O cooperativismo de crédito tem se tornado um grande pilar da inovação no sistema financeiro. Pioneiras em diversos aspectos, as cooperativas do ramo demonstraram um boom de avanço que as colocaram ao lado das principais instituições financeiras, inclusive ultrapassando os bancos tradicionais. Em muitos casos, o setor se tornou sinônimo de inovação financeira, sendo porta de entrada para que novas ferramentas chegassem à mão do consumidor.
Nas cooperativas, contudo, a inovação vem acompanhada de uma filosofia pautada pelo propósito. Não inovar por inovar ou para ser mais competitivo, mas para entregar mais ao cooperado e à sociedade. Diante disso, e buscando reconhecer tais iniciativas, em 2021 o Instituto Fenasbac iniciou o Recip – Reconhecimento Inovação com Propósito. Com o apoio institucional do Banco Central do Brasil, o mapeamento da capacidade de inovação do cooperativismo financeiro para estabelecer referenciais de gestão que cumprem os propósitos cooperativistas, chega a mais uma edição evidenciando como as cooperativas têm buscado inovar cada vez mais.
Em um contexto em que a responsabilidade social está ganhando ainda mais os holofotes, essas cooperativas que buscam inovar com propósito se tornam exemplo para o grande mercado, mostrando que é possível sim, acompanhar tendências sem deixar de lado o compromisso com o meio ambiente e com a sociedade. Porém, engana-se quem acredita que o grande impacto do cooperativismo se vê apenas nas regiões Sul e Sudeste. Segundo dados preliminares da nova edição, a Região Norte viu uma expansão de 250% em iniciativas de inovação, devidamente inscritas para o Recip deste ano. E um estado em especial, tem sido um ponto de virada para a região.
Protagonismo inédito
Com mais de 1,5 milhão de habitantes segundo o Censo 2022, Rondônia tem se tornado um polo cooperativista na região Norte. Segundo o AnuárioCoop – Dados do Cooperativismo Brasileiro, divulgado pelo Sistema OCB, o estado possui hoje um total de 17 cooperativas, reunindo mais de 300 mil cooperados. Ao mesmo tempo, o gigante Amazonas, com quase 4 milhões de habitantes, conta com apenas 2 cooperativas e pouco menos de 7 mil cooperados. “O cooperativismo tem demonstrado sua vocação de levar inclusão financeira e apoio a suas comunidades, por isso há uma expansão na região Norte”, indica Oberdan Pandolfi, Presidente do Sicoob Credip, ao apontar quais os motivos que corroboram para o crescimento do setor.
Mesmo com pouca área geográfica, o estado apresenta uma rápida penetração do cooperativismo de crédito, principalmente nas pequenas cidades, onde as cooperativas financeiras são responsáveis por grande parte do crédito disponível. “No crédito ao setor privado, por exemplo, superamos Santa Catarina que ocupava a primeira posição. Este crescimento se justifica pela capilaridade das instituições cooperativas, presentes em todos os municípios e grande parte dos distritos”, explica Pandonfi. Assim como em outros estados, o setor vai além da simples concessão de crédito, sendo um importante pilar para o desenvolvimento da região. “Há ações de educação financeira e cooperativa e o envolvimento em ações para o desenvolvimento das comunidades, como projetos sociais bem estruturados, apoio a cadeias produtivas, parceria com o Estado e Sebrae para crédito orientado a pequenos negócios, e outras inúmeras iniciativas virtuosas que demonstram o papel do cooperativismo em apoio ao desenvolvimento local”, complementa.
Com fortes raízes na região, o cooperativismo de crédito se desenvolveu no estado de tal forma que em 13 de agosto de 2000, foi fundado o primeiro sistema de crédito da região Norte, a CredSIS. Localizada em Ji-Paraná (RO), hoje ela possui oito cooperativas filiadas ao sistema com 40 agências, presentes nos estados de Rondônia, Acre e Pará. E atualmente, em processo de expansão para estados como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Através de diversas iniciativas e ações, o cooperativismo rondoniense exala aquilo que o movimento tem de melhor, mostrando na prática como o discurso do impacto positivo se materializa diariamente. Para isso, buscar formas de inovar é uma tarefa diária, de modo a solidificar novas formas de atender às demandas dos cooperados. Afinal, inovar não diz respeito apenas sobre aplicar conhecimentos tecnológicos ou surfar nas novidades do mercado. Para inovar, não é necessário incorporar ferramentas de última geração e inteligência artificial. Inovar é acima de tudo, pensar naquilo que ainda não foi pensado. Buscar soluções que ajudarão o coletivo.
“Uma das grandes virtudes e missões do cooperativismo é permitir que os resultados do ganho de produtividades resultantes da inovação sejam socializados. Assistimos diariamente inovações disruptivas, mas infelizmente seus ganhos econômicos permitem a alguns poucos que detém esse monopólio de novos produtos e processos advindos da inovação impor seus ganhos, muitas vezes as expensas de milhares de pessoas”, ressalta Pandolfi, ao lembrar que o movimento permite que a inovação seja democratizada, chegando a todos, sem exceção.
Por utilizar uma diferente lógica de mercado, as cooperativas têm a capacidade de pensar além do que o mercado comum pensa. E é através disso, que elas inovam para fora da caixinha e desafiam o status quo. “O cooperativismo é um negócio inserido na lógica de mercado, mas sua virtude advém de ser uma sociedade de pessoas, onde seus ganhos econômicos e de produtividade são socializados, permite corrigir distorções de mercado, levam a sociedade a um melhor nível de bem-estar”, completa.
Historicamente ignorado por grande parte do mercado, a região Norte abre suas portas para que o resto do país veja como as cooperativas podem transformar uma região como um todo. Neste contexto, aumentar o diálogo entre as regiões tem um importante papel no fortalecimento do setor nos próximos anos, não para replicar o modelo em outros estados. Mas para inspirar. “As regiões norte e nordeste possuem peculiaridades e desafios que são singulares. O estágio de desenvolvimento e as características socioculturais dessas regiões também se diferem. Por isso historicamente projetos trazidos de outras regiões, nem sempre tiveram o mesmo êxito nas regiões norte e nordeste. É preciso despertar o desenvolvimento endógeno dessa região, e o cooperativismo é importante ferramenta nessa construção, por isso a importância de reconhecer iniciativas locais, e difundir os caminhos e vocações da região”, finaliza.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop, edição 114
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