Nos últimos anos, o cooperativismo educacional ganhou novo fôlego no Brasil ao mostrar que é possível aliar pedagogia, inclusão social e desenvolvimento comunitário. Essa transformação tem sido viabilizada pela maneira como as instituições cooperativas se relacionam com seus educadores, alunos e comunidades, promovendo um ensino participativo e consciente.
Uma das referências desse movimento é a Cooperativa de Trabalho dos Profissionais em Educação da Região Sul do Brasil (COEDUCARS), que atua há mais de 20 anos promovendo formação com base nos princípios cooperativistas.
Em entrevista exclusiva à MundoCoop, Fátima Hallal, presidente da COEDUCARS, compartilha como a educação tem sido uma ponte sólida para o avanço do cooperativismo em diferentes regiões. “Acreditamos que a educação é a semente do cooperativismo. Ao formar pessoas conscientes, éticas e participativas, estamos construindo as bases de uma sociedade mais justa e colaborativa”, afirma Hallal.
Educação com raízes profundas
A atuação cooperativa também se espalha pelo interior do Brasil levando inovação e autonomia para escolas agrícolas. No Paraná, 21 colégios agrícolas e florestais foram transformados a partir da regulamentação das cooperativas-escola, que oferecem aos estudantes uma vivência prática e participativa da gestão educacional e produtiva.

O Colégio Agrícola da Lapa é um dos destaques dessa nova fase. Nele, os alunos participam das decisões, realizam manutenções, investem em infraestrutura e integram teoria e prática de maneira inédita. Tais ações contribuem ativamente para a mudança de paradigma, que transforma o entendimento sobre engajamento, consciência e autogestão.
O impacto positivo dessas experiências também é sentido em estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Neles, a cooperativa lidera projetos como Educando para o Campo e Semear, voltados à valorização do meio rural e ao fortalecimento do protagonismo juvenil. As iniciativas, realizadas em parceria com cooperativas locais, integram formação cidadã, capacitação profissional e preservação ambiental.
Para Fátima, o fortalecimento da educação no campo demonstra o potencial da educação cooperativista para a transformação do ensino nas comunidades rurais. “Quando o jovem aprende, desde cedo, a trabalhar em equipe e a gerir recursos de forma consciente, ele se torna um agente de transformação para sua comunidade”, avalia.
Formação e transformação
O impacto da educação cooperativista vai além do currículo tradicional e é ampliado pela proposta pedagógica baseada na solidariedade e na participação coletiva.
Fátima explica que as cooperativas educacionais promovem o desenvolvimento de competências éticas, empreendedoras e sociais, o que resulta no éticas e sociais, capazes de impactar diretamente a vida pessoal e profissional dos educados e educandos. “O nosso ensino vai além do conteúdo. Formamos cidadãos preparados para construir soluções conjuntas e atuar de forma ética em qualquer espaço social”, aponta
A COEDUCARS exemplifica esse compromisso com programas como o Jovem Aprendiz Cooperativo, cursos de liderança e empreendedorismo, sempre voltados para a inclusão social e a capacitação profissional.
Essas ações fortalecem redes locais e criam oportunidades inúmeras comunidades nas quais as escolas estão presentes. “A formação educacional fortalece não apenas o indivíduo, mas também o tecido social das comunidades. Quando investimos na juventude, na capacitação de mulheres e na formação de lideranças, geramos desenvolvimento sustentável em várias frentes”, reforça a dirigente.
Essa abordagem também se reflete no sucesso das cooperativas educacionais no Espírito Santo, como a Coopesma e a Coopeducar, que se destacaram entre as melhores escolas no Enem 2024.
A Coopesma, do município de São Mateus, alcançou média geral de 637,7 pontos, segundo melhor desempenho histórico, e se destacou especialmente na Redação, com 847,6 pontos. Já a Coopeducar, de Venda Nova do Imigrante, obteve média de 635,4 pontos, com a melhor nota em Redação desde sua fundação, 826.
Ao Sistema OCB/ES, Zenilza Pauli, diretora pedagógica da Coopesma, diz que os resultados são fruto de um trabalho coletivo pautado em metas claras e valorização dos professores. “Estamos há 11 anos com o melhor resultado do Enem entre as escolas privadas da região”, afirmou.
Esses exemplos reforçam a eficácia do modelo cooperativista na construção de ambientes de aprendizagem mais conectados com a realidade local. Além disso, o investimento na valorização dos profissionais da educação mostra que o cooperativismo pode ser um diferencial competitivo na qualidade do ensino.
Educação com propósito
O impacto do cooperativismo na educação também se reflete em programas que unem inovação e transformação social. Um dos maiores exemplos é o A União Faz a Vida, promovido pela Fundação Sicredi. Com 30 anos de existência, o programa já beneficiou mais de 5 milhões de crianças e adolescentes em 15 estados brasileiros, oferecendo uma proposta pedagógica baseada em projetos cooperativos.
A experiência do programa demonstra que o cooperativismo, mais do que um modelo econômico, é uma ferramenta para a formação cidadã. A habilidade do setor em aproximar estudantes, famílias, educadores e cooperativas, cria uma rede de compromisso com o bem comum e com o desenvolvimento local.
Essa mesma lógica orienta a gestão de Fátima Hallal, que atua para ampliar as ações de formação para públicos diversos por meio de parcerias com o Sistema Ocergs/Sescoop e a Federação das Cooperativas Educacionais do RS (FECOEDUC). “Nosso foco está em capacitar para a vida. Acreditamos que toda comunidade pode ser protagonista do seu próprio desenvolvimento quando tem acesso à educação de qualidade e à cooperação verdadeira”, conclui Hallal.
Por João Victor, Redação MundoCoop