As startups cooperativas ganharam popularidade no começo dos anos 2000 e atualmente tem se destacado no cenário do cooperativismo por apresentarem tecnologia e alto nível de escalabilidade nos negócios. Também são conhecidas como Cooptech, do termo Tecnology, de tecnologia com a filosofia do cooperativismo e o perfil das startups.
Dentro desse contexto existem as cooperativas de plataforma, que podem ser consideradas startups cooperativas. Elas são uma versão cooperativista das plataformas de serviços digitais, como por exemplo aplicativos de motoristas, de entregas e de hospedagens.
Esse modelo de cooperativa opera unindo inovação tecnológica com a estrutura de governança democrática. Essas organizações aplicam princípios de autogestão, divisão de lucros e propriedade compartilhada, típicos do cooperativismo, ao mesmo tempo em que utilizam tecnologias disruptivas para oferecer novos produtos e serviços.
Também se destacam por criar um ambiente único onde a participação dos membros é fundamental e a tecnologia é a principal facilitadora de processos. Pedro Luiz Batista Ferreira Junior, Mestre em Gestão de Negócios, explica que essas cooperativas representam uma ponte entre a economia colaborativa e as inovações tecnológicas, pois introduzem a inteligência artificial, blockchain, big data e plataformas digitais dentro do modelo cooperativista, oferecendo soluções mais rápidas, eficientes e transparentes.
“Esse modelo de cooperativa permite que pequenos produtores, trabalhadores autônomos e comunidades rurais tenham acesso a mercados, além de facilitar a inclusão de indivíduos que, de outra forma, estariam excluídos das inovações tecnológicas e financeiras”, completa Luiz.
Outras vantagens incluem a promoção de soluções que vão além do lucro, como iniciativas voltadas para a economia solidária, a justiça social e a preservação ambiental, tornando-as essenciais para o fortalecimento do papel das organizações na sociedade moderna.
São exemplos de startups cooperativas a Fairbnb, uma plataforma de aluguel de imóveis, semelhante ao Airbnb, mas com um modelo cooperativista. Nesse negócio, uma parte dos lucros é reinvestida nas comunidades onde os imóveis estão localizados, promovendo turismo sustentável e o desenvolvimento local.
A Cooperativa EITA é uma organização que desenvolve soluções tecnológicas, como softwares livres e serviços de TI, com foco em movimentos sociais e iniciativas que promovem a economia solidária.
Elas trazem várias Inovações ao cooperativismo
Algumas das principais características desse modelo de organização é a operação quase inteiramente no ambiente digital, o que facilita a colaboração entre cooperados, independentemente da localização geográfica. Alguns dos seus diferenciais são o uso intensivo de tecnologia desde o início de sua criação.
Uma das principais vantagens das startups cooperativas é a inclusão, já que permitem às pessoas e comunidades o acesso às inovações tecnológicas e a participação ativa delas. Fora isso, as startups cooperativas geralmente têm um foco maior na escalabilidade e em soluções digitais, como plataformas online, inteligência artificial, blockchain e outras inovações que suportam seus modelos de negócios.
Pedro explica que a garantir do sucesso é aplicar uma governança que estimule a participação democrática, agilidade nas decisões, encontrar formas alternativas de financiamento, como capital de risco cooperativo ou financiamento coletivo (crowdfunding), observar as leis cooperativistas locais e de como se aplicam ao modelo de startup.
Essas organizações implementam metodologias ágeis para os desenvolvimentos de produtos e soluções, o que acelera a entrega de resultados. Muitas focam em resolver problemas sociais ou ambientais, promovendo um impacto positivo em suas comunidades.
Como consequência, esse modelo ajuda a reduzir burocracias e permite que as decisões sejam feitas de forma mais rápida e eficiente, respeitando o princípio de participação igualitária dos cooperados. “Ao olharmos para o futuro, diversas tendências emergem, indicando como essas startups podem moldar o mercado e contribuir ainda mais para o desenvolvimento econômico e social. Elas estão ligadas ao uso de tecnologias emergentes, modelos de negócios mais sustentáveis e o crescente interesse em práticas colaborativas”, lembra Pedro.
Outro benefício é o fato de que neste modelo, os trabalhadores são donos das plataformas, em vez de serem apenas prestadores de serviços. Isso garante uma distribuição mais justa de lucros e uma gestão mais participativa, alinhada aos princípios do cooperativismo; indo contra a chamada uberização que o mercado observa atualmente.
Ao contrário das startups tradicionais, que geralmente são controladas por poucos investidores, as cooperativas de plataforma distribuem os lucros entre os membros, de forma proporcional à sua participação. Isso garante que o sucesso financeiro beneficie a todos os envolvidos.
“Elas têm o potencial de redefinir o cooperativismo, tornando-o mais adaptável às mudanças rápidas do mercado e mais acessível a diversos segmentos da sociedade. No futuro, espera-se que as startups cooperativas desempenhem um papel central na transformação econômica, social e ambiental, promovendo soluções mais justas, democráticas e inovadoras. Estão mais alinhadas com os princípios de sustentabilidade, responsabilidade social e justiça econômica, o que atrai consumidores e investidores preocupados com esses valores”, indica Pedro.
Desafios no caminho
Apesar desse modelo de cooperativas oferecer muitas vantagens, quem as adota enfrenta alguns desafios, que envolvem a falta de atração dos investidores, a tomada de decisões pode ser mais lenta, além de enfrentarem a concorrência com empresas de modelos mais tradicionais, que podem ter maior flexibilidade e facilidade em atrair capital de risco. Por isso, é fundamental que esse tipo de organização desenvolva estratégias que incluem o investimento em parcerias, inovação contínua e a construção de uma comunidade forte e engajada.
“Algumas cooperativas fizeram isso com sucesso, como é o caso do Sicredi, que adota práticas de startups cooperativas ao promover parcerias com fintechs e outras startups para integrar novas tecnologias aos seus serviços financeiros. Eles focam na inovação ao desenvolver aplicativos que melhoram a experiência digital dos cooperados, mantendo a base cooperativista no centro”, exemplifica Ferreira.
Tecnologias livres são renovadoras
Um dos maiores exemplos de startups cooperativas é a LibreCode, uma cooperativade tecnologia especializada no desenvolvimento de soluções em software com licença livre, como o LibreSign, uma plataforma de assinaturas digitais.
A organização desenvolveu uma ferramenta que permite assinaturas digitais de forma segura e transparente, tudo com base em software livre. Além disso, eles cuidam da parte de segurança no mundo digital para as empresas e as pessoas com solução de nuvem que une diversas ferramentas e atendem a demandas do dia a dia de trabalho.
Daiane Alves, Diretora Presidente da LibreCode, conta que desenvolve soluções como o LibreSign, onde todos os cooperados têm voz nas decisões e trabalham para entregar tecnologia de qualidade. “Acreditamos que o futuro pertence a quem consegue inovar sem renunciar aos valores de justiça e cooperação. E isso é o que faz toda a diferença: crescer sem deixar ninguém para trás. Com mais empresas adotando esse caminho, vamos ver um mercado mais inclusivo, colaborativo e, acima de tudo, humano”, complementa Alves.
O diferencial entre esse tipo de cooperativa das demais é o foco em soluções livres. Enquanto outras empresas produzem soluções proprietárias e que monopolizam o conhecimento, cooperativas como a LibreCode realizam inovação tecnológica de forma livre, inclusiva e democrática, unindo os princípios do cooperativismo, do software livre e promovendo divisão justa dos resultados.
“Na LibreCode, por exemplo, além de desenvolvermos soluções tecnológicas, todos os cooperados participam da construção e são donos do negócio. Isso cria uma confiança que muitas empresas não conseguem oferecer”, completa Daiane.
Para se manter competitiva, a cooperativa tem criado estratégias, que incluem investir em formação contínua dos cooperados e buscar alianças com outras organizações. “O sucesso depende tanto de inovação quanto de uma gestão financeira responsável e transparente”, finaliza a Diretora Presidente da LibreCode.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop