Pensar nas sucessões das cooperativas agropecuárias é fundamental para que elas assegurem seus funcionamentos eficientes, mantenham as suas culturas, valores, alcance os seus objetivos e os conhecimentos ao longo dos anos. Toda cooperativa que deseja evoluir e ter sucesso no mercado deve pensar neste processo.
Quando as suas fases são bem-sucedidas, permitem que a cooperativa evolua, inove, se adapte às mudanças no mercado do agronegócio, inove, desenvolva novo senso de propósito e perspectivas. Tudo isso promove o seu crescimento e a sustentabilidade a longo prazo. Débora Ingrisano, Gerente de desenvolvimento de cooperativas do Sistema OCB, lembra que uma má sucessão pode resultar em conflitos internos, instabilidade na gestão, perda de confiança com afastamento dos cooperados e até mesmo a dissolução da cooperativa. “A continuidade dos negócios e a sustentabilidade da organização estão diretamente relacionados ao relacionamento entre a liderança da cooperativa e os cooperados”, esclarece a Gerente de desenvolvimento de cooperativas do Sistema OCB.
Tema fundamental
O tema sucessão se tornou a pauta do dia de Joice Knaul, 41 anos, associada há 10 anos pela Copagril, que mora na Linha Arroio Guaçu, Mercedes, no Paraná. Ela é cooperada e relata que as cooperativas agrícolas dependem do modelo familiar de negócio para continuarem a sua atividade. Pois fazem um ciclo completo de produção, desde a confecção de proteínas vegetais para a transformação em proteínas animais.
Joice lembra que a melhor maneira de fazer a sucessão é pelo incentivo de treinamento, investimento no aperfeiçoamento dos jovens, apresentar expectativas e realidades do setor produtivo. “Quando se pensa em sucessão e manutenção de famílias nas propriedades, deve-se levar em consideração se a renda gerada corresponde as expectativas das famílias. O preparo do sucessor envolve 10% é inspiração e outros 90% de transpiração. Os princípios vêm dos pais, mas a vivência e os desafios diários preparam os sucessores”, explica Joice.
Assim, como Joice, Fernanda Aline Gunkel, 26 anos, há 18 anos associada a Copagril, moradora da Linha São Roque, Marechal Cândido Rondon, no Paraná relembra que sem a sucessão, as cooperativas agropecuárias correm o risco de se tornarem escassas. Para ela o processo sempre é mais interessante fazer a sucessão, do que ter pessoas de fora da família tocando o negócio. “Algumas formas de fazer o processo são trazer as pessoas para participarem mais, formar líderes, interagir mais com eles, unir os familiares e manter a transparência”, aconselha Aline.
A transição
Um dos momentos mais complicados da vida de uma cooperativa é fazer o seu processo sucessório. É em sua transição de uma geração para a outra que aparecem os conflitos e os pensamentos diferentes. Por isso, esse momento exige, entre outras coisas, um planejamento estratégico, habilidades de gestão e a manutenção do compromisso com os valores corporativistas.
Ingrisano conta a melhor maneira de fazer a sucessão em cooperativas agropecuárias é envolver toda a família por meio da preparação, comunicação aberta e treinamento adequado. “É importante identificar e desenvolver líderes potenciais dentro da cooperativa, proporcionando-lhes experiência e conhecimento. Além disso, é fundamental engajar os membros atuais na decisão e no processo para que possam contribuir na formação dos sucessores, e durante a fase de transição”, indica Débora.
Para que o processo transcorra bem, é fundamental manter a sua transparência, objetivos e os conhecimentos de cada um dos envolvidos. Com relação aos líderes, é essencial que sejam eleitos democraticamente pelos membros da cooperativa, se comprometendo com a representatividade e a participação coletiva. A sucessão deve acontecer de maneira gradual, preparando o sucessor por meio de treinamentos técnicos, além de orientá-lo a dar continuidade estratégica para o sucesso da cooperativa.
Os especialistas no assunto lembram, que é essencial que o próximo presidente esteja alinhado com a missão, visão, valores e as metas da organização. Além da preservação da identidade cooperativista. Além da mudança do presidente, das lideranças, haverá uma renovação dos conselhos, que precisam ter em mente a filosofia da diversidade e da representatividade dos órgãos de governança.
Todos esses requisitos foram levados em conta durante as mudanças dos presidentes das cooperativas Frimesa, Copagril e a Primato, do Paraná. No caso, da Copagril, Luiz Carlos Bastianello, Presidente relata que a realização da sucessão institucional está diretamente ligada à vitalidade da instituição. Ele conta que se o processo não for planejado e bem executado, incorre-se no risco de que a cooperativa tenha sucessores sem o devido conhecimento e a postura necessária para o seguimento de suas atividades.
“Muito embora as pessoas tenham diversidade de pensamento, a filosofia cooperativista em si é permanente. Uma visão distorcida a respeito desses princípios poderia acarretar sérias consequências. Essa é uma das particularidades desse tema, pois além de compreenderem os princípios do cooperativismo, é fundamental que os sucessores demonstrem preparo e habilidade para representar não apenas uma instituição, mas um seguimento da sociedade. Portanto, a melhor maneira de realizar uma sucessão é capacitando pessoas”, aconselha Luiz.
Os desafios da sucessão
Um dos maiores desafios da sucessão é justamente manter as próximas gerações no campo. “O processo sucessório ideal exige planejamento dentro do núcleo familiar. Há algum tempo temos abordado essa temática junto aos nossos cooperados. Quando se fala em sucessão familiar, ainda há alguns paradigmas a serem rompidos, contudo essa preparação torna-se vital para as famílias rurais. Quando o processo sucessório é planejado e estruturado, os resultados tornam-se significativamente diferentes”, lembra Luiz Carlos.
Outros fatores importantes nesse processo é garantir um processo bem planejado e executado, que os potenciais sucessores estejam realmente interessados e preparados para as funções de direção. A transição de poder precisa ser pacífica contando com o apoio dos cooperados, e que não haja conflitos de interesse na gestão da cooperativa e da propriedade rural. Preparar o sucessor envolve fornecer treinamento, experiência prática e orientação adequada.
“Os sucessores devem adquirir conhecimento sobre a operação da cooperativa, desenvolver habilidades de gestão e liderança, entender os valores e a cultura da cooperativa, além dos aspectos técnicos relativos ao setor de atuação. No planejamento de sucessão é necessário identificar as capacidades e responsabilidades específicas de cada função, assim como os pré-requisitos dos cargos. As ações para transição devem ser documentadas e disponibilizadas com transparência, possibilitando aos possíveis sucessores conhecerem as atribuições do profissional que possam um dia vir a substituir. É necessário ainda um plano de ação que envolva as capacitações necessárias e as estratégias de transição”, indica Ingrisano. A sucessão em cooperativas agropecuárias apresenta particularidades relacionadas à estrutura de propriedade e gestão compartilhada.
Débora lembra que no Ramo Agro, a sucessão passa primeiramente pela transição de poder nas propriedades rurais dos cooperados, que em grande parte são familiares. Os especialistas explicam que algumas das principais dificuldades nesse processo é que existe resistências às mudanças, pois muitos fazendeiros antigos e que possuem apego à terra, não querem perder poder e status e enxergam a aposentadoria como uma atitude derrotista.
Outros desafios são o êxodo rural de jovens que buscam novas atividades nos centros urbanos, a falta de interesse de potenciais sucessores, conflitos familiares e a falta de planejamento adequado são os maiores desafios a enfrentar. “Pensam também os aspectos emocionais, fatores relacionados à renda e herança também influenciam as decisões sobre a sucessão nas propriedades. Se a transição não ocorre na origem, consequentemente, não surgem novos líderes potenciais com interesse em assumir a direção nas cooperativas”, exemplifica a gerente do Sistema OCB.
Os cursos e os programas
Para tornar o processo mais suave e harmônico, várias cooperativas criaram cursos e programas que tem como objetivos preparar os herdeiros na sucessão das cooperativas agropecuárias. Um deles é o Programa Herdeiros do Campo da Coabriel. Ele aborda a sucessão familiar dentro das propriedades rurais. A metodologia foi desenvolvida pelo Sistema FAEP / SENAR-AR/PR (Federação da Agricultura e Pecuária do Paraná e Senar da região).
O programa foi trazido para o Espírito Santo de forma inédita, por meio de um projeto-piloto, com as entidades de Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Espírito Santo (SENAR-AR/ES), a Federação de Agricultura e Pecuária do ES (FAES), em parceria com o Sindicato Rural de São Gabriel da Palha, Sistema OCB/ES e Cooabriel, que tem sede em São Gabriel da Palha, cidade onde também foi ministrado o curso.
A turma piloto realizou a formação de 9 famílias cooperadas, em maio deste ano. Devido ao sucesso do programa, foi iniciada uma nova fase do projeto com três turmas, que contarão com 33 famílias cooperadas, em três municípios: Águia Branca, Aracruz e Nova Venécia.
A Cooperativa Agroindustrial Copagril, lançou, o programa de sucessão familiar Legado do Agro Copagril, que é voltado às famílias dos associados da cooperativa. Elói Darci Podkowa, diretor-presidente da Copagril conta que seu objetivo é incentivar os pais e filhos a trabalhem juntos, visando à continuidade dos negócios das famílias no campo. “A transição de gerações é onde os conhecimentos, valores e tradições da família são transmitidos de pais para filhos”, lembra Elói.
Outra cooperativa que tem investido em cursos de auxílio às sucessões é a Sicredi Pioneira do Rio Grande do Sul. O Programa Sucessão Rural Familiar da Sicredi Pioneira foi criado em 2017, por uma comissão composta por coordenadores de núcleo, associados, conselheiros de administração, coordenador do Centro Regional de Formação Profissional de Agricultores de Nova Petrópolis, o Assessor de Negócios Agro e colegas da Gerência de Relacionamento para concepção do programa. O programa já atendeu 126 famílias, o que representa 350 pessoas.
Alini Cossul Martinelli, Coordenadora Programas Sociais, da Sicredi Pioneira do Rio Grande do Sul relata que a cooperativa vinha observando que muitos jovens estavam saindo das propriedades e os pais sentindo-se incapazes de mostrar no campo um bom lugar para viver e prosperar. “Criamos o programa para apoiar a continuidade do negócio familiar; profissionalizar a propriedade rural; contribuir na clareza dos papeis na gestão da propriedade; melhorar a qualidade de vida. O curso é baseado em três pilares, com abordagens indiretas em gestão de conflitos familiares, mercados de novos negócios e liderança na comunidade. Instrumentalizamos as famílias com ferramentas de planejamento, metodologias de gestão, inovações tecnológicas e proporcionando um “olhar” para esse processo decisório de médio a longo prazo. Realizamos módulos aos sábados com pais e filhos juntos e ao longo do programa. As famílias recebem visita em suas propriedades para ter um olhar individualizado para cada família e sua necessidade”, finaliza Alini.
Por Priscila Gorzoni – Redação MundoCoop
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