“Cooperativas Constroem um Mundo Melhor”. É com esse mote, que 2025 representará um marco para o cooperativismo em todo o mundo. Assim como instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Ano Internacional das Cooperativas será um chamado para a reflexão sobre passado, presente e futuro de um movimento centenário.
Hoje, as cooperativas estão presentes no mundo todo. São mais de 3 milhões de cooperativas, que juntas possuem 1 bilhão de cooperados. Com a determinação da ONU, 2025 deve ver uma agenda global de ações que busquem fortalecer o movimento e mais, fazê-lo ser visto por mais pessoas, ampliando a sua capacidade de impacto.
Ao todo, os 193 estados-membros da ONU serão apoiados e incentivados, a colocarem em prática ações de cooperação técnica, garantindo ainda uma maior representatividade de lideranças cooperativistas em debates mundiais.
Mas na prática, o que esse ano significa para o setor?
É fato que o cooperativismo, através de seus sete ramos, se tornou um dos pilares das principais economias do mundo. A capacidade de transformação promovida pelo setor, foi construída ao longo de décadas e décadas, e se moldou diante de uma sociedade cada vez necessitada de negócios que olhassem para o cerne de tudo: as pessoas.
A escolha de 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas é uma sinalização dessa importância do setor, e joga os holofotes para que práticas já em andamento há décadas, sejam percebidas por aqueles que convivem com o impacto do setor, mas que ainda não fazem parte dele efetivamente.
“Nosso modelo de negócio fala a linguagem da preocupação com nossos associados e com as gerações futuras. Seja trabalhando com nossa cadeia de suprimentos e engajando coletivamente as organizações nos ODSs da ONU ou adotando estruturas ESG que medem as emissões e o impacto social, podemos nos responsabilizar e ser os principais promotores do fortalecimento das comunidades que enfrentam desafios existenciais”, destaca Pamela Agnone, Vice-Presidente Executiva da United Nations Federal Credit Union – UNFCU (em tradução livre, União de Crédito Federal das Nações Unidas); cooperativa de crédito americana, com sede em Long Island City, Nova York, e fundada em 1947 por funcionários das Nações Unidas.
A conexão das cooperativas com os ODS da ONU remete a tempos muito antes da definição dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Já em sua fundação, em 1844, na cidade de Rochdale, na Inglaterra, as cooperativas dialogavam com um modo mais humano de olhar para as relações de trabalho, promovendo justiça financeira e social. “Nosso trabalho de fazer o bem é uma forma de fazer negócio. Alinhamos nosso impacto global com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU como uma extensão de nossa missão, “servir as pessoas que servem o mundo”, complementa Agnone.
Momento oportuno
2025 chega para ser o Ano Internacional das Cooperativas em um momento estratégico. Nunca antes as cooperativas estiveram tão fortes no radar de organizações de fora do setor, sendo reconhecidas como verdadeiras forças socioeconômicas.
“Os olhos estão mais abertos do que nunca. Faz sentido que todos, de consumidores a governos, estejam buscando alternativas que demonstrem interesse em sustentabilidade, igualdade e disposição para colaborar para um bem maior – e não para um resultado financeiro. O movimento cooperativo está no epicentro desses esforços, e chegou a nossa hora de nos tornarmos os agentes de mudança que devemos ser e fazer com que o mundo saiba disso”, aponta Carlos R. Calderon, CEO da OAS FCU, instituição financeira cooperativa que atende pessoas na América do Norte, Central e do Sul.
Esse reconhecimento vem para além da ONU, e governos locais hoje integram as cooperativas em ações e programas de incentivo econômico e social. Em um exemplo brasileiro recente, as cooperativas – após extensas articulações de diferentes atores da sociedade – foram apontadas como primordiais para a retomada do Rio Grande do Sul após uma das maiores tragédias ambientais da história do Brasil. Na região, que concentra cooperativas com grande impacto na economia nacional, programas de crédito passaram a incluir não apenas bancos tradicionais, mas os principais sistemas de crédito cooperativo.
Para Calderon, o reconhecimento da força do setor vai além dos resultados econômicos comprovados ano após ano. Segundo ele, a forma como as cooperativas tem sido verdadeiramente abraçadas pela sociedade, reflete também um movimento de mudança das próprias pessoas, que encaram todas os aspectos da vida sob uma nova ótica.
“Observamos uma mudança em direção a um mundo mais responsável e consciente de nossas questões de desenvolvimento, meio ambiente, democratização dos serviços financeiros, inclusão financeira etc. E tenho o prazer de dizer que as cooperativas se alinham muito bem com essa mudança e com as novas prioridades sociais”, afirma.
Diante das expectativas que se formam no entorno desse modelo de negócio, olhar o modelo cooperativo de forma ainda mais profissional é uma necessidade atual, e essa profissionalização do movimento, que começou há décadas, entra na pauta das principais discussões que devem permear os debates ao longo de todo o ano comemorativo.
“Devemos nos lembrar de que estamos aqui para trabalhar juntos por um bem maior, que há força nos números. Isso significa deixar de lado as noções de concorrência entre cooperativas e vir à mesa para um diálogo aberto e com a boa vontade de ajudar todos a avançar juntos. É assim que teremos sucesso”, completa Calderon.
Promovendo a intercooperação
Entre os principais temas que devem entrar em foco no Ano Internacional das Cooperativas é a promoção e fortalecimento da intercooperação. Mais do que entre cooperativas de uma mesma cidade ou estado, nos últimos anos o diálogo entre coops de diferentes países tem sido cada vez mais presente, evidenciando a existência de uma só voz que represente o cooperativismo no mundo todo.
Para Thomas Belekevich, Diretor de Serviços aos Membros do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (Woccu), a proclamação da ONU inaugura um momento de grandes oportunidades para o setor, principalmente no que diz respeito a pautas urgentes, comuns a cooperativas do mundo todo.
“O reconhecimento das Nações Unidas amplifica a voz do movimento cooperativo no cenário global, oferecendo uma oportunidade poderosa de influenciar políticas, atrair investimentos e construir parcerias que possam impulsionar mudanças sistêmicas em direção a um mundo mais justo e sustentável”, destaca. Em um momento de divisão muito presente no mundo todo, Thomas acredita que as cooperativas são a melhor via para promover unidade. “Enquanto o mundo enfrenta desafios complexos, o modelo cooperativo oferece uma abordagem poderosa e centrada nas pessoas”, completa. Neste âmbito, o Ano Internacional deve ser – de fato – um momento chave para todas as cooperativas. Através de diálogos internacionais, este é o ponto decisivo que irá definir o futuro do setor.
Segundo Belekevich, esse olhar mais uníssono deve ser o ponto de atenção, e guiar as ações não apenas no vindouro ano, mas na atuação pré e pós comemorações. “Como associação de topo do setor, grande parte do nosso trabalho envolve “ligar os pontos” em toda a nossa rede global – reunindo conhecimento, recursos e experiência para enfrentar os desafios partilhados enfrentados pelas cooperativas em todo o mundo”, afirma.
De forma mais concreta, as linhas que irão permear o cooperativismo no mundo todo em 2025 e além devem se desenhar com mais nitidez nos próximos meses, mas é fato que desde já que cada cooperativista possui seu papel para fazer deste momento um Ano marcante para todo o setor. “É mais importante do que nunca que nos unamos em todo o movimento global e forjemos novos caminhos para uma colaboração intencional e orientada para o impacto. Em um momento de nossa história em que parecemos cada vez mais divididos, o movimento cooperativo é o antídoto para a divisão”, finaliza Belekevich.
O ANO DO COOPERATIVISMO BRASILEIRO
Com um ambiente muito propício para seu crescimento, o cooperativismo brasileiro têm sido referência para outros países. Com mais de 4.500 cooperativas e 23,4 milhões de cooperados, segundo dados do AnuárioCoop 2024, o último ano trouxe grandes desafios para o setor, mas também serviu como uma prova da resiliência já comprovada pelas cooperativas nacionais.
Neste contexto, o tema que mais se mostrou presente foi, sem dúvidas, a Reforma Tributária em andamento. Mesmo com vitórias já conquistadas, ainda há um longo caminho a ser percorrido, e os esforços para assegurar o Ato Cooperativo deve ser um dos principais motes das ações ao longo do Ano Internacionais das Cooperativas.
Segundo Tânia Zanella, Superintendente do Sistema OCB, a atuação brasileiro no ambiente político deve ser fortalecida, de modo a garantir que as particularidades do movimento continuem a ser consideradas. “Nosso objetivo é aproveitar a atenção criada ao movimento cooperativista nas diversas esferas governamentais, seja no Poder Executivo ou no Legislativo, para apresentar nossos pleitos principais”, destaca.
Além disso, o Ano Internacional deve representar uma oportunidade para que países menos desenvolvidos busquem no cooperativismo, a saída em busca de mais prosperidade. “Como as cooperativas estarão na agenda de debates da ONU, inclusive nas esferas que tratam de desenvolvimento sustentável, redução da pobreza e transferência de conhecimento, os governos destes países poderão ter acesso ao suporte da ONU para criar arcabouços legais e desenvolver políticas de fomento e desenvolvimento de cooperativas”, destaca.
Mais do que uma vitrine para o cooperativismo brasileiro, o Ano Internacional das Cooperativas tem ainda o potencial de ser um momento decisivo para reafirmar a presença brasileira no cooperativismo internacional, com intensas trocas e cooperação técnica. “Cases de sucesso de cooperativas no Brasil poderão servir de referência para o fortalecimento de cooperativas em outros países e vice-versa”, conclui Zanella.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na edição 119 da Revista MundoCoop
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