Existem mais pessoas descontentes com as suas profissões do que imaginamos. Pelo menos é isso o que indicam os resultados de pesquisas realizadas pela rede social com foco em carreira, o Linkedin. Segundo os estudos, 60% dos profissionais pensam em mudar de emprego ainda neste ano, sendo que 20% deles já iniciaram as suas buscas.
Boa parte dos entrevistados se mostrou confiante, 77% acreditam que encontrarão uma nova posição rapidamente, em especial os profissionais com idades entre 25 e 34 anos. E um dos principais motivadores da mudança de profissão é a insegurança financeira.
Outro levantamento feito pelo site empregos.com.br entre os dias 25 e 30 de novembro de 2022, apontou que 77% dos profissionais que atuam no mercado financeiro brasileiro estão insatisfeitos com o seu emprego atual.
Liberdade com mais responsabilidade
Esse é o caso de Danuza Portela, Jornalista, advogada e empreendedora; que durante 4 anos se dividiu entre suas duas áreas profissionais. Ela resolveu largar tudo para mergulhar de cabeça no setor de vendas de cosméticos e ter seu próprio negócio. “Foi uma transição pensada, mas o principal motivo foi uma crise de ansiedade no meu último trabalho. Quando comecei o tratamento, vi que precisava dar uma pausa para ficar bem. Aí resolvi deixar meu emprego de carteira assinada e trabalhar somente com as vendas. Como já tinha tempo que trabalhava com isso, só aumentei o meu estoque e dediquei meu tempo 100% para isso”, lembra. Rapidamente, ela percebeu que algumas coisas não funcionando nas carreiras escolhidas.
Segundo Isabela Teles Ferreira, analista de negócios de RH Pleno, existem alguns sinais que podem servir de alerta para indicar o momento de se fazer uma mudança profissional. Entre eles, o estresse constante, a desvalorização do mercado, falta de reconhecimento profissional, desânimo e desinteresse, prejuízo à saúde física e mental, além da procrastinação excessiva. “O primeiro passo então é avaliar esses sinais e as possíveis perdas e ganhos para o seu momento atual”, aconselha.
A analista de negócios explica que podemos enxergar a nossa carreira muito além da estabilidade financeira. “A mudança de carreira pode trazer de volta a alegria de um trabalho ligado ao nosso propósito, assim como, o frio na barriga de um novo desafio. Esse sentimento de realização certamente impactará em todas as outras áreas de nossas vidas”, diz Ferreira.
Hoje Portela conquistou a felicidade, faz o seu horário e trabalha como quer. Ela conta que nada paga a liberdade conquistada, mesmo tendo que trabalhar mais alguns dias. Juntou dinheiro por alguns anos, no tempo que trabalhava com carteira assinada, para ter uma reserva financeira caso precisasse. “O maior aprendizado foi ser livre e ter muitas responsabilidades ao mesmo tempo. Mas é incrível poder organizar a vida da melhor maneira. A minha dica é pensar bem, colocar os prós e contras no papel. Além de, se possível, fazer uma poupança para caso precise no início da mudança. O importante é aliar o trabalho com a vida pessoal de forma harmônica. Mas se você pode se organizar, e mudar para fazer o que te faz bem e feliz, mude”, lembra.
Assim como Danuza, Sâmela Silva, educadora e Planejadora Financeira Pessoal, se formou em Comunicação Social, mas por oportunidades profissionais, acabou atuando na área de Tecnologia da Informação (TI). Passou também a buscar orientação financeira para aprender a lidar melhor com seu dinheiro. “Comecei a ter resultados, ajudar pessoas despretensiosamente e enxerguei o quanto elas precisavam deste auxílio. Senti pela primeira vez o impacto direto das minhas ações na vida das pessoas e vi uma oportunidade de trabalhar com algo com mais propósito e realização profissional”, conta.
A mudança de área aconteceu tranquilamente. Silva pesquisou, conversou com pessoas e foi apresentada à carreira do Planejadora Financeiro Pessoal. “Entendi que a profissão era viável e que realmente era o que queria fazer dali para frente. Pedi demissão no final de 2020 e desde então sigo nesta profissão em tempo integral e já cuidei de mais de 100 famílias”, relata.
Alguns dos desafios que a ex-educadora enfrentou foram mudar o ritmo de trabalho e passar a lidar com mais funções. “Tive que lidar com registro de empresa, contratos, parte tributária, capital de giro, prospecção de clientes, portfólio de serviços, marketing. Além disso, escolhi uma profissão que não é de conhecimento da maioria dos brasileiros. As pessoas já estão acostumadas com Advogados, Psicólogos, Nutricionistas, mas ainda não sabem o que faz um Planejador Financeiro Pessoal”, conta.
As mudanças podem ser quando estamos felizes
Você não precisa estar triste ou infeliz no emprego para decidir mudar de carreira. Existe uma grande diferença entre estar desmotivado no trabalho com estar infeliz na profissão. Muitas pessoas confundem uma coisa com a outra, mas é importante separar as duas antes de se tomar uma decisão.
Karla Ribeiro, sócia diretora da Good Jobs Consultoria, especialista em gestão de pessoas, consultora de carreira e psicóloga, lembra da importância de se compreender se a desmotivação está relacionada às atividades laborais ou ao ambiente e/ou valores da empresa na qual está trabalhando. “Isso tem a ver com o propósito de vida, além dos valores pessoais. Quanto mais adquirimos autoconhecimento, mais temos consciência daquilo que gostamos, e principalmente, do que não gostamos”, lembra Karla.
Ela lembra que precisamos olhar para o mercado e entender como ele está se comportando, levar em conta requisitos como os da valorização da profissão no momento e se será possível uma rápida recolocação, entre outras questões. “Antes de realizar a transição, é preciso dominar ferramentas e teorias da nova carreira, tendo dedicado tempo de estudo, treinamento e até estágios voluntários. Começar de baixo também é uma realidade a ser considerada”, aconselha Ribeiro.
O importante é estar feliz com a decisão tomada, pois a realização pessoal se encarrega de trazer a profissional e a financeira. “Isso porque você tem disposição e alegria em acordar todo dia cedo para ir fazer o que você gosta. É claro que terá os dias ruins, afinal toda profissão tem, mas você consegue “resolver” a situação com mais clareza, porque você tem domínio naquilo que está fazendo”, lembra Karla.
São muitos os desafios que serão enfrentados quando a decisão de mudar de carreira for tomada. E uma das principais e mais importantes, é a coragem de dar o primeiro passo. “É preciso ter em mente que alguns irão te apoiar, mas muitos outros irão te criticar, dizendo que está louco(a), principalmente se for um profissional bem-sucedido, mas infeliz. Até porque ser um profissional bem-sucedido não quer dizer que seja satisfeito com o que faz, mas quer dizer que é um profissional responsável, comprometido e capaz”, finaliza Teles.
Como se preparar para a mudança
- Se preparar para a nova carreira por meio dos cursos e treinamentos
- Consultar um especialista de carreiras.
- Ler livros a respeito e conversar com profissionais da futura área de transição
- Entenda que, caso não dê certo de primeira, você tentou e teve a coragem de arriscar; afinal, não há nada 100% na vida
- Comece entendendo o porquê quer mudar
- Reflita sobre as possibilidades, desafios e ganhos dessa decisão
- Se ainda assim você concluir que esse desejo faz sentido siga
- Trace um plano e dê o start
- Buscar orientação técnica que ajude o profissional a realizar essa transição
- Caso o setor de RH da empresa na qual trabalha for aberto a essas conversas de realocações internas, você também pode acioná-lo a fim de buscar um apoio para uma transição interna
- Buscar uma orientação fora da sua organização
- Preparar o bolso para essa transição, tanto em termos de investimento em estudos, quanto em uma possível queda de salário.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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