COLUNA ECONOMIA & COOPERATIVISMO
O título da coluna mostra que eu escolhi um tema bem quente para essa coluna. Faço, no entanto, um pedido especial a você: vamos deixar as paixões ideológicas de lado e focar no debate do tema em questão. Como de costume, prometo tentar ser o mais isento possível do ponto de vista político, sem deixar de me posicionar na esfera econômica.
Nas últimas semanas, houve uma intensa troca de farpas entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Os ataques de Lula foram diretos, sem meias palavras. Chamou Campos Neto de “esse cidadão”, criticou os juros altos, ironizou a autonomia do Banco Central e defendeu um abrandamento no sistema de metas de inflação, como forma de reduzir a Selic (taxa básica).
Enquanto isso, o presidente do Banco Central se manifestava apenas por meio de comunicados oficiais, como a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual cobrou responsabilidade fiscal do governo. Isso, é claro, irritou profundamente a ala mais radical do Partido dos Trabalhadores (PT) e os demais partidos de esquerda que compõem a base governista.
O “silêncio” de Campos Neto, entretanto, foi quebrado na noite da segunda-feira (14/2), em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Em tom conciliador, o economista não atacou Lula, mas deixou claro sua posição contrária a uma possível flexibilização das metas de inflação. Seu argumento é simples e objetivo: quando se aumenta a meta, os agentes adaptam suas expectativas inflacionárias a esse novo patamar. O risco, segundo ele, é de que o resultado final acabe sendo juros mais altos, contrariando o objetivo inicial.
Não vou ficar no muro. Concordo com Roberto Campos e acho que o presidente Lula está gastando energia de forma equivocada. Se quiser mesmo ajudar o Banco Central a reduzir juros, o governo deveria apresentar logo um novo arcabouço fiscal para substituir o teto de gastos e trabalhar pela aprovação da Reforma Tributária. Certamente, esses dois temas podem melhorar as expectativas inflacionárias, viabilizando um cenário de queda de juros.
Você deve estar se perguntando o que o cooperativismo financeiro tem a ver com isso. Tem tudo a ver. Quando o presidente da República inicia uma cruzada contra os juros altos, se abre uma enorme oportunidade para as cooperativas entrarem no campo de batalha. Quem conhece minimamente o setor sabe que ninguém é capaz de oferecer crédito mais barato no mercado financeiro do que o cooperativismo. E com as menores taxas de inadimplência.
É fundamental que o setor intensifique suas campanhas de marketing para deixar claro à sociedade que bancos e cooperativas são negócios completamente diferentes. Um só visa o lucro enquanto o outro prioriza o fomento econômico e social. Um lida com clientes e o outro tem associados, que participam dos resultados financeiros.
A cruzada contra os juros altos é correta e necessária. O presidente da República apenas escolheu o alvo errado, pois o Banco Central autônomo é um órgão técnico que reage às expectativas do mercado. As contas públicas desequilibradas são parte do problema assim como a concentração bancária excessiva nas mãos de meia dúzia de instituições.
A boa notícia é que cooperativismo financeiro continua crescendo e ganhando fatia de mercado. Sugiro ao presidente Lula que olhe para as cooperativas como parte da solução do problema e crie formas de estimular o setor a crescer ainda mais. Todos sairão ganhando – o setor, a sociedade e o próprio governo.
Por Luís Artur Nogueira, economista, jornalista e palestrante. Atualmente, é comentarista econômico e apresentador da Jovem Pan News e colunista da ISTOÉ Dinheiro
Coluna exclusiva publicada na Revista MundoCoop edição 110
Foto: Sobratema
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