Inovação não é apenas um acessório nas cooperativas, mas se tornou um dos elementos prioritários, inseridos em suas ações internas, externas e na ampliação dos negócios. Uma pesquisa realizada pelo Sistema OCB apontou, que 80% das organizações acreditam ser fundamental inovar para gerar competitividade e melhorarem as suas ações em todos os sentidos.
Embora o Brasil tenha muito a evoluir nesse sentido, segundo o ranking Índice Global de Inovações (IGI), o país está entre os 50 mais, ocupando a 49ª posição no quesito, na frente dos demais da América Latina. Portanto, inovação tem sido a palavra-chave das empresas e organizações que desejam ampliar os seus horizontes e alcançarem o sucesso.
Os especialistas explicam, que todas as cooperativas que compartilham o interesse em promover a inovação e contribuir para o fortalecimento do cooperativismo, independentemente do seu segmento ou porte, têm a oportunidade de contribuir e se beneficiar do ambiente colaborativo e das iniciativas promovidas por eles.
Conectados com o tema e prontos para auxiliar as cooperativas, o Sistema OCB tem investido em encontros, cursos, hubs e até pesquisas, como a “Panorama da Inovação no Cooperativismo”, realizada todos os anos, que tem contado com a participação de mais de 500 entrevistados dos vários ramos do movimento. Já em sua primeira edição, em 2021, o assunto comprovou ser um destaque dentro das cooperativas, no entanto quando o assunto é iniciativa em inovação, as suas autoavaliações foram baixas, com uma nota 6,1, em uma escala de 0 a 10.
Naquele momento, o país vivia o ápice da pandemia de Covid-19 e por tanto, apesar das baixas avaliações, alguns setores foram citados como os melhores, como atendimento a clientes (64%),marketing e comunicação (60%),tecnologia(53%) ecomercial (45%). Na segunda edição da pesquisa, Guilherme Souza Costa, gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB, lançou um link na plataforma, que foi preenchido pelas cooperativas em 2023 e os resultados serão anunciados no 15 Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC) nesse mês (maio).
Hubs são os espaços propícios para conexões
É fato, que ideias inovadoras não nascem de um dia para o outro, elas necessitam de estímulo, criatividade, reflexões, análises, questionamentos e diversos pontos de vista. A inovação está intimamente ligada a um processo colaborativo, feito por várias mãos e mentes. Quando a cooperativa desenvolve essa compreensão fica mais fácil trazer o tema para dentro de seu dia a dia e transformá-lo em um incentivo aos associados, cooperadores e colaboradores.
Um dos cenários mais propícios para o surgimento de novas ideias, inovações e experimentações tem sido a criação dos hubs nas organizações, já que possibilitam a conexão de trocas de informações, de tecnologias e das intercooperações. Eles foram criados por iniciativa de um grupo de cooperativas, com o apoio de entidades representativas do cooperativismo.
Os hubs de inovação do cooperativismo são espaços (físicos ou virtuais) colaborativos e estruturados, criados para promover e impulsionar o desenvolvimento de soluções inovadoras dentro do contexto cooperativista.
Nelson Roberto Furquim, professor de mestrado Profissional em Administração do Desenvolvimento de Negócios (MPADN) na Universidade Presbiteriana Mackenzie, conta que a integração entre os hubs de inovação, além de ser uma iniciativa estratégica para o futuro do setor, pode criar oportunidades diferenciadas para o cooperativismo em mercados cada vez mais dinâmicos e complexos.
Ao promover a cultura da inovação e o compartilhamento de conhecimento, os hubs de inovação têm o potencial de impulsionar o desenvolvimento sustentável das organizações, gerando benefícios aos cooperados e à sociedade de forma geral.
Esses eventos funcionam como centros de interação entre as cooperativas, startups, academias e demais atores do ecossistema de inovação, favorecendo o compartilhamento de conhecimento, a realização de projetos conjuntos e o fomento à cultura da inovação dentro das cooperativas.
Eles atuam como plataformas de conexão entre os diferentes agentes do ecossistema, propiciando um ambiente favorável para a criação de soluções inovadoras e tecnológicas.
“A motivação por trás dessa criação reside na necessidade de promover a inovação como um dos pilares estratégicos do cooperativismo, capacitando as cooperativas a enfrentar os desafios do mercado atual e futuro de forma proativa. A importância desses eventos de inovação para o cooperativismo tem uma abordagem sistêmica e multifacetada”, destaca o professor.
Em um primeiro momento, elas representam uma oportunidade para as cooperativas se manterem competitivas em um mercado altamente dinâmico e em constante transformação, por meio da adoção de novas tecnologias e práticas de gestão. Além disso, a integração entre os hubs potencializa as suas trocas de experiências e melhores práticas fortalecendo o movimento cooperativista como um todo, e promovendo o seu crescimento de forma sustentável.
Conscientes disso, as cooperativas têm buscado, nesses espaços de conexão, a promoção de soluções inovadoras e que supram as necessidades de seus cooperados. Os principais objetivos dos hubs de inovação incluem: fomentar a cultura da inovação dentro das cooperativas; promover a colaboração e o compartilhamento de conhecimento entre os participantes; desenvolver e implementar soluções inovadoras para os desafios enfrentados pelo cooperativismo; apoiar o desenvolvimento e a aceleração de startups e projetos inovadores; e impulsionar o crescimento e a sustentabilidade das cooperativas.
Nelson lembra que a ideia básica é que os hubs de inovação sejam replicados em outros Estados do país, de forma a ampliar o alcance e o impacto das iniciativas de inovação no cooperativismo. A ideia é que esses espaços se tornem catalisadores de inovação dentro do cooperativismo, gerando benefícios tangíveis aos seus participantes, como aumento da eficiência operacional e da competitividade, desenvolvimento de novos produtos e serviços, e fortalecimento da capacidade de adaptação às mudanças do mercado.
“A descentralização desses espaços colaborativos permite que cooperativas de diferentes regiões possam participar ativamente e contribuir para o ecossistema de inovação do cooperativismo. Além disso, a integração entre os hubs promete potencializar os resultados alcançados e gerar sinergias entre os participantes, impulsionando ainda mais o desenvolvimento do cooperativismo como um todo”, finaliza Furquim. Animados com as perspectivas dos hubs, várias cooperativas têm explorado o método para retirar bons frutos.
Cooperativas do Paraná participam do Hub do Senai
Um dos mais recentes processos de hub ocorreu durante a ExpoFrísia, o Hub Senai Paraná Cooperativo, do mês passado,no Pavilhão Frísia, anexo ao Parque Histórico de Carambeí, no Paraná. Durante o evento foram realizadas várias ações, entre elas uma palestra sobre cultura de inovação ministrada por Luiz Serafim, empreendedor da World Creativity Organization, workshop entre as cooperativas que compartilharam os seus conhecimentos, práticas de cooperação e fortalecimento de suas redes de relacionamento em temas como estratégia e liderança para inovação, programas corporativos, cultura de inovação e transformação digital.
O Hub Senai Paraná Cooperativo está incorporado ao Programa de Programa de Inovação do Cooperativismo Paranaense, que conta com a coordenação do Sistema Ocepar, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Paraná (Sescoop/PR), e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Ele foi criado com base nos modelos já existentes em outros ecossistemas de inovação, especialmente no projeto do Senai, o Habitat Corporate. Pode participar qualquer cooperativa, que faça parte do Sistema Ocepar.
O coordenador do Programa de Inovação do Cooperativismo Paranaense, Jaffer Vinicius Bessen, analista de inovação do Sescoop/PR, conta que o evento possibilita as cooperativas de várias regiões se juntarem e tratarem de temas pertinentes à inovação, impactando os seus processos internos e externos. A proposta é que ele ocorra mensalmente, em todas as regiões do Paraná para que as cooperativas tenham cada vez mais a condição de inovar, superar barreiras e levar a inovação para todas as suas esferas. Atualmente participaram dele 45 cooperativas, mas a ideia é ampliar o acesso.
“O hub é muito importante, porque traz a inovação de fato, na prática. Nós o entendemos como um complemento à jornada de inovação. A ideia é promover encontros mensais, onde serão abordados pilares de inovação. O primeiro foi a estratégia, o segundo foi liderança, e assim por diante. As cooperativas estarão reunidas para debater assuntos relevantes e pertinentes à inovação. Teremos atendimentos individuais para que os pilares possam ser tratados dentro da cooperativa. Além dessa aplicação há integração entre elas, debatendo inovação, falando dos seus processos. Nós acreditamos que isso acelera muito a inovação em cooperativas, que ainda são muito incipientes no tema”, exemplifica Jaffer.
Em termos de negócios, os hubs têm uma atuação direta, já que potencializam as inovações dentro das cooperativas colocando-as em pé de igualdade dentro do mercado competitivo. Os especialistas explicam que a troca de informações, experiências, formação, ajudam as cooperativas a se manterem atualizadas, gerando valor, melhorando a rentabilidade dos seus produtos, reduzindo o custo e acelerando as suas entregas.
Cooperativas ganham impulso com o Exohub e no Inovacoop
Outras iniciativas de hubs têm acelerado os negócios das cooperativas do oeste do Paraná, entre elas o Espaço Impulso, que atua em parceria com oParque Tecnológico de Itaipu e Exohub. O espaço foi criado pela Coopavel em 2019 com os objetivos de olhar com mais atençãopara os projetos internos que atendem as indústrias filiais e departamentos, e para a inovação aberta. O objetivo foi a viabilização de um ambiente favorável para que empresas e startups testassem soluções inovadoras voltadas ao agronegócio. Para isso, a cooperativa ofereceu 72 hectares na realização de testes em campo das inovações, além de um ambiente de trabalho com 400 metros quadrados onde as ideias tomavam forma.
No ano passado, o Hub de Inovação do Instituto Aliança, em Passo Fundo, investiu R$10 milhões, com o objetivo de atrair novas iniciativas, conexões e a colaboração entre grandes empresas e startups. As atividades se iniciaram no início da pandemia, com a criação de um programa de inovação em novembro de 2020. Em 2022, o hub contou com as participações das cooperativas Coprel e Cotrijal e tomou forma, conseguindo recursos financeiros para a construção de um espaço físico para os encontros. Atualmente, o evento envolve a troca de conhecimento, experiências em grupos e fóruns de inovação.
Em Goiás, as cooperativas têm contado com o hub do Sistema OCB/GO, o Inovacoop Goiás, que promove desafios, cursos, encontros e até eventos como a maratona GO! Coop. Para potencializar os hubs na região, o Inovacoop firmou parceria com o Sebrae/GO com a aplicação de cerca de R$1 milhão em novas ações e projetos de inovação. O seu objetivo é promover o conhecimento às cooperativas, estimulando as empresas, startups para a concretização de inovar e se conectar às novas ideias e experiências. Luís Alberto Pereira, presidente do Sistema OCB/GO, lembra que “o cooperativismo, como negócio que compete no mercado, não pode prescindir da inovação, sob risco de vir a perecer ou tornar-se ultrapassado. Mas, isso não significa que tenha de abdicar de seus valores e princípios”.
Já a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) ganhou mais força em seus projetos com o Avance Hub. Ele trabalha com o modelo de open innovation, em que as soluções tecnológicas apresentadas às demandas devem estar nas fases finais de desenvolvimento e precisam passar por uma jornada de validação, no espaço da Coplacana, na propriedade de algum cooperado ou outros centros de pesquisa.
Em 2022, foi criado o primeiro hub de inovação da Holambra Cooperativa Agroindustrial, o Telescope Holambra, que foi inspirado no telescópio, criado pelo holandês Hans Lippershey em 1608. O seu objetivo foi trazer soluções inovadoras para resolver os desafios reais e transformar novos conhecimentos em resultados, com a finalidade de fazer prosperar os negócios e se destacar entre os concorrentes.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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