Inovar é um fator determinante no atual momento do mercado e da sociedade. Para firmar os pés e resistir ao tornado de ideias que surgem a todo momento, buscar novas formas e ângulos de se ver o mundo é vital para encontrar formas de se destacar. É neste contexto, que a criatividade tem sido vista como uma soft skill essencial para futuros líderes e pessoas como um todo. Afinal, como pensar o novo em um mundo onde todos estão na mesma incessante busca?
Estimular a criatividade no mundo corporativo é uma das missões da World Creativity Organization (WCO), que atua globalmente na conscientização sobre o valor da criatividade como matéria-prima para a solução de problemas. No Brasil, eles realizam anualmente o World Creativity Day, reunindo vozes que estimulam a ideia de pensar a criatividade como motor de toda e qualquer mudança efetiva.
Para compreender como a criatividade e a inovação se retroalimentam, a MundoCoop conversou com o Diretor-Executivo da World Creativity Day, Luiz Serafim. Ele fala sobre os desafios para navegar em um mundo cada vez mais desafiador e destaca o papel do indivíduo e da sociedade, no desenvolvimento do pensamento criativo pleno.
Confira na íntegra!
O mundo corporativo está em constante evolução e temas como criatividade e inovação estão entre os mais citados por lideranças no mundo todo. Como esses tópicos se correlacionam? A inovação desenfreada é uma ameaça à criatividade, sobretudo na era da I.A?
Há duas décadas, o mundo empresarial passou a priorizar inovação, buscando gerar valor via novos produtos e serviços, modelos de negócio, tecnologias, conexões com o ecossistema. Por outro lado, até hoje olham para a criatividade com olhos desconfiados, pensando que é coisa de artista. O problema é que criatividade está no início do processo de inovação. Eis um grande paradoxo.
Por outro lado, quanto mais a automação e IA aceleram, mais são valorizados o pensamento criativo e outros talentos sócio-emocionais afins como curiosidade, flexibilidade e aprendizagem contínua. Então, ao contrário de uma ameaça, talvez seja um estímulo surpreendente para investirmos finalmente na criatividade dentro das organizações, impactando de maneira mais robusta o processo de inovação.
O último relatório do World Economic Forum sobre o Futuro dos Empregos, apontou o pensamento criativo no segundo lugar entre as soft skills mais importantes. Que papéis o mercado e o indivíduo desempenham no desenvolvimento dessa soft skill?
O indivíduo é o protagonista. Cada pessoa, no processo de autoconhecimento, precisa identificar seus talentos, áreas de interesse e paixões que lhe fazem mover, estudar, empreender, por seus talentos para jogar e gerar ideias e oportunidades de inovação. Temos que aprender sempre, e não só por cursos e conteúdo, mas também vivendo experiências, construindo conexões múltiplas fora de nossas bolhas, participando de projetos paralelos, nos especializando em algumas áreas, mas ampliando o repertório com outros saberes e vivências.
O mercado se transforma pela demanda de pessoas e empresas, gerando um novo ecossistema de aprendizagem voltado para desenvolver esses skills, com novas metodologias pedagógicas, ferramentas e formatos de cursos, novos ambientes, oportunidades e modelos de trabalho, novas carreiras e tecnologias, entre outros.
“A alavanca para inovar é construir verdadeira cultura de inovação por meio do desenvolvimento de líderes, que valorizam as pessoas como elemento principal”
Enquanto em alguns setores há uma maior abertura para novos processos e abordagens, outros continuam atuando por meio de vias tradicionais, arriscando pouco. Qual é o perigo de deixar a inovação e a criatividade em segundo plano? Como estimular o exercício destes dois temas, em ecossistemas inflexíveis?
O risco para a empresa que não inova é desaparecer. A todo tempo, as expectativas das pessoas mudam, tecnologias aceleram, reconfigurações demográficas acontecem, pressões surgem do meio-ambiente, economia e leis. Para continuarem relevantes, as empresas precisam se adequar aos novos cenários com melhorias contínuas, inovações incrementais e revoluções disruptivas.
A alavanca para inovar é construir verdadeira cultura de inovação por meio do desenvolvimento de líderes, que valorizam as pessoas como elemento principal e que, em seus microcosmos, promovam a visão de centralidade no cliente, mentalidade de transformação e aprendizagem contínua, atitude colaborativa, ambiente seguro e diverso. Nunca é demais ressaltar que a alta liderança das organizações e dos agentes do ecossistema precisa estar comprometida com essa transformação permanente, orientando a visão estratégica de futuro. Sem isso, a inovação naufraga.
Inovar e ser criativo deixou de ser um fator de diferenciação, para se tornar mandatório. No futuro que se desenha para o mercado, como posicionar o seu negócio de forma assertiva? Ainda há espaço para “negócios legado”?
Não há espaço para negócios legados que rapidamente se tornam obsoletos. Não significa que devemos rejeitar o passado. A herança cultural é valiosa e define quem somos hoje, mas ficar paralisado enquanto se atua em cenário volátil, incerto, não-linear, com mudanças aceleradas, só aponta para o fim da linha.
Daí a importância de implementar a cultura de inovação por toda a empresa, não só num único departamento, na área de P&D ou TI. Todos temos que aprender, em todas as áreas da organização, a captar sinais, visualizar futuros prováveis e empreender em projetos que nos levem a um futuro desejável; precisamos aperfeiçoar nosso foco nos clientes para levantar as melhores oportunidades de criação de valor; temos que desapegar do jeito que fazíamos para checar se há alguma novidade promissora no mercado, no competidor, na universidade, em outro segmento; devemos nos abrir e interagir mais com o ecossistema, entre vários outros passos.
Mas sempre destaco a importância de se ter uma estratégia para evitar voos de galinha, programas efêmeros, projetos barulhentos sem impacto. A organização precisa definir um certo mapa com os objetivos que deseja alcançar, as capabilidades que quer desenvolver, as soluções e modelos de negócio que ambiciona oferecer, suas aspirações para se manter relevante num cenário de profundas transformações.
A cooperação tem se consolidado como um importante pilar dos negócios do futuro, estando presente no DNA das cooperativas. Partindo desta visão, o que as cooperativas podem ensinar ao mercado corporativo? Qual o resultado possível da união entre Inovação, Criatividade e Cooperação?
Sou fã do cooperativismo que, com 180 anos de história, segue como fenômeno contemporâneo, brutalmente inovador na moldura da década atual. Seu funcionamento se baseia num dos principais pilares da inovação que é a colaboração.
Além disso, nos últimos anos, as cooperativas dedicaram muita energia para desenvolver conhecimento e competências traduzidos em tecnologias, processos e serviços que revolucionaram a produtividade. As cooperativas têm impacto significativo na produção brasileira de leite, soja, milho, café, laranja, suínos, aves, peixes e em muitos outros setores por conta da inovação implementada nas mais diversas dimensões e em várias etapas da cadeira de valor.
Acrescentaria ainda inspirações bem pertinentes para os dias de hoje como a preocupação genuína e o consequente impacto positivo de projetos das cooperativas junto às comunidades, ao meio-ambiente, na educação, no desenvolvimento social. Esses são alguns frutos, com o olhar do desenvolvimento sustentável, dessa mistura poderosa de cooperação, criatividade e inovação que o cooperativismo vem oferecendo ao mundo.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
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