes exportadores para os Estados Unidos. Vietnã recebeu alíquota de 46%; Bangladesh, 37%; China, 34%; Japão, 24%; União Europeia, 20%; e Brasil e Argentina, apenas 10%. A China não aceitou a tarifa e devolveu com a mesma alíquota. Os dois países foram retaliando uns aos outros e as tarifas, que ainda poderão ser negociadas, já ultrapassam os 100%. Na prática, boa parte do comércio entre as duas maiores economia do mundo fica inviabilizado. De imediato, a Organização Mundial do Comércio (OMC) revisou para baixo a projeção de crescimento do comércio internacional neste ano. Antes da guerra de tarifas, a estimativa era de crescimento de 3%. Agora, a projeção é de queda de 0,2%, podendo chegar a uma redução de 1,5%. A consequência óbvia é um crescimento menor da economia global. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também revisou para baixo a expectativa de expansão do PIB mundial de 3,3% para 2,8% em 2025, e de 3,3% para 3% no ano que vem. Além do menor fluxo de mercadorias entre os países, outro efeito da guerra tarifária é a inflação. Com alíquotas de importação mais altas, os consumidores passam a pagar mais pelos mesmos produtos. É importante notar que a indústria americana não consegue produzir tudo o que os americanos atualmente compram de outros países. Apenas como exemplo, vou citar o setor de vestuário. Atualmente, 97% das roupas que os americanos vestem são fabricadas na Ásia – é comum vermos tênis da Nike com etiquetas do Vietnã ou de Bangladesh. Com inflação mais alta, o consumo tende a cair e, consequentemente, a economia cresce menos. O Goldman Sachs elevou as chances de recessão nos Estados Unidos de 20% para 45%. Repare que a maior probabilidade ainda é de crescimento da economia americana, mas o sinal de alerta foi emitido. É razoável imaginar que o restante do planeta possa ser contaminado, inclusive o Brasil. Por ora, no entanto, como o nosso país recebeu a menor alíquota, isso possibilita ganhos de mercados. Dois exemplos: a China deve comprar mais soja do Brasil e menos dos Estados Unidos, e a Embraer (com sobretaxa de 10%) ficará mais competitiva no mercado americano do que a canadense Bombardier (sobretaxa de 25%). A minha expectativa é de que ainda haverá muitas negociações e, talvez, várias alíquotas sejam retiradas. Até lá, no entanto, precisamos ter cautela num cenário global muito imprevisível. *Luís Artur Nogueira é economista, jornalista e palestrante. Atualmente é comentarista do programa “Faroeste à Brasileira” no Youtube da Revista Oeste e colunista da MundoCoop Coluna exclusiva publicada na edição 123 da Revista MundoCoop LEIA NA ÍNTEGRA A EDIÇÃO DIGITAL