Em 2025, o Brasil se tornará o centro do debate climático global ao sediar, em Belém do Pará, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – a COP30. Pela primeira vez, o maior evento climático do planeta acontecerá não apenas em um país do Sul Global, mas no coração da Amazônia, o bioma que simboliza tanto a urgência quanto a esperança na luta por um futuro sustentável.

A escolha de Belém carrega um peso simbólico e prático. Segundo o embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da Conferência, “a COP30 será a primeira a ocorrer indiscutivelmente no epicentro da crise climática e a primeira a ser sediada na Amazônia, um dos ecossistemas mais vitais do planeta e que, de acordo com os cientistas, agora corre o risco de ponto de inflexão irreversível.”
As mudanças climáticas não são mais tema restrito à ciência ou à diplomacia. Elas já afetam o cotidiano das pessoas, especialmente nos países mais vulneráveis. Para Corrêa, é preciso reconhecer que “a mudança do clima chegou à nossa porta, atingindo nossos ecossistemas, cidades e vidas cotidianas”.
É essa conexão direta com a realidade que fará da COP30 uma conferência única, capaz de sensibilizar, engajar e — espera-se — impulsionar ações concretas. Como alerta o embaixador: “2025 tem de ser o ano em que canalizaremos nossa indignação e tristeza para uma ação coletiva construtiva. A mudança é inevitável — seja por escolha ou por catástrofe.”
UM CHAMADO COLETIVO
Realizar a COP30 na Amazônia traz à tona as contradições e desigualdades do mundo atual. “Infelizmente, nossas brechas econômicas são demasiadamente altas, principalmente em algumas regiões do país, onde o assistencialismo supera o emprego e o empreendedorismo”, relata Thomas Eckschmidt, líder do movimento Capitalismo Consciente na América Latina.
Ele explica que o assistencialismo tem o seu papel importantíssimo, mas não pode ser uma ferramenta permanente de ajuste econômico. “O assistencialismo institucionalizado demonstra a falha na liderança em criar soluções sustentáveis do ponto de vista econômico, social e ambiental. Mais uma vez, a responsabilidade do cooperativismo em demonstrar que existem melhores caminhos para uma prosperidade sustentável”.
Em recente entrevista exclusiva à MundoCoop, Ernandes Raiol, presidente do Sistema OCB/PA, reforça esse chamado. “As cooperativas têm um papel essencial em impulsionar a agenda sustentável, pois estão diretamente conectadas às comunidades locais e aos recursos naturais, especialmente na Amazônia, onde a preservação ambiental é vital.”
A COP30 será uma oportunidade única para elas mostrarem ao mundo como é possível conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental, mas também uma importante chance de inserir mais o movimento nessas discussões. “A participação ativa das cooperativas na COP30 poderá consolidar o cooperativismo como uma solução estratégica para os desafios globais relacionados às mudanças climáticas e à preservação ambiental”, acrescenta o presidente.
NOVA ERA DE LIDERANÇA CLIMÁTICA

Mais do que uma conferência internacional, a COP30 é uma plataforma de mobilização global. “No futuro, a falta de ambição será julgada como falta de liderança, pois não haverá liderança global no século XXI que não seja definida pela liderança climática”, afirma Corrêa do Lago.
Essa é também uma mensagem direta ao setor privado, que, na visão de Eckschmidt, deve assumir um protagonismo maior: “As instituições privadas têm mais agilidade e recursos para priorizar melhores caminhos para a prosperidade coletiva.”
Para ele, esse cenário é uma oportunidade extraordinária de desenvolvimento para todos, especialmente o cooperativismo. “O papel das cooperativas nesse novo modelo econômico é ajudar o mundo a reconhecer que são uma das melhores expressões de um capitalismo mais consciente, e demonstrar para empresas privadas que fazer o bem é o melhor negócio para todas as partes interessadas inclusive para o meio ambiente,” acrescenta.
Do cliente ao planeta, a valorização da causa e o cuidado com todas as partes interessadas são elementos centrais de um futuro realmente sustentável. E a Conferência pode ser um grande catalisador desse novo pensamento, trazendo também um grande alerta: não é mais tempo de discursos genéricos. “Nossa liderança precisa atuar de maneira mais pragmática para convidar mais grupos de interesse e criarmos juntos novas soluções que a nossa complexa realidade necessita.”
Ele reforça que essa transformação exige uma mudança no propósito nacional. “Já temos ordem suficiente com progresso de poucos. Precisamos criar uma união através de uma nova intenção, mais inclusiva e sustentável: ‘Educação’ e ‘Prosperidade’.”
O BRASIL NO CENTRO DA TRANSFORMAÇÃO
Ao reunir ciência, governança e engajamento social em um só território, a COP30 tem potencial para se tornar um marco. Como resume Corrêa do Lago: “Estamos vivendo um momento histórico. Os riscos sistêmicos relacionados ao clima já estão dando sinais progressivos. […] Aqueles que se comprometerem genuinamente a vencer a luta climática terão o potencial de emergir na liderança em uma era de ouro de renovação, regeneração e cooperação global.”
Se o futuro do planeta passa pela Amazônia, que o Brasil esteja pronto para liderar não apenas com palavras, mas com ações. E a COP30 possa ser, finalmente, a COP da virada. “Bem-vindo ao novo modelo de negócios para o século XXI: Clareza de Causa, Liderança de cuidar, Interdependência de stakeholder e Cultura Responsável, o CLIC”, conclui Thomas.
Por Fernanda Ricardi – Redação MundoCop

Reportagem exclusiva publicada na edição 123 da Revista MundoCoop