O agronegócio brasileiro é um dos grandes pilares da economia nacional, responsável por 8% do Produto Interno Bruto (PIB), gerando milhões de empregos e fortalecendo a balança comercial com um volume expressivo de exportações. Além de alimentar o Brasil e o mundo, o setor se destaca pela inovação e produtividade, fatores que impulsionam sua competitividade global. No entanto, para manter essa posição estratégica, é essencial que os atuantes no agro estejam atentos às oscilações do mercado nacional e internacional, bem como às projeções para 2025.
Em um cenário de constantes mudanças, fatores como a volatilidade cambial, custos de insumos e demanda global impactam diretamente a rentabilidade dos produtores. Com a taxa de câmbio elevada, como a observada no final de 2024, as cooperativas agropecuárias e os gigantes do setor precisam reavaliar estratégias para mitigar riscos e aproveitar oportunidades.

O dólar valorizado pode ser um aliado para o agro brasileiro, especialmente para produtores voltados à exportação. Segundo José Antonio Rossato Jr., conselheiro de administração da Cooperativa Agroindustrial (Coplana), “quando a nossa moeda se desvaloriza frente ao dólar, favorece o exportador, que tem a chance de lucrar mais em real devido a oscilação cambial”. Isso significa maior competitividade para commodities como soja, milho e algodão, ampliando receitas e fortalecendo o caixa dos produtores.
Antonio Prado Galvão, CEO da Pirecal Calcário, complementa: “O dólar alto é uma faca de dois gumes. Por um lado, é ótimo para quem exporta, mas por outro, encarece tudo o que precisamos importar para produzir”. Ele destaca que, mesmo em um cenário positivo para as exportações, “manter a eficiência é fundamental para que o ganho cambial não seja engolido pelo aumento dos custos”.
Custo de insumos e alternativas
Se, por um lado, o dólar alto favorece as exportações, por outro ele pesa no bolso dos produtores em decorrência à dependência de insumos importados. Fertilizantes, defensivos agrícolas e equipamentos têm seus preços diretamente influenciados pelo câmbio. A Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA) revelou que mais de 70% dos fertilizantes usados na agricultura brasileira são importados, com dependência externa de 95% para o cloreto de potássio, 80% para o nitrogênio e 60% para o fosfato.
Para sanar a dependência do cloreto de potássio vindo do Canadá e Rússia, o Brasil busca alternativas regionais. A Embaixada do Brasil em Buenos Aires e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) realizaram um seminário sobre o potencial da cooperação Brasil-Argentina na produção e comércio de fertilizantes e insumos. O evento destacou a complementaridade entre os dois países, promovendo sinergias para fortalecer o agronegócio regional.
Além disso, dentro do agro existe a modalidade Barter, que permite ao produtor trocar parte de sua produção futura por insumos agrícolas, como fertilizantes, defensivos e sementes. Esse modelo reduz a necessidade de capital imediato para custear a safra e protege contra a oscilação do dólar.
“Os pequenos e médios produtores acabam tendo uma dificuldade maior de ter acesso a este tipo de ferramenta de forma isolada. Porém as cooperativas conseguem fazer um excelente trabalho, para mitigar estes riscos com propostas de Barter a estes cooperados”, pontua Galvão.
Também como alternativa existe o hedge, mecanismo que funciona como uma espécie de seguro, permitindo que produtores fixem previamente um preço para sua produção, evitando prejuízos com possíveis quedas de mercado. “O impacto desta volatilidade cambial é grande, principalmente para quem não tem acesso a estruturas de hedge de mercado”, alerta Galvão.
Taxa Selic aumentando pela quarta vez seguida
Além da imprevisibilidade do dólar, a Taxa Selic aumentou pela quarta vez seguida, passando de12,25% ao ano para 13,25%. Esse aumento aproxima a taxa do seu maior valor da década, 14,25% e encarece o crédito bancário tradicional.

Esse cenário traz as cooperativas financeiras, como Sicredi, Sicoob e Cresol, como uma opção estratégica para o produtor rural. Com taxas mais competitivas e serviços personalizados, essas instituições têm ampliado sua atuação no crédito rural, como demonstram os mais de R$ 18,6 bilhões liberados pelo Sicredi, através do BNDES, no Rio Grande do Sul na Safra 23/24, os R$ 26,7 bilhões concedidos pelo Sicoob entre julho e novembro de 2024 e os R$ 7,6 bilhões repassados pela Cresol também no ano passado. Com expectativas de crescimento contínuo, essas cooperativas oferecem soluções financeiras que ajudam a driblar o impacto dos juros altos, especialmente para pequenos e médios produtores.
Negociações coletivas
As cooperativas do agro também são importantes para as negociações coletivas, uma estratégia eficiente para produtores, especialmente os pequenos e médios, que enfrentam dificuldades em acessar mecanismos individuais de proteção financeira. Assim, é possível obter melhores condições de compra para insumos e equipamentos, além de realizar vendas em volumes maiores, conquistando preços mais competitivos.
A união dos produtores também permite um maior poder de barganha junto a fornecedores e instituições financeiras, reduzindo custos e aumentando a resiliência do setor diante das oscilações econômicas. “A cooperativa é um porto seguro. É na cooperativa que o produtor rural encontra a informação genuína com transparência e parceira nos negócios”, observa Rossato, que também destaca que a Coplana tem uma política de fechamento de câmbio para defender um dólar médio ao longo do exercício e busca acompanhar permanentemente as tendências de preços no mercado.
O que vem em 2025 e mitigação de riscos
As projeções para 2025 são animadoras, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Espera-se uma recuperação da produção agrícola impulsionada pelo aumento da produtividade e pelo fortalecimento da agroindústria exportadora; bem como a ampliação das rotas logísticas e dos investimentos em infraestrutura, com destaque para o avanço das hidrovias e o aporte na Ferrovia Transnordestina, que contribuirão para reduzir custos de escoamento da produção.
De acordo com Rossato: “as perspectivas para o agronegócio brasileiro são positivas do ponto de vista do volume de safra que está sendo construído, que, com exceção de algumas regiões pontuais no Sul e Centro-Oeste, apresentou um bom volume e distribuição de chuvas no campo”.
No cenário internacional, os desafios geopolíticos seguirão impactando o comércio exterior, especialmente com a União Europeia e os Estados Unidos, mas a crescente demanda chinesa por proteínas animais pode favorecer as exportações brasileiras. Ao mesmo tempo, o setor agropecuário precisará lidar com as exigências ambientais e climáticas impostas por mercados internacionais, como a Lei Antidesmatamento da União Europeia.
Independentemente de futuras instabilidades cambiais, o agronegócio brasileiro deve adotar uma abordagem estratégica baseada na diversificação de mercados, na utilização de ferramentas de mitigação e no fortalecimento das cooperativas para negociações coletivas. A tecnologia e a inovação também serão essenciais para aumentar a eficiência produtiva e reduzir a dependência de insumos importados. “O futuro do agro está na capacidade de adaptação. Quem souber ler o mercado e agir com rapidez terá vantagem competitiva, independentemente da cotação do dólar”, conclui Galvão.
Por Andrezza Hernandes – Redação MundoCoop

Matéria exclusiva publicada na edição 122 da Revista MundoCoop