Não há dúvidas de que a trajetória do cooperativismo de crédito brasileiro se tornou um sucesso e já foi absorvida por boa parte da população. Estima-se que o modelo alcance R$ 1 trilhão de ativos em 2025. A projeção foi realizada com base no crescimento exponencial do cooperativismo de crédito nos últimos anos, e leva em consideração o aumento contínuo na base de cooperados (que já chega a quase 19 milhões de pessoas em todo o Brasil); a expansão na concessão do crédito em condições mais justas e o crescimento na captação de depósitos.
O cooperativismo de crédito é o segmento do Sistema Financeiro Nacional (SFN) que mais cresceu em 2022, com 9122 unidades de atendimentos, um aumento de 12,5% com relação ao ano anterior. Atualmente, o segmento opera em 55,3% dos municípios brasileiros, totalizando 3080 localidades. A carteira de crédito ativa do sistema cooperativo aumentou em 22,4% em 2022, com a subida de um total de cooperados para 15,6 milhões. O maior número ocorreu nas pessoas jurídicas, com uma ampliação de 17,8%. Já o número de pessoas físicas passou para 13.9%.
Segundo pesquisas recentes feitas pelo BNDES, as cooperativas de crédito já respondem por uma carteira de mais de R$380 bilhões, e foi um dos segmentos que mais cresceu. Em junho do ano passado, as micro e pequenas empresas respondiam por mais de 50% das operações da carteira de crédito de pessoa jurídica das cooperativas do setor, enquanto na carteira de crédito dos bancos privados representava cerca de 25%. A participação dessas organizações repassadas e aprovadas pelo BNDES tiveram um crescimento nas últimas décadas, passando de 1,6%, em 2014, para 13,6%, em 2023.
As estatísticas refletem o crescimento do setor, com um aumento constante no número de cooperados, ativos totais e da participação no mercado de crédito brasileiro. Essa tendência expressa a confiança no modelo cooperativo como uma alternativa viável aos bancos convencionais. Os resultados têm como origem também a história do cooperativismo no país, já que o Brasil é considerado o berço do cooperativismo de crédito, por ter tido a primeira cooperativa do segmento na América Latina.
A Caixa Rural, hoje Sicredi Pioneira, foi fundada em 1902 no município de Nova Petrópolis/RS, pelo padre jesuíta Theodor Amstad. Ela é a instituição privada mais antiga em funcionamento no país. O movimento, que ganhou força na virada do século 19 para o 20, trazido pelos imigrantes, viu nas dificuldades de acesso ao crédito, financiamentos e dos empreendedores uma oportunidade.
Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, lembra que desde os primórdios, o Brasil apresentou uma disposição para a adoção de modelos cooperativos, já que estas estruturas se alinham bem com as necessidades locais de desenvolvimento econômico e social, especialmente em regiões menos atendidas pelos bancos tradicionais. “A economia brasileira tem beneficiado o crédito cooperado de várias maneiras. A flexibilidade regulatória, aliada a um ambiente propício para o empreendedorismo e a inclusão financeira, criou um solo fértil para o crescimento dessas instituições”, completa o professor do Mackenzie.
Cooperativas promovem a inclusão financeira e impulsionam o empreendedorismo
Deu tão certo, que as cooperativas de crédito só crescem e ganham destaque entre as demais organizações. Elas tem sido fundamentais no mercado financeiro nacional, por pulverizar o crédito e promover a inclusão financeira de milhões de brasileiros. Neste sentido, o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) é um aliado do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e oferta serviços de qualidade, a preços justos e acessíveis para seus associados.
Thiago Borba, Coordenador do ramo crédito do Sistema OCB, conta que essa posição foi alcançada graças ao trabalho efetuado pelos líderes fundadores das cooperativas de crédito e com o suporte de todo o quadro de cooperados. “O Banco Central do Brasil também tem uma relevante participação no processo de aprimoramento do arcabouço normativo do setor nos últimos anos. O apoio e o estímulo ao cooperativismo, em seus diferentes ramos de atuação, têm determinação constitucional expressa em nossa Constituição Federal, mais precisamente no § 2º do art. 174”, lembra Borba.
As cooperativas de crédito têm a capacidade de oferecer taxas mais baixas e condições favoráveis aos seus membros, diferentemente dos bancos tradicionais, cujos custos operacionais e objetivos de lucro são distintos. Essa característica tem sido crucial para o sucesso e expansão do sistema de crédito cooperado no país. Por isso, atualmente, elas são procuradas pelos mais diversos consumidores e motivos, que vão desde o empreendedor ao cliente nas áreas mais remotas do país. Com uma taxa de crescimento anual superior a dois dígitos, vocação para a regionalização, o horizonte dessas cooperativas se tornou infinito.
Sobre o assunto, Henrique Meirelles, ex-presidente do Branco Central (BC) e um dos responsáveis por apoiar o setor, falou: “O atingimento da marca demonstra inequivocamente o acerto e o sucesso do processo de criação e consolidação do mercado de crédito cooperativo no Brasil”. Borba conta que o Sistema OCB tem trabalhado, para representar perante os atores públicos e privados esse modelo de organização econômica e social. “Essa iniciativa tem produzido frutos a partir das Leis que são emanadas do Legislativo, as normas de origem no Executivo e as interpretações legais que são de competência do Judiciário”, diz Thiago.
O processo de conquista dessas cooperativas foi estratégico, com investimentos tecnológicos, capacitação em pessoal e na cultura de cooperação. O governo brasileiro e as agências reguladoras também contribuíram, implementando políticas que facilitam a operação e o crescimento de cooperativas de crédito.
Eles facilitaram criando regulamentações que permitem às cooperativas atuarem em várias regiões geográficas e oferecem uma variedade de serviços financeiros. Essas iniciativas ajudam a aumentar a eficiência, a segurança das operações e a expandir o alcance do crédito cooperado. “Com o apoio do governo, uma regulamentação favorável e uma estratégia voltada para a inovação e o crescimento sustentável, o crédito cooperado está bem-posicionado para alcançar novos marcos e continuar a servir como um pilar fundamental para o sistema financeiro do Brasil”, finaliza Hugo.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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