Uma pesquisa feita pela consultoria Think Work, sobre os principais desafios do RH para esse ano, apontou que fortalecer a cultura organizacional é a parte mais difícil para os 35% dos participantes. O estudo afirmou que atingir as metas de diversidade e inclusão nas empresas e cooperativas é visto como um dos maiores obstáculos do setor, na opinião de 17% dos entrevistados.
Carina Melo, gerente de pessoas e do Sistema OCB conta que uma cultura organizacional sólida nas cooperativas traz uma série de benefícios. Entre eles para os seus funcionários e stakeholders, que incluem identidade, propósito, engajamento, atração, retenção de talentos, alta performance, resultados, resiliência e adaptação. “Investir na construção em uma cultura organizacional é essencial para o sucesso e sustentabilidade da cooperativa a longo prazo”, diz.
Cultura e sustentabilidade
Nas cooperativas a cultura organizacional está diretamente ligada ao sucesso e a sustentabilidade dos negócios. A cultura organizacional define os valores, as crenças, as normas, os comportamentos e as expectativas compartilhadas pelos membros da organização. Ela também orienta as decisões, as atitudes e os relacionamentos internos, impactando diretamente na eficiência, no engajamento e na produtividade dos colaboradores. Para que esse processo ocorra é fundamental que o RH esteja preparado para se comunicar bem, fazer a boa gestão de mudanças e, principalmente, traçar políticas e estratégias reforçadores da Cultura.
Os especialistas em gestão explicam que não adianta ter uma política de remuneração variável coletiva, uma avaliação de desempenho bem estruturada e com viés meritocrático, se a cultura da empresa é paternalista. Alexandre Cyriaco, gerente de Recursos Humanos da Coop conta que é preciso criar uma estratégia bem definida, vital para o futuro das organizações, principalmente as cooperativas. “Na Coop, este ano levamos para 100% dos colaboradores nossa estratégia e estamos reforçando os principais elementos da nossa cultura. Para que possamos ficar cada vez mais competitivos e colocar as quase 6 mil pessoas da nossa empresa na mesma página”, exemplifica Cyriaco.
A assimilação da cultura organizacional das cooperativas não é tão fácil quanto pode parecer. Um dos maiores desafios enfrentados é a resistência à mudança por parte dos colaboradores e associados. Carina conta que muitos podem resistir a novas formas de trabalho, comportamentos ou normas estabelecidas. “Para lidar com isso é essencial investir em uma comunicação eficaz, envolvimento dos funcionários, treinamentos e programas de conscientização sobre a sua importância”, indica Melo.
Outro obstáculo pode ser a falta de alinhamento entre os líderes e os colaboradores em relação à cultura desejada. É fundamental que eles sejam os primeiros a adotar e promovê-la, servindo como exemplo para os demais colaboradores. “Quando os líderes estão engajados na cultura, sua influência pode ajudar a superar resistências e criar um ambiente de harmonia”, explica Carina.
Como o RH pode ajudar
O papel da área de Gestão de Pessoas (RH) nesse processo é crucial. Pois ele é responsável pela gestão do mapeamento, fomento, comunicação e fortalecimento da cultura organizacional. Portanto, deve ser o guardião dos valores da organização, garantindo que eles sejam respeitados e disseminados por todos. O setor também é responsável por recrutar, selecionar e treinar colaboradores que estejam alinhados com a cultura da organização. Cauê Oliveira, sócio diretor da Youleader Brasil, do ecossistema Great People, conta que o que fortalece a cultura são as lideranças.
“As organizações, de uma certa forma, até criam os seus processos culturais por meio de “missão”, “visão” e “valores”. Mas é por meio das atitudes dos líderes e dos colaboradores que eles saem do papel. Muitos líderes acham equivocadamente que é papel do RH cuidar das pessoas. Mas, a sua função é atribuir ferramentas para os líderes, como o desenvolvimento de liderança e ferramentas de avaliação”, destaca Oliveira.
Não podemos nos esquecer de que o RH é apenas um departamento dentro de uma cooperativa. Portanto torna-se difícil ao setor cuidar de todas as pessoas, cabendo a ele se responsabilizar pelos líderes imediatos. O grande obstáculo é o desenvolvimento de uma liderança forte, patrona da cultura organizacional e que levará para o dia a dia os valores e a missão que a empresa prega.
Existem várias maneiras do líder fomentar uma cultura organizacional. Entre eles estão o de definir valores, propósito, modelagem de comportamento, comunicação transparente, reconhecimento, recompensa, desenvolvimento e treinamento, participação dos colaboradores. Isso pode incluir workshops, voluntariado e outros eventos que promovam o engajamento e o senso de pertencimento dos colaboradores.
Engajar para fortalecer a cultura
Uma das maneiras de fortalecer a cultura organizacional das cooperativas é por meio do engajamento. “Engajamento é a união de dois ingredientes, como a motivação e a entrega de resultados. Portanto, uma das coisas que mais o fortalece é você entregar qualquer atividade ou projeto com propósito. Quando a cooperativa tem uma cultura saudável, com valores experimentados, que realmente preza o foco nas pessoas, o engajamento ocorre”, indica Cauê.
Algumas dicas podem ajudar a melhorar o engajamento, uma delas é desenvolver uma boa comunicação. “O departamento de comunicação é responsável por trazer a informação, mas quem comunica de verdade são os líderes por meio da fala, e principalmente da escuta”, indica Oliveira. A segunda dica é melhorar a escuta, que deve ser sincera e genuína.
A última dica é a forma como os profissionais fazem qualquer prática dentro de uma organização. “Você pode fazer de uma “forma tradicional”, “banal” ou até mesmo “como a legislação manda”. Ou você pode fazer o além. Não é só dar o feedback, é como você dará esse feedback, não é só escutar as pessoas, é como você escutará as pessoas”, aconselha Cauê.
Uma cultura organizacional forte melhora dos negócios de diversas formas. Além de promover um senso de pertencimento, identificação dos colaboradores com a organização e aumentando a sua motivação e comprometimento. “Uma cultura positiva também gera um ambiente de trabalho saudável, estimulante e colaborativo, favorecendo a criatividade, a inovação e a resolução de problemas”, finaliza Carina.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop, edição 114
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