As negociações climáticas da COP28 em Dubai terminaram com um acordo que viu pela primeira vez um compromisso de transição de todos os combustíveis fósseis.
O presidente da cúpula deste ano patrocinada pela ONU, o sultão Al Jaber dos Emirados Árabes Unidos, mediou um acordo que foi suficientemente forte para os EUA e a União Europeia sobre a necessidade de reduzir drasticamente a utilização de combustíveis fósseis, mantendo ao mesmo tempo a Arábia Saudita e outros produtores de petróleo a bordo.
O acordo faz um apelo aos países para que abandonem rapidamente os sistemas energéticos dos combustíveis fósseis de uma forma justa e ordenada, qualificações que ajudaram a convencer os céticos. Nos termos do acordo, os países também são chamados a contribuir para um esforço de transição global – em vez de serem totalmente obrigados a fazer essa mudança por conta própria. “Juntos, confrontamos a realidade e colocamos o mundo na direção certa”, disse Al Jaber.
Cooperativas na linha de frente
Mais uma vez presentes, as cooperativas brasileiras representaram um importante pilar na busca por um sociedade mais sustentável. Através de comitivas e da participação em painéis e debates, o movimento ressoou sua voz para delegações do mundo todo, reafirmando o compromisso com a agenda discutida desde o início da COP28.
Além de chefes de Estado, diplomatas e outros representantes de governos, a COP 28 reuniu representantes da sociedade civil — incluindo o cooperativismo brasileiro. As cooperativas são reconhecidas pela própria Organização das Nações Unidas (ONU) por seu protagonismo em boas práticas ambientais e a agenda climática faz parte desse compromisso com a construção de um mundo mais sustentável. “Quando falamos em COP do Clima, temos a premissa de que todos devem participar, ou seja, toda a comunidade. E o cooperativismo é a chave para que as pessoas participem desse processo de descarbonização da economia mundial. O combate à mudança climática depende do envolvimento de toda a população mundial e o cooperativismo permite que as pessoas participem nesse processo”, afirmou o coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, Marco Morato.
Com esse foco, o Sistema OCB levou à COP28 iniciativas de cooperativas brasileiras que estão contribuindo para a redução de emissões de gases de efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2). O cooperativismo teve destaque no Espaço Brasil, um pavilhão organizado pelo governo para mostrar iniciativas nacionais, públicas e privadas, de combate à mudança do clima.
A Frimesa Cooperativa Central apresentou seu case de sustentabilidade no dia 09 de dezembro em Dubai, no Espaço Brasil. Representando as cooperativas de produção, falou sobre suas soluções sustentáveis e inovadoras que deixa evidente o compromisso em produzir alimentos de forma verde e eficiente. A cooperativa teve destaque no painel “Cooperativas Aliadas do Desenvolvimento Sustentável e da Segurança Alimentar” organizado pelo Sistema Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB. Para o presidente da Frimesa, Elias José Zydek, “levar as ações do cooperativismo para o mundo nos enche de orgulho, principalmente, através da nossa cooperativa que tem feito um excelente trabalho lançando suas metas ESG até 2040, preocupados com o futuro do planeta”, avalia.
O representante da Frimesa, superintendente de logística integrada que abrange o setor de meio ambiente e sustentabilidade, Marcelo Cerino, explanou durante 15 minutos sobre a preocupação em reduzir seu impacto ambiental no mundo indo de encontro ao tema da COP 28 “menos promessa, mais progresso”. “Apresentamos nossas práticas, e como desempenhamos bem nosso papel no agronegócio brasileiro. Diante de todas as experiências apresentadas, percebemos que estamos no caminho certo em buscar cada vez mais a sustentabilidade em nossos negócios. Plantamos uma semente forte para desmistificar a visão que o mundo tem sobre o agronegócio brasileiro, com práticas sem conivências com desmatamento e poluição”, enfatiza.
Representando o cooperativismo acreano, a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista no Acre (Cooperacre), foi um dos destaques do painel “Cooperativas: aliadas da sustentabilidade ambiental e segurança alimentar”, realizado no sábado (9). A Cooperacre foi escolhida pela valorização da floresta amazônica, promoção de uma bioeconomia sustentável e inclusão social de seus cooperados. Fundada em 2001, a cooperativa nasceu da necessidade de unir coops extrativistas do Acre em busca de melhores oportunidades e negócios para os produtos provenientes da floresta. Atualmente, é responsável pela maior produção de castanha-do-Brasil beneficiada do país e quer se tornar a maior do mundo. Sua atuação abrange 18 municípios e reúne mais de 2,5 mil famílias cooperadas, 12 cooperativas singulares e 25 associações. Com a preservação de 87% das florestas, ela garante um ambiente propício para o desenvolvimento econômico sustentável e contribui para a melhoria da qualidade de vida das comunidades da região.
Parceira do Fundo da Amazônia, criado pelo governo federal, a Cooperacre também apoia diversos projetos que incluem a gestão de florestas públicas, monitoramento e combate ao desmatamento. O projeto Fortalecendo a Economia de Base Florestal Sustentável, concluído em 2019, recebeu investimentos do fundo e beneficiou pequenos produtores rurais e extrativistas na otimização da logística de armazenamento e transporte de frutas; melhoria do beneficiamento da castanha-do-Brasil; agregação de valor e diversificação de produtos; aprimoramento das estratégias de comercialização; e capacitação da rede de filiados em gestão cooperativa.
Reforçando seu compromisso com as discussões da agenda sobre mudanças climáticas, o Sicoob participou do lançamento da Rede Financeira para a Amazônia. O encontro realizado em 05 de dezembro, contou com a participação do Diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob, Ênio Meinen. A instituição financeira cooperativa representa o setor como membro fundador da “Rede”, ao lado de outros atores do sistema financeiro brasileiro e de nações vizinhas, executivos do BID Invest e da International Finance Corporation (IFC). De acordo com Meinen, o pacto tem como objetivo intensificar ações para o desenvolvimento socioeconômico, ambiental e sustentável da região. A frente envolve agentes financeiros privados e se soma à “Coalizão Verde”, formada por bancos públicos de países da Amazônia.
“Assumimos esse compromisso com foco em incentivar, por meio de apoio técnico e financiamento, a geração de emprego e renda, inclusão financeira e a redução das desigualdades, em convergência com a conservação e restauração da Região Amazônica. Essas metas se associam aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) do Pacto Global da ONU e estão intimamente conectadas com a doutrina cooperativista”, afirma Meinen. Além dos objetivos descritos pelo executivo, haverá incentivo para a identificação de soluções financeiras inovadoras e sinergia com o setor público, sempre com foco no impacto positivo e sustentável em toda a área.
O Sicredi tem um papel de pioneirismo para o desenvolvimento das finanças verdes no país. Um dos maiores exemplos disso se deu quando, em 2022, o Sicredi emitiu a primeira Letra Financeira Pública Sustentável do Brasil. A iniciativa captou R$ 780 bilhões que foram convertidos em crédito para financiar projetos alinhados à sustentabilidade voltados à energia renovável, apoio a pequenos negócios de impacto local e a pequenas e médias empresas lideradas por mulheres. Os resultados já são palpáveis: “Na operação de energia renovável, foi evitada a emissão de 4,9 mil toneladas por ano de gases de efeito estufa. Além disso, nas operações voltadas à elegibilidade social, contribuímos para a sustentação de mais de 80 mil empregos”, explica João Pedro Segabinazzi Stephanou, gerente de operações estruturadas e finanças sustentáveis do Sicredi. O case também foi um dos apresentados com destaque durante a COP28, ao lado de outras iniciativas apresentadas pela OCB.
Ainda durante a COP28, a JGP lançou a emissão de R$ 150 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA Verde) sustentáveis da Capal, cooperativa de produtores rurais com mais de 3,7 mil cooperados nos estados de São Paulo e Paraná.
Desenvolvimento econômico e sustentável
A crescente importância do cooperativismo e do associativismo, assim como o papel da sua política comercial na busca pelo desenvolvimento sustentável foi o principal foco do último painel promovido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), na segunda-feira (11). O debate contou com a participação da gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta, que falou sobre os diferenciais do cooperativismo, as contribuições que ele oferece para a economia verde e os desafios que precisam ser enfrentados para que sua representatividade seja ainda mais efetiva.
A prioridade nas pessoas foi o princípio do cooperativismo ressaltado por Fabíola Nader Motta, Gerente Geral do Sistema OCB. Ela lembrou que o desenvolvimento econômico promovido pelas cooperativas busca, obrigatoriamente, a solução de problemas sociais, a inovação e o empoderamento de pequenos negócios, ampliando a voz, inclusive, da parcela mais vulnerável da população. “As cooperativas garantem trabalho, renda e prosperidade para seus associados, famílias e comunidades onde estão presentes. Falta, no entanto, maior conhecimento e reconhecimento sobre os benefícios que elas oferecem e, por isso, atualmente, a representação institucional é o trabalho mais importante do Sistema OCB”, relatou.
Fonte: OCB/Sicoob/CNN/Globo Rural, com adaptação da MundoCoop
Discussão sobre post