Presente no quinto princípio cooperativista, a educação é compromisso das cooperativas ao desenvolvimento técnico e comportamental de seus profissionais e fundamental à administração das constantes atualizações do mercado
Entre depósitos, pagamentos, transferências, conferências contábeis, Ana Carpenedo sempre consegue um tempinho para acrescentar mais um item à sua coleção. O que ela coleciona? Conhecimento. Formada em administração de empresas, Ana trabalha no caixa da agência Cresol Liderança, de São João (PR). Desde que passou a trabalhar na cooperativa, há cinco anos, seu rol de cursos só faz crescer. Já são quase 50.
Colabora a esse desejo por novos aprendizados a cooperativa, desde a integração do novo funcionário, disponibilizar cursos e treinamentos corporativos. A possibilidade de estudar durante o horário de expediente é outro fator que a estimula a manter a agenda de estudos ativa. “Deu uma folguinha? Aproveito e volto ao curso me atualizar”, diz. Dentre os temas estão ética e conduta, gestão de risco, matemática financeira, prevenção a crimes de lavagem de dinheiro e até comunicação e oratória.
“Além de ensinar e atualizar para o trabalho do dia a dia, os cursos da cooperativa proporcionam outros conhecimentos relevantes para a vida mesmo” – Ana Carpenedo, funcionária da Cresol Liderança
Ana acaba de finalizar uma atualização, e já planeja os próximos cursos a integrarem a ‘coleção’ em 2022. “É de suma importância investir em pessoas, no desenvolvimento delas, porque delas depende o resultado do negócio. A educação corporativa tem o grande objetivo de elevar a excelência organizacional desenvolvendo colaboradores”, indica o gerente de Educação do Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE), Kleberson Rodrigues.
Uma educação Personalizada
Diferente da educação convencional, que é moldada para atender de forma ampla e geral as necessidades das pessoas e empresas, as soluções de educação corporativa nascem da análise da organização, compreendendo objetivos estratégicos, as deficiências e necessidades específicas dos empregados. São apresentadas, portanto, sob medida à organização. Por isso, mais assertiva que a convencional. “Ela não é um produto na prateleira, que você apenas consome. É desenvolvida junto com a cooperativa, entendendo as necessidades daquele público-alvo”, sublinha Rodrigues.
A educação corporativa acontece ao se desenvolver, implantar e consolidar competências críticas e essenciais à cooperativa. As críticas dizem respeito aos conhecimentos que todos os empregados devem ter sobre o negócio. As essenciais trabalham a formação a partir de elementos basilares como missão e propósito organizacional, ensina Rodrigues.
A carga horária e o formato dos conteúdos são variáveis, estruturados de acordo público ao qual se destinam, levando em conta área de trabalho do funcionário, nível de conhecimento prévio etc., para que os conteúdos sejam relevantes e possam ser consumidos da forma mais proveitosa possível. Pode-se incluir, por exemplo, aulas expositivas (ao vivo ou gravadas), podcasts, e-books, palestrantes nacionais ou internacionais entre outros. Além disso, no ensino tradicional, os programas são reconhecidos pelo órgão regulamentador (Ministério da Educação). Já no processo de educação continuada da educação corporativa, isso não necessariamente acontece.
A educação corporativa acaba também sendo uma forma de multiplicar a doutrina cooperativista. “Isso acontece nas trilhas de aprendizagem dos programas de treinamento, que sempre passa por esses conceitos de valores voltados ao cooperativismo”, aponta Eduardo Pitombo, professor de pós-graduação em Gestão da Educação Corporativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além disso, é importante manter atenção à metodologia adotada, porque “a teoria tem de estar muito alinhada com a prática. É importante que ocorra esse link entre teoria e prática, entre metodologia e desempenho”, salienta.
Tão importante quanto saber o quê e como fazer é ter postura adequada diante dos desafios imprevisíveis da atividade. E, lembra Pitombo, as experiências têm mostrado às empresas que as pessoas de fato querem além de conhecimento técnico. Portanto, conhecimentos comportamentais, que auxiliem nas situações de vida, tanto internas quanto externas ao ambiente de trabalho, também devem estar no portfólio.
Trilhas de desenvolvimento
A Cresol é uma das cooperativas que já compreendeu essa necessidade. E faz da educação corporativa um meio de propagar a cultura cooperativista. Além de cursos institucionais e obrigatórios ao trabalho interno dos profissionais, oferece qualificações mais gerais, voltadas a complementar a carreira de cada profissional. “Nossa instituição se torna melhor investindo na educação de nossos profissionais”, assegura José Vandresen, gerente do Instituto Cresol. Os reflexos disso são sentidos tanto no orgulho que Ana demonstra ao descrever seu desenvolvimento profissional, quanto na eficácia dos trabalhos das equipes e até no clima organizacional.
Para facilitar o acesso de seus públicos, a cooperativa investe na educação a distância. Uma trilha de conhecimentos direciona o desenvolvimento dos empregados, em evolução gradual e que lhes faça sentido. Os conteúdos oferecidos são desenvolvidos por profissionais internos e também por parceiros externos à cooperativa, como instituições de ensino. Sendo um princípio cooperativista, a educação corporativa não fica restrita aos empregados. Comunidade e cooperados também são beneficiados. São cerca de 440 horas disponíveis de cursos, que contemplam inclusive o público infantil.
Investimento em educação visa acompanhar as mudanças do mercado
Há dez anos a C.Vale criava uma universidade corporativa para atender o desafio de formar profissionais à cooperativa, principalmente a cargos de gestão e área técnica. Atualmente, ela abrange todas as áreas e níveis hierárquicos, desenvolvendo formação técnica, graduação ou pós-graduação, comportamental e certificações. “A educação é uma necessidade para acompanhar as mudanças do cenário técnico e também trabalhar as questões comportamentais”, considera Sandra Cantú Hendges, gerente de Desenvolvimento Humano da C.Vale.
A intenção dos profissionais em permanecer por longos períodos na cooperativa e evoluir internamente é um termômetro do reflexo de todo esse investimento. Para Sandra, a educação corporativa, por ser personalizada, é a forma mais eficiente de levar conhecimento a funcionários, cooperados e comunidade. “Hoje, pela velocidade das mudanças que acontecem nos negócios, o principal desafio é que as pessoas consigam aprender em menos tempo, porque as coisas mudam muito rápido, as necessidades do negócio, o contexto, são muito dinâmicos”, comenta. Na C.Vale, em 2021, até outubro, foram realizados 616 eventos educativos, que levaram conhecimento a 11 mil participantes.
“A empresa historicamente vem dobrando de tamanho a cada quatro anos. E, cada vez mais, precisa de pessoas qualificadas, que acompanhem essa velocidade de crescimento. A Universidade C.Vale dá sustentação a essa demanda” – Sandra Cantu Hendges, gerente Desenvolvimento Humano da C.Vale
Escolas Sicoob têm o desafio de manter uma educação nacional
Criada em 2014, a universidade corporativa do Sicoob desenvolve seus mais de 45 mil profissionais espalhados pelo Brasil. “A universidade tem como papel suportar a visão de futuro do Sicoob, viabilizando a integração do Sistema, a expansão dos negócios e a perpetuação dos valores do cooperativismo”, aponta Tatiana Matos, superintendente de Educação Corporativa do Sicoob.
Um grande desafio é levar uma educação que seja útil aos funcionários, de norte a sul do país, mantendo a unicidade do Sistema. A estratégia educacional se baseia em quatro pilares, chamados ‘Escolas’. São elas: Cooperativismo, Cultura e Cidadania (que gera valorização da marca e do cooperativismo); Excelência Operacional (para melhoria das atividades internas, representa mais de 40% do portfólio); Negócios (desenvolve ambiente adequado ao cooperado, uma fatia de 25% dos cursos); e Liderança e Governança (cursos online e presenciais). E as trilhas de conhecimento também sempre procuram equilibrar o desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais.
Dessa forma, a cooperativa pretende fortalecer a identidade e valor da marca; engajar as pessoas ao propósito organizacional; inspirar comportamentos alinhados à cultura interna; intensificar a atuação sistêmica e a intercooperação. “Acreditamos que empregados bem preparados melhoram a eficiência da cooperativa; além de se envolverem mais na melhoria contínua dos processos e atividades, gerando um ambiente de maior desempenho e colaboração”, avalia Tatiana.
Do portfólio educacional, com 280 cursos online, 180 são desenvolvidos diretamente pelo Sicoob. Por meio desse canal, em 2021, foram capacitadas 51 mil pessoas. Há ainda 47 cursos disponíveis aos cooperados, por meio de plataforma online, e em 2022, a instituição planeja ofertar cursos também à comunidade.
“Ajudar nosso profissional a se adaptar às mudanças impostas neste novo cenário, a lidar com a tecnologia e com as estratégias de negócio, sem perder a essência cooperativista, será o grande desafio a partir de agora” – Tatiana Matos, superintendente de Educação Corporativa do Sicoob
Por Nara Chiquetti – Matéria publicada na Revista MundoCoop, edição 103
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