O número de cooperativas só cresce e com elas a necessidade de buscar recursos e auxílios financeiros para as suas operações. Atualmente passam de 15,6 milhões o número de cooperados, pessoas físicas e jurídicas no país. Entre eles, os maiores tomadores de crédito são as micro, pequenas empresas e os produtores rurais.
Para se ter uma ideia, só as cooperativas de crédito tiveram um crescimento sólido e sustentável maior do que o do restante do Sistema Financeiro Nacional (SFN), em ativos, carteiras de crédito e de depósitos. O Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), apontou uma rede de 799 cooperativas singulares, 32 cooperativas centrais e quatro confederações, além de dois bancos cooperativos, garantindo a presença física em 55,3% dos municípios brasileiros.
O quadro de associados passou de 14,5% para mais de 15,6 milhões, sendo 13,2 milhões de pessoas físicas e 2,4 milhões de pessoas jurídicas. Esse cenário demonstra que o cooperativismo se encontra em expansão, promovendo entre outros assuntos a inclusão financeira, o empreendedorismo local e atendendo às necessidades dos seus cooperados físicos ou jurídicos.
Os ativos das cooperativas do sistema de crédito tiveram um aumento de 28,6%, somando R$590 bilhões. Por outro lado, um estudo do Banco Central destacou um aumento significativo da participação do cooperativismo financeiro na concessão de crédito. Os dados foram apresentados noRelatório de Economia Bancária (REB), em que destaca a redução da concentração do mercado de crédito nos bancos brasileiros desde 2016.
Ivens Arua Neves de Miranda, Chefe Adjunto da Gerência de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias do Banco Central explica que as cooperativas são sociedades sem fins lucrativos, cujos associados, reciprocamente, obrigam-se a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica.
“Por isso, os administradores de cooperativas de crédito devem procurar maximizar a geração de valor para os associados, que, além de serem detentores de capital, também são contraparte da própria prestação de serviços. Dentro desse processo, eles precisam cobrar taxas menores, remunerar os depósitos com valores mais baixos, garantir a viabilidade e a sustentabilidade das operações”, diz Ivens.
Dentro desse contexto, o benefício econômico total (BET) pretende mensurar a geração de valor ao associado, por meio do benefício econômico obtido pelos seus cooperados, sendo composto pelos benefícios relacionados ao crédito (BEC), aos depósitos (BED) e à distribuição de sobras e do pagamento de juros sobre capital próprio (BEE).
“Para melhorar o BET, as cooperativas de crédito podem incrementar os benefícios relacionados ao crédito (BEC), aos depósitos (BED) e à distribuição de sobras e do pagamento de juros sobre capital próprio (BEE), pois são as variáveis que constituem o BET”, indica Miranda.
BET evolui com Selic e spread bancário altos
A partir de 2016 houve uma queda do BET e de seus componentes até 2020, mas uma forte recuperação em 2021. Josilmar Cordenonssi Cia, docente de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), lembra que por conta do spread bancário e o aumento da Selic a partir do início de 2021, pegar crédito nas cooperativas voltou a ser mais interessante do que nos bancos.
“Esta tendência continuou até que a Selic começou o atual ciclo de corte, em agosto de 2023, conforme o Relatório de Economia Bancária de 2022, que foi disponibilizado em junho de 2023, e o do ano passado não foi apresentado. Porém, na medida em que a Selic e o spread bancário continuarem altos, o BET continuará elevado”, explica Cordenonssi. O especialista diz que como muitas cooperativas de crédito são formadas por funcionários de uma única empresa, podem fazer crédito do tipo consignado em que as parcelas devidas são descontadas da folha, diminuindo o risco de inadimplência e podendo oferecer taxas de empréstimos mais competitivas.
Para o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o principal destaque é o benefício ligado ao crédito (BEC), com ele, as cooperativas oferecem crédito a seus associados a taxas mais baixas aos bancos. “Também oferecem taxas maiores para a captação de depósitos a prazo (ligado ao BED), que estão mais próximas às praticadas pelo setor bancário tradicional”, diz Josilmar.
Cooperativas veem índice BET melhorar
Uma das cooperativas que tiveram destaque com o BET foi a Sicredi, que registrou em 2023, os R$23,5 bilhões, um aumento de 13% em relação ao ano anterior (R$20,8 bilhões). Do montante total de R$ 23,5 bilhões, as contribuições do Sicredi para os seus associados em 2023 incluíram R$ 16,2 bilhões provenientes de benefício econômico de crédito (BEC), R$ 3,9 bilhões de benefício econômico de depósitos (BED) e R$ 3,4 bilhões em benefício econômico do exercício (BEE), composto por juros, distribuição de resultados e destinação via Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social (FATES). Isto representa, em média, R$3.119,78 por associado do Sicredi.
O cálculo do BET no Sicredi considera o exercício de todas as mais de cem cooperativas que compõem o Sistema, conforme suas realidades locais. Elas colaboram com o índice a partir das suas atividades de apoio à vida financeira e investimento social em suas áreas de atuação.
Romeo Balzan, superintendente da Fundação Sicredi acredita que esse resultado ocorreu porque o Banco Central desenvolveu uma metodologia robusta que permitiu mensurar em valores financeiros o impacto positivo da atuação das cooperativas de crédito no Brasil. Desta maneira gerou-se uma economia para os associados, por meio de taxas médias menores, distribuição de resultados e investimento social.
“Também, por ser um indicador desenvolvido pelo Bacen e público, permite a padronização da divulgação desses resultados pelas cooperativas, o que facilita o entendimento do associado e da sociedade quanto ao impacto das cooperativas de crédito. O papel das cooperativas de crédito é fundamental, pois são elas que, por meio do relacionamento próximo e interesse verdadeiro em colaborar com a prosperidade das pessoas e regiões, oferecem serviços financeiros a seus associados de maneira mais vantajosa”, finaliza Balzan.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
Matéria publicada na edição 118 da Revista MundoCoop
LEIA NA ÍNTEGRA A NOVA EDIÇÃO DA REVISTA MUNDOCOOP