Empreender no Brasil requer muitas qualidades. A obstinação, sem dúvida, é uma delas. Afinal de contas, num ambiente tão hostil para os negócios (carga tributária, burocracia, juros elevados, falta de infraestrutura, insegurança jurídica etc.), é preciso ser muito persistente para não desistir diante de tantos obstáculos. A lista de qualidades é enorme (inteligência, maleabilidade, estratégia etc.), mas queria mencionar uma que é tão simples quanto necessária: o otimismo.
Para muitos, o otimista é aquela pessoa que vive num mundo paralelo, utópico, bem longe da realidade. Em alguns casos, isso é até verdade, mas como seria possível investir num negócio sem acreditar que o futuro é promissor?
Tenho feito palestras no Brasil inteiro para públicos empresariais e empreendedores. São mulheres e homens de negócios que decidiram investir o seu patrimônio em projetos que, quando bem-sucedidos, geram emprego e renda para muitas famílias. São a base da prosperidade econômica de qualquer país.
Nas minhas apresentações, costumo lançar enquetes interativas para aferir o grau de otimismo da plateia. Uma das perguntas é sobre como a pessoa vislumbra o ritmo do seu próprio negócio daqui 12 meses: melhor, igual ou pior. Posso garantir que, em 100% das pesquisas em todas as regiões do País, mais de 60% das respostas são que o desempenho vai melhorar. Raramente os que acham que o negócio vai piorar ultrapassam a marca de 10%.
Esse sentimento positivo pode ser considerado surpreendente num contexto tão nebuloso como o atual. Enquanto o mundo vivencia guerras militares (como a da Rússia na Ucrânia) e conflitos tarifários (como o de Donald Trump contra o planeta Terra), o Brasil registra uma crise política na qual os Três Poderes da República não se entendem.
Executivo e Legislativo estão em pé de guerra para ver quem manda no orçamento. É tudo sobre dinheiro, claro. Já o Poder Judiciário resolveu governar o Brasil e, pasmem, entrou em conflito com o governo Trump. O proeminente ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, foi recentemente alvo inédito da Lei Magnitsky por desrespeito à Constituição brasileira. Outros integrantes do STF, que já perderam o visto americano, podem ser alvos a qualquer momento.
O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de diversos outros atores da suposta trama golpista está aumentando a temperatura deste caldeirão diplomático com consequências imprevisíveis para as relações entre Brasil e Estados Unidos. No radar estão mais tarifas comerciais ou mais sanções da Lei Magnitsky. Ou as duas coisas.
Felizmente, o empreendedor brasileiro é PhD em superar crises. A postura otimista diante das dificuldades reforça a minha convicção de que é o setor privado – e não o setor público – que faz o País crescer. Não à toa, a economia brasileira continua em expansão (cada vez mais lenta, é verdade) apesar de todo ambiente político desfavorável. Claro que os juros escorchantes na casa de 15% ao ano ajudam a explicar essa desaceleração, mas isso é tema para outro artigo.
Qual o milagre da resiliência? Quando o empreendedor entende que as principais decisões estão nas suas próprias mãos e não dependem do carimbo de nenhum burocrata, a chance de sucesso aumenta bastante. Afinal de contas, o ambiente político conturbado pode até atrapalhar a economia, mas não impede a prosperidade das empresas. E, cá entre nós, um pouquinho de otimismo não faz mal a ninguém. Sigamos em frente apesar de Brasília…
*Luís Artur Nogueira é economista, jornalista e palestrante. Atualmente é comentarista do programa “Faroeste à Brasileira” no Youtube da Revista Oeste e colunista da MundoCoop
Coluna exclusiva publicada na edição 125 da Revista MundoCoop
