A Aliança Cooperativa Internacional (ACI) celebrou o rascunho da Declaração Política de Doha, aprovado em consenso pelas Nações Unidas, que será formalmente adotado na Segunda Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social, de 4 a 6 de novembro, no Catar. O documento ressalta o papel das cooperativas e da economia social e solidária como motores da erradicação da pobreza, da inclusão social e da construção de um futuro sustentável.
Segundo a declaração, os Estados-Membros da ONU comprometeram-se a apoiar o empreendedorismo e criar ambientes propícios, em especial para mulheres, jovens, idosos e pessoas com deficiência, incluindo mecanismos inovadores que envolvem micro, pequenas e médias empresas, cooperativas e iniciativas de economia solidária.
O reconhecimento da ONU reforça a relevância do modelo cooperativo para a Agenda 2030 e destaca a contribuição do setor para a geração de trabalho digno, democracia econômica e fortalecimento comunitário. Para Ariel Guarco, presidente da ACI, trata-se de uma reafirmação de que as cooperativas são indispensáveis diante dos desafios globais de desigualdade, desemprego e mudanças climáticas.
Além disso, a ACI lidera o Círculo de Liderança de Cooperativas e Mútuas (CM50), que será oficialmente lançado em Doha, reforçando compromissos do movimento cooperativo em áreas como resiliência climática, igualdade de gênero, transformação digital e participação democrática.
Inclusão e oportunidades: cooperativas transformando realidades locais
Nesse cenário de reconhecimento global, experiências regionais apresentadas no Brasil reforçam como o cooperativismo tem emergido como liderança para a criação de oportunidades concretas de desenvolvimento social e econômico. No Espírito Santo, a comunidade quilombola de São Pedro, em Ibiraçu, avança para formalizar sua própria cooperativa.

Os agricultores, familiares e mulheres, que já comandam uma padaria local, veem na iniciativa a chance de ampliar a renda e fixar jovens na região, preservando tradições e fortalecendo a identidade quilombola.
Para o agricultor João Marcos Vicente, de 27 anos, a cooperativa pode gerar emprego e novas oportunidades. Ele conta que a ideia amadureceu ao longo dos anos, à medida que a comunidade foi compreendendo melhor o funcionamento do modelo cooperativo e suas vantagens. “Estamos fazendo isso para os mais novos não irem embora e trazer os que já foram, para agregar valor à nossa comunidade”.
A transição de associação para cooperativa permitirá a comercialização formal de produtos agrícolas e artesanais, abrindo espaço para contratos maiores e participação em programas de compras públicas. A proposta já conta com apoio do Sebrae e do Sistema OCB-ES, que orienta o grupo sobre as etapas de formalização e sustentabilidade.
Outro exemplo de geração de impacto social vem da Taça das Favelas, em Goiânia. O campeonato apoiado pela cooperativa financeira Sicredi é considerado como o maior torneio de futebol entre comunidades do país. Além do patrocínio, a instituição promoveu ações de incentivo e integração social, afim de valorizar o protagonismo juvenil. “Temos muito orgulho em fazer parte dessa jornada ao lado das comunidades”, afirmou Celso Figueira, presidente da Central Sicredi Brasil Central.
Saúde, dignidade e reinserção social: o alcance do cooperativismo
Assim como na geração de renda e no fortalecimento comunitário, o cooperativismo também demonstra sua capacidade de transformar realidades ao enfrentar desafios sociais estruturais.

No campo da saúde pública, o Programa Saneamais, do Sistema Ailos, já beneficiou mais de 10 mil pessoas em Santa Catarina. A iniciativa oferece crédito orientado para obras domésticas de água e saneamento, como banheiros, filtros, caixas de gordura e sistemas de reaproveitamento de água da chuva. Para Sabrina Garbari Cipriani, de Nova Trento, a cooperada que construiu um banheiro em seu salão de beleza, a mudança foi decisiva: “Agora, quando as clientes vêm, elas já podem usar o novo banheiro, construído com todo amor e carinho”.
Segundo Paulo Henrique Tomas da Silva, coordenador de Crédito da Central Ailos, o programa reafirma a dupla missão do cooperativismo: promover inclusão social e garantir sustentabilidade econômica.
Essa multiplicidade de impactos também se evidencia em iniciativas voltadas à reinserção social. No Pará, a Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe) mostra como o cooperativismo pode apoiar a ressocialização. Formada por mulheres privadas de liberdade, a cooperativa participou da 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro, em Belém, expondo peças artesanais e bordados produzidos pelas detentas.
Débora Bianca, integrante da Coostafe, destaca a importância da visibilidade conquistada e descreve a oportunidade como um passo essencial para reconstruir vínculos e abrir caminhos após o cumprimento da pena. “É muito gratificante! A gente conhece pessoas, conta nossa história. Muitas se emocionam”, aponta.
Fonte: Aliança Internacional das Cooperativas com adaptações da MundoCoop