Uma das essências da filosofia cooperativista é o trabalho em conjunto, não apenas com a sociedade, mas agregando em seus projetos, os conhecimentos e as iniciativas de outras cooperativas, empresas e startups.
Esse trabalho coletivo, por meio das parcerias, que vem crescendo cada vez mais dentro das cooperativas, é conhecido como intercooperação. Além dele fortalecer os negócios, impulsionam as inovações dentro das organizações e solucionam os problemas atuais.
Alguns dos benefícios da intercooperação que envolvem as inovações digitais são as mudanças nas lógicas econômicas canalizadas pela tecnologia e inteligência artificial, ampliando as suas áreas de atuação e aprimorando os relacionamentos com os clientes e cooperados.
As vantagens vão desde a possibilidade de ganhos de escala, nova forma de realizar negócios, ampliação na divulgação de seus produtos e serviços, redução na competitividade entre as cooperativas, entre outros.
Os especialistas garantem, as cooperativas, que trazem para o seu dia a dia os princípios do trabalho em parceria, despertam em seus cooperados, associados e funcionários a mentalidade da colaboração em torno de um bem em comum. No entanto, para isso é importante propiciar um ambiente receptivo ao novo.
No caso das cooperativas, isso não tem sido um problema, já que carregam em seu cerne o trabalho colaborativo. Quando pessoas envolvidas em pensar e agir diferente se unem, isso facilita a condução e os processos de criatividade coletiva.
Guilherme Souza Costa, Gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB, destaca os formatos de inovação aberta e intercooperação, como os melhores impulsionadores dos negócios das cooperativas.
A inovação aberta envolve a articulação de diversos atores e demanda uma estrutura específica para viabilizar o teste de novas soluções para os desafios das cooperativas.
“Ela é um modelo de colaboração em que a organização busca no mercado parceiros para integrar ao negócio e acelerar processos de inovação. Um grande benefício da inovação aberta é a colaboração com especialistas para o desenvolvimento de projetos que normalmente não são dominados pela cooperativa”, indica Souza.
Já a intercooperação, segue um dos sete princípios do cooperativismo, e permite uma maior colaboração entre as cooperativas. “Dessa forma, elas compartilham competências e otimizam o uso de seus recursos, garantindo mais resultado e maior competitividade”, indica Guilherme. O especialista explica que as parcerias potencializam a disseminação de iniciativas inovadoras em todos os campos, desde unindo forças, recursos tecnológicos, base de cooperados, clientes até o impacto e a viabilidade de novos projetos.
O processo envolve as organizações de várias maneiras, como por exemplo, trazendo transformações digitais, virtuais e modernizações econômicas para as cooperativas. Um dos pontos principais desse processo é adotar diversas estratégias para identificar e estabelecer boas parcerias.
Algumas delas são fazer uma avaliação de reputação, realizar pesquisas de mercado para coletar referências e executar feedbacks do setor. Além disso, análises financeiras e legais são essenciais para assegurar a ausência de problemas que possam afetar a parceria.
Quanto ao alinhamento de objetivos, é importante que os canais de comunicação estejam bem estabelecidos e as estratégias futuras, claramente definidas e planejadas.
“Na estruturação das formalidades, é importante que contratos e acordos sejam detalhados, garantindo a proteção da propriedade intelectual e o entendimento mútuo dos termos. Incluir mecanismos de resolução de disputas nos contratos é fundamental para gerenciar possíveis desentendimentos. Outro ponto a ser observado é a relação ganha-ganha, sempre conduzindo a negociação para o benefício mútuo entre as partes”, lembra o Gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB.
Parcerias com Startups
As parcerias das cooperativas com startups têm resultado em boas soluções para as organizações, que desejam encontra formas de lidar com os seus desafios atuais. Os dinamismos e ambientes inovadores são propícios para as organizações encontrarem respostas para as suas dificuldades.
Foi o que ocorreu com a Unimed Natal, que fez parcerias com a BRbrots e ampliou a sua capacidade de atendimento, além de eliminar as filas, com o uso de chatbots e inteligência artificial. O resultado dessa inovação foi uma economia de mais de R$ 500 mil.
Outra cooperativa que investiu em parcerias e trouxe benefícios para os seus serviços foi a Unimed Poços de Caldas, que se uniu a startup Safety4me e ampliou os seus canais com os pacientes e os seus familiares. Por meio do programa NetPromoter, os clientes recebem informações sobre as metas internacionais de segurança do paciente e a organização sobre a percepção dos clientes.
Alguns dos projetos entre cooperativas e startups estão o Plataforma.Space, executado pelo Sicoob Empresa RJ, o InPulse Ailos, Frísia Digital Agro, e o Inovar Juntos.
Percebendo que o sistema de parcerias pode ser uma forte aliada das cooperativas em temos de crises e desafios, o Sistema OCB criou a plataforma NegóciosCoop. Nela as organizações conseguem conhecer e comprar os produtos e serviços uma das outras.
Se para as cooperativas encontram nas startups agilidade, alavancas para os seus negócios, por outro lado, suprem os seus períodos de escassez em capital de risco.
Por isso, durante esse relacionamento, as organizações podem tirar muito mais dessa parceria, do que bons negócios, como por exemplo aproximar as lideranças, os times, aprenderem com os erros, desenvolverem ambientes mais criativos, transformar o risco em necessidade e passar a valorizar os seus talentos internos.
Para que o trabalho coletivo resulte em sucesso, é importante estar atento para alguns pontos, entre eles a confecção de um contrato para evitar eventuais problemas futuros.
“Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o contrato inicial, para as definições do que poderá vir a ser a parceria e quais as intenções de cada parte envolvida, são muito mais importantes do que um contrato principal quando o negócio já estiver mais bem desenvolvido e com os direcionamentos claro sobre as obrigações de cada uma. Saber e discutir claramente quais serão os caminhos dessa parceria, alinhando as expectativas do negócio de forma prévia, é ponto vital para o sucesso”, lembra Lorena Lage, CEO e Co-fundadora da L&O Advogados.
Estudos aponta que as parcerias trazem bons frutos
A intercooperação só oferece pontos positivos, sobretudo quando o tema é amparado por estudos, um deles produzido para o 6º Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo (EBPC), pelos pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), apontou que as organizações que se conectam com outras geram conhecimento coletivo e aumentam o seu potencial para a inovação.
O foco da pesquisa foi o setor agropecuário, que apontou na realização de parcerias o auxilia nas transferências de inovações de tecnologias, acesso aos diferentes recursos e aos processos entre as cooperativas. Eles possibilitam a otimização das organizações por meio do desenvolvimento de redes.
Alguns exemplos disso são a CoopMode, um projeto criado em 2021, no estado do Paraná. Ele envolveu várias cooperativas do setor agroindustrial, como a Frísia, Castrolanda, Capal e se estrutura em três pilares, o da cultura da inovação, realização de projetos conjuntos, conexão com ecossistemas de inovação.
Outros exemplos de intercooperações são a da CCGL, fundada em 2018 pela Rede Técnica Cooperativa. Ela reúne 300 cooperativas e 800 técnicos de especialidades diversas. O objetivo é desenvolver soluções inovadoras que atendam aos problemas enfrentados pelas cooperativas.
A Fundação ABC, é um instituto de pesquisa agropecuário privado mantido por mais de 5 mil cooperados da Frísia, Castrolanda e a Capal. Ela tem como objetivo desenvolver e adaptar as tecnologias para o agronegócio, oferecendo alternativas inovadoras.
A Cooperacción Verde foi criada em 2009 e é resultado da parceria de 52 cooperativas colombianas de ramos diversos. Sua função é executar projetos de reflorestamento, compensação de pegada de carbono e recuperação de solo.
Como escolher as parcerias e fazer dar certo
Um dos pontos cruciais para o início da intercooperação ou inovação aberta é a identificação dos parceiros ideais. Guilherme explica que para fazer essa definição é fundamental se atentar para as necessidades das cooperativas.
“É necessário avaliar a reputação, incluindo análises financeiras e legais. Posteriormente, é essencial garantir um alinhamento de objetivos, o que permitirá uma parceria duradoura e produtiva. Esse alinhamento deve ser acompanhado por uma comunicação eficaz que permitirá entregas bem-sucedidas. Por fim, é preciso estruturar as formalidades, que abrangem desde a proteção da propriedade intelectual até a definição clara dos papéis e responsabilidades de cada parte envolvida. Dentre as principais parcerias para a inovação aberta podemos citar fornecedores, clientes, universidades, concorrentes e startups. Para a intercooperação, a parceria entre cooperativas é a essência da estrutura de relacionamento e dessa forma elas cooperam para trazer melhores condições para seus associados”, finaliza Costa.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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