Em um cenário onde múltiplas gerações convivem simultaneamente no mercado de trabalho, engajar os mais jovens — especialmente a Geração Z — tem se tornado um dos maiores desafios das empresas e cooperativas. Com expectativas diferentes das gerações anteriores, esses profissionais buscam mais estabilidade e bons salários: querem propósito, aprendizado contínuo e uma liderança autêntica.
Para entender como as organizações e cooperativas podem se adaptar a esse novo perfil e construir vínculos duradouros, a MundoCoop conversou com Martha Uribe, vice-presidente de Recursos Humanos da Nestlé Brasil. Entre os destaques, ganha força a importância de desenvolver, de forma contínua, estratégias voltadas à Geração Z — e de compreender como o mercado pode, em colaboração com as novas gerações, construir o futuro do trabalho.
Confira!
Nos últimos anos, engajar a Geração Z tem se mostrado um desafio comum a empresas e cooperativas. Quais fatores você acredita que mais explicam essa dificuldade?
Há quatro gerações convivendo no mercado de trabalho simultaneamente e uma quinta que já pode ingressar em cargos como jovem aprendiz, então, é natural que haja diferenças culturais e em termos de perspectiva de carreira. Se formos pensar apenas na Geração Z, também há muitos perfis diferentes e não podemos generalizar.
Engajar a Geração Z tem sido um desafio devido a uma combinação de fatores culturais, tecnológicos e de valores. Essa geração cresceu em um mundo hiperconectado, com acesso imediato à informação e uma forte expectativa de propósito, autonomia e autenticidade. Diferente de gerações anteriores, eles não se engajam apenas por estabilidade ou remuneração; buscam sentir que seu trabalho tem impacto real e que estão sendo ouvidos.
Outro ponto é que a Geração Z valoriza muito a flexibilidade e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Além disso, seu estilo de comunicação é mais direto, digital e ágil, o que exige das lideranças novas competências de escuta e adaptação.
Que diferenças mais claras você enxerga entre as expectativas dos jovens profissionais em relação ao trabalho, quando comparadas às gerações anteriores?
Todas as gerações trazem pessoas com perspectivas diferentes de carreira, mas percebo diferenças muito claras nas expectativas em relação ao trabalho. As gerações anteriores valorizavam mais a estabilidade, o plano de carreira linear e o reconhecimento baseado no tempo de escritório. Já os jovens de hoje buscam aprendizado constante, um desenvolvimento mais rápido, experiências diversas e um senso de propósito no que fazem e, estão mais dispostos a mudar de empresa em busca de novos desafios na comparação com as gerações anteriores.
Eles não medem sucesso apenas por cargos ou salário, mas por quanto o trabalho contribui para o seu desenvolvimento pessoal e para algo maior. Também têm uma expectativa de feedback contínuo e de liderança mais próxima e autêntica — não hierárquica, mas colaborativa. Para lidar com essa situação, é necessário que a empresa busque oferecer as experiências necessárias para que continuem sendo desafiados a aprender mais e, ao mesmo tempo, garantir que entreguem o melhor de suas capacidades e habilidades de trabalho.
“Propósito e impacto social são, de fato, decisivos para engajar a Geração Z, mas não de forma isolada”
Na sua visão, até que ponto propósito e impacto social são, de fato, decisivos para engajar a nova geração?
Propósito e impacto social são, de fato, decisivos para engajar a Geração Z, mas não de forma isolada. Essa geração busca empresas com um propósito genuíno, que se reflita nas ações diárias e vá além do discurso. Eles percebem claramente a coerência entre o que a organização diz e faz. Além do propósito, a Geração Z valoriza crescimento, autonomia e líderes inspiradores. O desafio das empresas é integrar esses elementos de forma autêntica.
O ambiente digital e híbrido já faz parte da rotina de muitas organizações. De que forma esses formatos influenciam o engajamento dos mais jovens?
O jovem busca pertencimento, cresceu com acesso à tecnologia, porém, muitas vezes não teve acesso ao direcionamento adequado sobre como utilizá-las no ambiente profissional. O ponto central é a criação de oportunidade de ingresso no mercado de trabalho e de capacitação para que estejam preparados para lidar com os diferentes sistemas e inovações, que são parte do dia a dia das empresas de todos os segmentos da economia.
Na Nestlé modificamos alguns treinamentos para que aconteçam em uma plataforma gamificada. Os funcionários das fábricas utilizam uma ferramenta de aprendizado, batizada de Nesverso, que integra realidade virtual e inteligência artificial para simular, de forma realista, o ambiente de fábrica, adaptando os desafios de aprendizagem de acordo com o desempenho de cada colaborador. A ideia é tornar o treinamento mais eficaz e alinhado às competências exigidas.
Ao mesmo tempo, também consideramos que o excesso de interações virtuais pode gerar sensação de isolamento. Por isso, é essencial criar momentos intencionais de conexão humana — presenciais ou virtuais — que reforcem a cultura, o aprendizado e a colaboração.

“Para motivar e reter jovens talentos, as estratégias de desenvolvimento mais eficazes combinam aprendizado contínuo, propósito e autonomia” – Martha Uribe, vice-presidente de Recursos Humanos da Nestlé Brasil
Quais estratégias de desenvolvimento profissional e de liderança tendem a ser mais eficazes para motivar e reter jovens talentos hoje?
Para motivar e reter jovens talentos, as estratégias de desenvolvimento mais eficazes combinam aprendizado contínuo, propósito e autonomia. A Geração Z busca experiências práticas, feedback constante e oportunidades reais de crescimento, indo além dos treinamentos formais. Assim, programas que conectam desafios de negócio com mentoria e troca intergeracional geram maior impacto.
Na Nestlé contamos com diferentes programas que permitem que os colaboradores tenham acesso a outras áreas da empresa e se vejam diante de novos desafios. Isso não só desenvolve novas competências e gera oportunidades para os colaboradores, mas também impulsiona a inovação nos negócios. Outro ponto essencial é o desenvolvimento da liderança. Os jovens valorizam líderes autênticos, acessíveis e que atuem mais como coaches do que como chefes.
Que práticas ou princípios você considera essenciais para que empresas e cooperativas consigam construir vínculos mais fortes com a Geração Z?
O diálogo aberto é essencial para entender as necessidades da Geração Z e construir vínculos duradouros. Além disso, investir em programas de capacitação, próprios ou em parceria com entidades, permite que os jovens desenvolvam habilidades e adquiram experiência, preparando-os para o mercado de trabalho.
Em resumo, o segredo está em criar um ambiente onde o jovem queira permanecer por se sentir ouvido, relevante e inspirado.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop

Entrevista exclusiva publicada na edição 126 da Revista MundoCoop












