Desde o surgimento da televisão no século XX, os canais que conectam pessoas e marcas se modificaram de forma ampla. Se antes as empresas tinham as TVs, jornais e revistas para divulgarem seus produtos e serviços, hoje os chamados meios tradicionais competem com as redes sociais pela atenção do consumidor.
Essa mudança no relacionamento do público com as marcas trouxe inúmeros desafios, sobretudo quando se fala sobre a dificuldade de prender a atenção do consumidor. O tempo médio de foco para indivíduos olhando para uma única tela caiu de 2,5 minutos em 2004 para uma média de 47 segundos em 2021.
Esse dado, apresentado por Gloria Mark, professora de informática na Universidade da Califórnia, Irvine, e autora de “Attention Span: A Groundbreaking Way to Restore Balance, Happiness and Productivity” (“Capacidade de atenção: uma maneira inovadora de restaurar o equilíbrio, a felicidade e a produtividade”, em tradução livre do inglês), traz um panorama sobre o desafio de se prender a atenção do consumidor tempo suficiente para que ele procure saber mais sobre a sua marca ou produto.
” A comunicação dos anos 80 e 90, onde a hegemonia de meia dúzia de veículos de comunicação era evidente, hoje migrou pra uma realidade onde todo CNPJ tem a capacidade de se tornar o próprio veículo de comunicação”, destaca Phelipe Siani, Fundador e CEO da PHS Holding e âncora da CNN Brasil, lembrando ainda que hoje, as marcas não competem apenas entre si, mas também com pessoas físicas, que utilizam dos canais pessoais para venderem seus serviços.
Diante do atual contexto do mercado, os desafios que o imediatismo da informação trouxe para os negócios também viabilizou que novas oportunidades surgissem. No setor das cooperativas, que possuem uma linguagem pautada pela humanização dos negócios, utilizar dessa realidade de forma estratégica, buscando uma maior conexão, pode resultar em resultados que impactam os diversos segmentos.
“O conceito de cooperativa, por si só, pode e deve ser aplicado à produção de conteúdo para as empresas. As empresas ou os grupos que entenderem que podem bancar conjuntamente uma mesma estrutura, contratar conjuntamente uma produtora externa ou dividir essas produções vão baixar custos e conseguir se destacar nesse mercado cada vez mais concorrido”, aponta Siani, lembrando que os espaços de intercooperação e inovação aberta podem ser um importante canal para que as cooperativas sejam mais competitivas nos canais digitais.
Novas estratégias
Com novos players surgindo a cada dia e um desafio maior para impactar um público cada vez mais segmentado, pensar novos caminhos na comunicação deve estar no radar das cooperativas. A Cresol, um dos maiores sistemas de crédito cooperativo do Brasil, criou mecanismos para impulsionar esse trabalho, sobretudo colocando times especializados para conduzir as estratégias do sistema.
Neste ano, a cooperativa reuniu seus colaboradores no Comunica 2024, evento para mais de 120 colaboradores do sistema para avaliar e aprofundar estratégias de comunicação e marketing. Segundo Adriano Michelon, vice-presidente da Cresol Confederação, o encontro foi decisivo para a estratégia de comunicação que o sistema tem em prática.
“Foi um marco especial para a Cresol, que iniciou com poucas pessoas nessa área e agora são mais de 120 profissionais cuidando estrategicamente da comunicação. E isso reverbera para os mais de 10.000 colaboradores que temos hoje no sistema. São 10.000 pessoas que têm propriedade pra falar da Cresol, porque estão dentro dessa organização. Então, todos são importantes e atuam como verdadeiros guardiões da marca, são embaixadores, formadores de opinião nas suas famílias, nas suas comunidades”, destacou.
Esse cuidado com a presença nas redes é um dos pilares para que a estratégia seja bem sucedida. Segundo Phelipe Siani, entender o papel de cada canal, é o primeiro passo para que a cooperativa tenha o impacto desejado. “As redes sociais trouxeram a capacidade da empresa ser cirúrgica nas produções, usar estratégias de tráfego pago pra chegar exatamente no consumidor específico do produto ou serviço que é pano de fundo do conteúdo. Os meios tradicionais, como TV e rádio, seguem com um papel super importante na comunicação. São estratégias complementares, mas fundamentais pro sucesso de comunicação de qualquer empresa”, complementa.
Contudo, quando se tratado do modelo cooperativo de negócio, a implementação de novas ferramentas vai de encontro com valores que são preservados há mais de 200 anos de história. Para Michelon, é imprescindível acompanhar novas tendências, mas as particularidades características do movimento, devem ser levadas em consideração no início de cada estratégia.
“Um desafio grande é digitalizar sem desumanizar. Porque a comunicação é o que nos conecta com as pessoas, e o cooperativismo busca essa conexão verdadeira, essa construção em conjunto que se faz por meio do contato, do olho no olho. Somos flexíveis, nos adaptamos aos canais de comunicação e aos diversos públicos, mas não podemos perder a oportunidade de estar com o nosso cooperado, isso é algo que sempre estará presente nas nossas ações”, pontua.
Com o novo se aproximando, o horizonte já traz novas oportunidades para o setor; e compreender os canais onde as cooperativas estão presentes é o passo para que o problema crônico da falta de disseminação do trabalho realizado pelo setor, seja enfim, sanado.
Para isso, os métodos em questão devem atravessar não apenas um pensamento crítico e técnico a respeito de como fazer comunicação nas cooperativas, mas também como evidenciar o que já é feito, driblando as dificuldades de um mercado cada vez mais plural e competitivo. Para Michelon, contornar essas questões irá de encontro exatamente com aquilo que está no cerne do setor. ” Ao entender quais são os nossos diferenciais e o que os nossos cooperados esperam de nós, teremos um norte para guiar os nossos planejamentos”, finaliza.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
Coluna exclusiva publicada na edição 121 da Revista MundoCoop