O cooperativismo na Bahia tem vivido bons momentos, segundo os registros no AnuárioCoop de 2024. O estado encerrou o ano passado com 157 cooperativas registradas no Sistema Oceb, alcançou a marca de R$7,8 bilhões em faturamento, com um aumento de 31,79% em sobras em relação a 2022. O movimento se aproxima dos 300 mil cooperados, um salto de 10% a mais de no anterior. Isso representou na prática um acréscimo de 18% dos empregos diretos e mais de 3.500 postos de trabalho ocupados.
Um estudo desenvolvido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) apontou que nas regiões das cooperativas há mais de R$5,1 mil em PIB por habitante, mais de 28,4 empregos formais por 10 mil habitantes e mais de 14,8 novos estabelecimentos por mil habitantes. Entre as maiores cooperativas do estado estão: Sicoob Central BA (Ramo Crédito), Coopercuc (Ramo Agro), Unimed do Sudoeste (Ramo Saúde), Sicredi Integração Bahia (Ramo Crédito), CoopGNP (Ramo Transporte) e Coperil (Ramo Trabalho, Produção de Bens).
As organizações baianas têm gerado empregos, contribuído para que os grupos de profissionais, produtores rurais e prestadores se organizem e obtenham ganhos de escala na comercialização de produtos e serviços. Fora isso, o movimento tem colaborado com o crescimento socioeconômico da comunidade e de seus municípios.
Cergio Tecchio, Presidente do Sistema Oceb, do Sescoop/BA e da Cooperativa de Crédito Sicoob Norte Sul, observou que foram realizadas muitas fusões e incorporações entre as organizações em busca de competitividades, houve um aumento nas movimentações financeiras e no número de cooperados.
“O cooperativismo tem o poder de alavancar cadeias produtivas regionais que se não estivessem organizadas nesse modelo dificilmente conseguiriam se manter em mercados altamente competitivos como o agropecuário, o financeiro, de serviços educacionais e de saúde”, lembra Tecchio.
Alguns exemplos desse processo são os das cooperativas de crédito na Bahia, que têm proporcionado o acesso a serviços financeiros aos empreendedores locais, sendo em muitas localidades a única opção à disposição da população.
Do Oeste baiano até a Chapada Diamantina
As organizações baianas atuam em vários segmentos econômicos e cadeias produtivas que movimentam a economia do estado. As cooperativas agropecuárias possuem destaque na produção de algodão, soja e milho no Oeste baiano, café na Região Sudoeste e Chapada Diamantina. No sertão baiano, elas produzem umbu, maracujá da Caatinga, abacaxi e outras culturas no modelo de agricultura familiar.
Já as cooperativas de fruticultura no Vale do São Francisco vêm crescendo e gerando negócios. As de crédito estão presentes com pontos de atendimento físico, em mais de 80 municípios baianos proporcionando acesso a serviços financeiros com melhores taxas e condições à população local. As do setor de saúde prestam atendimento especializado e assistência suplementar, reduzindo em parte, a necessidade de atendimento na rede pública.
“Também há as educacionais que vêm apresentando desempenhos excepcionais com seus alunos no Exame Nacional do Ensino Médio, ENEM e em vestibulares para instituições públicas e privadas. E as organizações de transporte e trabalho, produção de bens e serviços oferecem oportunidade de trabalho e emprego a milhares de cooperados e profissionais em suas respectivas áreas de atuação”, indica o presidente do Sistema Oceb.
Durante o período eleitoral, o Sistema Oceb desenvolveu a publicação “Propostas para Cidades Baianas Mais Cooperativas”, que resume parte das reivindicações dos associados aos gestores públicos municipais, e apresenta eixos e direcionamentos aplicáveis no estado.
Cergio acredita que o estado pode contribuir com políticas públicas para fomentar o modelo cooperativista, reduzindo a carga tributária, desonerando encargos, possibilitando o acesso igualitário em processos licitatórios e provendo infraestrutura adequada para o desenvolvimento das atividades.
Os desafios de continuar crescendo
Apesar dos avanços do cooperativismo na região, um dos maiores desafios é estimular a competitividade com sustentabilidade. Para auxiliar nesse processo, o Sistema Oceb tem oferecido programas que aprimoram a governança e a gestão das organizações, como o AvaliaCoop, CapacitaCoop e ESGCoop. Outro projeto é o “Coops Competitivas e Sustentáveis” desenvolvido em cooperação com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A proposta tem o objetivo de fortalecer as organizações, a partir da implementação da Agenda 2030, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e contribuir para a geração de ocupação e renda. “Pretendemos continuar em um crescimento sustentável nos próximos anos mantendo o acréscimo dos cooperados, empregos e resultados econômico-financeiros contribuindo com o BRC 1 Tri. A Bahia é um partícipe nesse processo e visa gerar R$1 trilhão em movimentação financeira até o ano de 2027”, finaliza Tecchio.
Cooperativismo financeiro com participação
Em agosto deste ano, Vandevaldo Teixeira Rios, se tornou o novo presidente do Sicoob Central BA. A cooperativa foi fundada em 1988 como Credibahia, e iniciou suas operações em Ilhéus, voltada para o crédito rural. Em 1995, a sede foi transferida para Salvador, com uma maior profissionalização e reestruturação administrativa.
Ao longo dos anos 2000, o Sicoob Central BA expandiu suas atividades, adotando medidas inovadoras, como a supervisão das filiais, a centralização contábil, a criação de novos produtos e serviços financeiros, além de um fortalecimento na governança e na qualificação das cooperativas associadas. Atualmente a organização se distribui em 140 agências, em mais de 85 municípios, atendendo 260 mil cooperados.
Os dados mais recentes da instituição apontam que, no ano de 2023, o Sicoob alcançou R$45,9 milhões em crédito, representando um aumento de 8% em relação ao ano anterior. Vandevaldo Teixeira Rios, presidente do Sicoob Central BA lembra que a cooperativa tem como uma de suas funções contribuir com o avanço do setor agrícola local, dando suporte financeiro e técnico aos produtores.
“O crédito rural tem sido fundamental no apoio da agricultura, na modernização do campo e no crescimento socio econômico do país. Na Bahia, as contratações deste tipo de crédito cresceram 51% em relação ao último ano. Com mais de 1.300 operações em crédito rural, elas representam 59% do total dos créditos ativos no estado”, completa Teixeira.
O fortalecimento da agricultura familiar e da produção local
Jussara Dantas de Souza é sócia fundadora da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC), que há muitos anos atua no sertão da Bahia. Ela conta que o trabalho da organização está diretamente ligado ao desenvolvimento sustentável e à valorização da cultura, em especial a produção da agricultura familiar. A COOPERCUC foi fundada em 2004 com o objetivo de agregar valor à produção local, com o processamento de frutas nativas do semiárido, como o umbu e o maracujá da Caatinga. A organização conta atualmente com quase 300 famílias associadas nos municípios de Canudos, Uauá e Curaçá.
“A cooperativa passou por diversas mudanças, sempre buscando aprimorar suas práticas de gestão e produção, além de expandir mercados. Hoje, representamos não apenas uma força econômica local, mas também um símbolo de resistência e inovação para o sertão baiano. O cooperativismo tem um papel fundamental na economia do estado, pois promove o desenvolvimento sustentável, e a inclusão social”, diz Souza.
Alguns dos maiores desafios enfrentados pela organização são a seca prolongada e as dificuldades no acesso a recursos hídricos, o que impacta diretamente a produção agrícola. “As cooperativas enfrentam dificuldades em acessar crédito e linhas de financiamento adequadas à nossa realidade. A capacitação contínua dos associados e a necessidade de melhorar a infraestrutura também são barreiras. No entanto, o cooperativismo tem desempenhado um papel essencial no fortalecimento da economia local ao criar oportunidades de trabalho, promover a inclusão social e incentivar a produção sustentável”, explica Jussara.
A expectativa é que, nos próximos anos, o cooperativismo continue crescendo e se consolidando como uma força vital para o desenvolvimento socioeconômico no estado. Isso dependerá de políticas públicas de apoio ao setor, maior acesso a recursos e investimento em tecnologias que auxiliem na produção em áreas de clima semiárido.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop