A Reforma Tributária é, sim, uma reforma de negócios. Uma oportunidade para nossas empresas reavaliarem seus negócios e buscarem produtividade e competitividade.
Não é novidade que o sistema tributário atual, para além da alta carga fiscal, é complexo, injusto e com uma gestão muito difícil, al. A proposta de simplificação, ainda que longe da perfeição, tem o mérito de trazer previsibilidade e segurança jurídica — elementos fundamentais para a tomada de decisão empresarial e para a construção de um ambiente de negócios mais saudável. Sempre digo que o objetivo da reforma nunca foi reduzir carga, mas sim criar um sistema mais transparente e aderente às práticas internacionais. Isso, a longo prazo, pode abrir caminhos para maior competitividade e para uma relação mais colaborativa entre empresas e Estado.
Há pontos que precisam ser aprimorados. O setor de serviços aparece como o mais penalizado. Enquanto a indústria pode, em certa medida, utilizar os créditos decorrentes de sua cadeia produtiva, os serviços são intensivos em mão de obra, que não permite crédito. Ou seja, quando se equaliza bens e serviços sob o mesmo modelo de tributação, deixa-se de lado uma realidade básica: serviços não carregam a mesma capacidade de compensação de créditos tributários. Isso, na prática, encarece o consumo de serviços — e quem sente mais fortemente esse impacto é a classe média, grande consumidora desse segmento.
Outro ponto que deve estar no radar das empresas é a relação com os fornecedores. A Reforma Tributária exige uma análise minuciosa da cadeia de suprimentos. Se um fornecedor depende excessivamente de incentivos fiscais ou já opera com margens muito estreitas, há risco de não resistir às mudanças. Nesse sentido, áreas de compras e negócios terão de se antecipar, mapear parceiros estratégicos e até apoiar sua adaptação. Afinal, não se desenvolve um novo fornecedor “da noite para o dia”.
Apesar das críticas e incertezas, a Reforma Tributária esperada por décadas é uma realidade! Todos sabem o quanto foi desafiador construir um consenso com 27 estados e mais de 5.500 municípios. O fato de termos superado esse obstáculo federativo já é um marco histórico e razão suficiente para ser uma entusiasta da Reforma Tributária. No médio e longo prazo, acredito que teremos um sistema mais simples e com maior previsibilidade o que é fundamental para o crescimento empresarial.
No presente, porém, as empresas precisarão conviver com ajustes, custos e transições complexas. Quanto mais cedo cada organização aceitar essa realidade e envolver não apenas o departamento fiscal, mas também o financeiro, compras, operações e planejamento estratégico, mais fácil será a adaptação a partir de 2026.
Embora 2026 seja um período de teste já vai trazer consequências financeiras: Quem cumprir com as obrigações acessórias estará dispensado do pagamento da CBS e IBS em 2026. Então é muito importante estar atento para entregar estas obrigações para não se ver em desvantagem com seus concorrentes.
Reafirmo: esta não é apenas uma reforma tributária. É uma reforma de negócios, que exige mudança de mentalidade, reorganização de processos e visão integrada do ecossistema empresarial. Quem entender isso primeiro terá vantagem competitiva.
Silvania Tognetti é sócia fundadora do Tognetti Advocacia