COOP É TECH, COOP É POP
Durante a pandemia, comecei a perceber que as habilidades interpessoais (Soft Skills) estavam se tornando fundamentais no trabalho. Então, num exercício para testar essa tese, fiz a seguinte pergunta a 247 responsáveis por Recursos Humanos no Brasil (sendo 18% deles RHs de cooperativas): na seguinte situação, qual dos dois candidatos você contrataria?
A situação era a seguinte: é a fase final de uma entrevista de emprego, e você tem dois candidatos. O primeiro candidato possui excelentes habilidades técnicas (Hard Skills) (muita experiência no no cooperativismo concluiu seus estudos e possui todas as certificações), mas não tem boas habilidades interpessoais. O segundo candidato não tem boas habilidades técnicas, mas possui boas habilidades interpessoais. Qual dos dois candidatos você contrataria?
Para minha surpresa, 93% dos responsáveis por Recursos Humanos responderam que contratariam o segundo candidato. Os resultados dessa pesquisa, publicada na Época Negócios, iam contra tudo o que aprendemos na escola e nos negócios: que apenas nossas competências técnicas importam, que todos nós precisamos nos tornar especialistas e focar em eficiência e produtividade.
Fiquei muito curioso sobre o porquê dessa resposta e, como seguimento, pedi aos mesmos responsáveis por Recursos Humanos que me explicassem as principais razões para essas respostas. Simplesmente, me disseram – Andrea, é por dois motivos principais: as habilidades técnicas, se não as têm, são mais fáceis de ensinar, enquanto é muito mais difícil ensinar habilidades comportamentais. E em segundo lugar, disseram-me, é porque dentro da empresa já temos ferramentas de Inteligência Artificial que desempenham algumas habilidades técnicas melhor que nossos colaboradores, mas ainda não temos nada disso no que se refere às habilidades comportamentais, que estão longe de ser substituídas.
Isso nos faz entender que, também no Cooperativismo, há uma necessidade urgente de novo capital de habilidades – tema que exploramos neste artigo.
È fato que investimento em capital humano nas cooperativas traz beneficios: um estudo recente publicado na Revista de Contabilidade da UFBA com o titulo “A INFLUÊNCIA DO INVESTIMENTO EM CAPITAL INTANGÍVEL NO DESEMPENHO DE UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO”, investigou a influência do investimento em Capital Intelectual (Humano, de Clientes e Organizacional) no desempenho de uma cooperativa de crédito, abordando dimensões como desempenho de mercado, desempenho organizacional e satisfação dos colaboradores. Utilizando uma abordagem quantitativa e descritiva por meio de um survey transversal, o estudo aplicou questionários a colaboradores de agências da cooperativa de crédito no oeste do Paraná e norte paulista.
Os resultados obtidos através de testes estatísticos revelaram que o investimento em Capital Intelectual está diretamente relacionado ao desempenho e à satisfação dos colaboradores. Especificamente, investimentos em treinamento, estrutura organizacional e atendimento ao cliente foram associados a melhorias no desempenho de mercado e organizacional, além de incremento na satisfação no trabalho.
Essas descobertas sublinham a importância de fortalecer o Capital Intelectual de maneira integrada, visando não apenas melhorar os indicadores de desempenho da cooperativa, mas também promover um ambiente de trabalho satisfatório. Além disso, as conclusões oferecem orientações valiosas para estratégias e alocação de recursos nas cooperativas, contribuindo tanto para o avanço teórico na gestão de cooperativas de crédito quanto para práticas gerenciais eficazes.
Qual o grande problema? È que na maior parte dos casos associamos o desenvolvimento de Capital humano as Hard Skills técnicas, mas como vimos acima, o que mais traz impacto hoje são as Soft Skills!
Quais então as habilidades que mais precisam ser o foco de nossos investimentos em Capital Humano? São exatamente as habilidades que nos tornam complementares a tecnologia, e não substituíveis por ela.
Se a IA hoje já è melhor em fornecer respostas, analisar dados, criar conteudo, e a ser eficiente e produtiva (minimizando os erros), caberá a nós humanos desenvolver um novo capital humano:
- Primeiramente, se a IA é melhor em fornecer respostas, uma nova habilidade se torna fazer perguntas! Ou, também como é dito no mundo da IA, fazer “prompts”.
- também, se a IA é melhor em analisar dados, nossa tarefa se torna escolher os KPIs e metricas a monitorar de forma criativa.
- Também, se a IA é melhor em eficiencia e produtividade, nos seremos melhores na criatividade e nos pensamento critico
- Também, se a IA se torna melhor em criar conteudo, nos temos que ter a criatividade e a empatia para poder “brifar” a IA da melhor forma.
Juntos, “cooperando” com a Inteligência Artificial e não tentando competir com ela, iremos finalmente desenvolver o capital humano necessário para poder aproveitar dos resultados de negócio que o estudo acima de Cooperativas de Crédito demostrou – e que certamente vai beneficiar a sua cooperativa também.
*Por Andrea Iorio, palestrante, escritor best-seller e especialista em Transformação Digital e Inovação
Coluna exclusiva publicada na Revista MundoCoop, edição 117
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