As ações para promoção da sustentabilidade deixaram de ser um diferencial para se tornar parte essencial da estratégia de organizações ao redor do mundo. Os movimentos sociais, os consumidores e as políticas públicas têm reforçado, cada vez mais, a necessidade de alinhar crescimento econômico com a preservação ambiental e o impacto social positivo.
Nesse cenário, as cooperativas ocupam um lugar de destaque nas ações de inovação aliadas ao fortalecimento de comunidades e nos ambientes as quais estão inseridas.
Juventude e protagonismo no campo
Esse protagonismo se revela, em primeiro lugar, na forma como as cooperativas têm incentivado novas gerações a transformar ideias em impacto real. Foi o que fez Vitor Cora, membro do Comitê Jovem do Sicredi, ao criar um biodigestor de baixo custo que transforma dejetos da pecuária leiteira em biofertilizante, reduzindo em até 25% as emissões de gases de efeito estufa na propriedade da família.
A inovação nasceu de uma necessidade local. Contudo, com um potencial de se multiplicar em diversas comunidades rurais, mostrando como o engajamento juvenil pode acelerar a transição para práticas mais sustentáveis.
A valorização das novas gerações também aparece na história de Giovani Giovanaz, cooperado da Vinícola Garibaldi. Aos 33 anos, ele representa a continuidade da sucessão familiar no campo, fortalecida pelo apoio da cooperativa que oferece assistência técnica, capacitação constante e acesso a mercados.
Essa iniciativa de viabilizar o crescimento no campo atua como um elo entre tradição e inovação, que tem fortalecido vínculos culturais e, ao mesmo tempo, assegurando a continuidade da produção agrícola em bases novas e cada vez mais responsáveis.
Inovação e infraestrutura para comunidades
As cooperativas brasileiras também se evidenciam em iniciativas voltadas a transformar espaços coletivos em ambientes de aprendizado e conscientização. O setor tem se destacado na promoção de espaços coletivos em laboratórios de educação ambiental e inovação, como o projeto “Deu Praia, Tem Sicredi”, que levou duchas ecológicas, totens solares e lixeiras educativas à Praia do Funil, no Tocantins.
Além do lazer, a iniciativa criou experiências que unem convivência e atenção ao meio-ambiente, a fim de despertar consciência ambiental de forma prática e acessível.
Sob o mesmo entendimento, o Sicoob Crediauc inaugurou uma estação de recarga para veículos elétricos em Santa Catarina, dentro do projeto Rota Verde. A ação, realizada em parceria com a Copérdia, antecipa tendências de mobilidade sustentável e amplia o acesso da população a tecnologias limpas.
O investimento em infraestrutura verde responde a demandas atuais e ajuda a moldar comportamentos futuros, prática que tem auxiliado na consolidação da relevância socioeconômica das ações.
Políticas públicas e inovação em escala nacional
Se no campo e nas comunidades locais o impacto do cooperativismo é visível, em nível nacional ele também conquista avanços decisivos. Um marco importante para o fortalecimento da inovação e da sustentabilidade no país foi a inclusão das cooperativas como beneficiárias do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), após a sanção da Lei nº 847/2025.
A medida corrigiu uma lacuna histórica e abriu caminho para que o setor acesse recursos estratégicos para pesquisa, ciência e tecnologia. Essa conquista mostra que sustentabilidade e inovação não dependem apenas de esforços internos, mas também de políticas públicas que reconheçam o potencial transformador do cooperativismo no desenvolvimento econômico e social do Brasil.
Ao lado disso, a própria agenda de programas de juventude, como o Comitê Jovem do Sicredi, reforça o compromisso em preparar lideranças engajadas e inovadoras. Esses espaços de participação ampliam a rede de agentes capazes de multiplicar práticas sustentáveis em suas comunidades.
Em 2024, mais de 2 mil jovens participaram do programa, sendo 94 eleitos como coordenadores de núcleo, uma amostra do quanto essa mobilização pode criar impacto de longo prazo.
Esse olhar integrado permite ao setor cooperativo ocupar um espaço único de agente de desenvolvimento que combina soluções práticas, valores coletivos e visão estratégica ao mesmo tempo em que investe em infraestrutura local. É justamente nessa interseção entre escala comunitária e políticas nacionais que o cooperativismo reafirma sua relevância para o Brasil atual.
Impactos multiplicadores
Os exemplos mostram que cada iniciativa, seja no campo, nas cidades ou nas esferas de decisão política, possui impactos em múltiplos níveis. Para as cooperativas, as ações sustentáveis fortalecem a competitividade e ampliam o reconhecimento social. Para as comunidades, significam acesso a soluções inovadoras, desenvolvimento humano e maior qualidade de vida.
Essa capacidade de gerar impactos positivos em diferentes dimensões explica por que o cooperativismo segue crescendo e se consolidando como uma das principais ferramentas de desenvolvimento consciente no país.
Por João Victor, Redação MundoCoop