Quanto vale uma cooperativa? Sabe a resposta?
Seria o valor do seu patrimônio? O valor do resultado que ela apresenta na assembleia? Seria o histórico dos resultados apresentados nos últimos 5 anos combinados com a projeção dos próximos 5? Afinal, quanto vale?
Aprendi que uma das melhores respostas para muitas das perguntas da humanidade é: depende! Para esta questão, a resposta dependerá daquilo que você consegue perceber acerca do valor da sua cooperativa.
Assim, a resposta está intrinsicamente ligada ao quanto a cooperativa é percebida e relevante na vida de seus cooperados e de sua comunidade.
Isso é muito evidente quando a cooperativa resolve coisas importantes da nossa vida, quando ela soluciona problemas e nos permite viver melhor, quando ela impulsiona os resultados socioeconômicos do seu quadro social e impacta positivamente sua comunidade, promovendo transformações duradouras e prósperas, criando um espiral ascendente, inclusivo e sustentável em seu entorno.
Fazer toda essa ‘entrega’ não é para amadores! Somente cooperativas alinhadas genuinamente com os valores e princípios cooperativistas, que possuam gestão profissionalizada e estrutura de governança dinâmica e funcional, com elevada proximidade e sentimento de pertencimento de seu quadro social, se enquadram dentro do parágrafo anterior de forma legítima e se convertem em patrimônio atemporal da comunidade.
Mas não sejamos ingênuos! Nem tudo são flores! Mesmo cooperativas muito bem estruturadas e alinhadas como o perfil acima citado ficam sujeitas às volatilidades do mercado, ao ambiente concorrencial, às mudanças de cenário econômico, aos efeitos de uma alteração normativa, dentre outras questões que podem afetar seu desempenho e por algum momento reduzir a sua capacidade de entrega de soluções e geração de impactos.
Mas e aí? Agora a cooperativa não serve mais? Ao não perceber as tantas entregas que você era acostumado essa cooperativa perdeu o seu valor?
Bingo! Esse é um ponto caro que considero muito importante e vejo extremamente necessário que se descortine, de vez por todas, que é a questão da percepção de valor que o quadro social tem sobre a sua cooperativa, em especial, naqueles momentos em que parece que ela está entregando muito pouco ou quase nada!
Se por um lado é fácil perceber o valor de uma cooperativa na medida em que percebemos suas soluções, entregas e impactos. Por outro lado, nem sempre é simples percebermos o seu devido valor quando essas soluções, entregas e impactos, por algum momento, não aparecem! Eis aí uma situação sensível e que pode ser determinante para a vida da cooperativa e dos cooperados.
Para tentar explicar melhor essa situação, vou usar como exemplo e de forma bastante superficial, os tantos anos em que estive atuando no Sistema OCB, em Brasília.
Diariamente, dezenas de iniciativas legislativas, como medidas provisórias, suas inúmeras propostas de emendas, minutas de resoluções e projetos de lei, eram minunciosamente analisados no sentido de garantir que nenhuma, repito, nenhuma redação proposta, pudesse gerar algum tipo de prejuízo ao cooperativismo nacional.
E veja! Se algo fosse identificado como potencial ameaça ao cooperativismo, toda uma estratégia de ação de representação política e articulação era deflagrada imediatamente no sentido de identificar a fonte, as motivações, a relatoria, mapear os vetores de pressão e de apoio, enfim, buscar mitigar ou eliminar aquele risco iminente que transitava no Congresso Nacional ou em algum outro ambiente do Executivo ou Judiciário.
Mas você deve saber! Em geral, as coisas não são resolvidas em um passe de mágica, muito pelo contrário, ainda mais nos ambientes anteriormente citados! São ambientes dos debates e das ideias, da capacidade de argumentação e convencimento, das estratégias, do timming, da leitura correta dos movimentos e isso tudo, demanda muita energia, muita investigação, muitos contatos, muitas reuniões e, por vezes, consomem horas, dias, semanas, meses e até anos.
E tudo isso para que? Para que uma única proposta de redação, quer seja um parágrafo ou uma linha, que pudesse eventualmente representar alguma ameaça e perdas ao cooperativismo nacional, não viesse se tornar efetivamente uma norma em vigor, produzindo efeitos negativos ou até catastróficos ao setor.
Ao entender isso, agora imagine o gigantesco esforço e inteligência necessários da representação política do Sistema OCB, quando, por vezes, há dezenas de redações que por uma razão ou outra, representam riscos e podem gerar retrocessos irrecuperáveis e prejuízos devastadores ao cooperativismo nacional, dentro da diversidade de todos os seus ramos.
Portanto, não é exagero dizer que passa pelo trabalho da representação política do Sistema OCB, não somente lograr avanços legislativos relevantes para a melhor atuação do setor, senão, de forma tão importante quanto, fazer a devida e ferrenha defesa pela manutenção das históricas conquistas legais do cooperativismo nacional, conforme Art.105 da Lei 5.764/71.
Pois bem! O que tentei deixar claro com esta menção ao brilhante trabalho de representação política do Sistema OCB, que se diga de passagem, tem se consolidado como uma referência mundial no assunto, é que, geralmente, todo o avanço legal, ou seja, a aprovação de uma nova norma que beneficie o setor é efusivamente celebrada e percebida. Já, todo esse esforço brutal de defesa e manutenção das conquistas legislativas para o setor, é quase imperceptível pelas cooperativas e o reflexo disto é uma enorme ausência de percepção desse valor.
Imagine agora que não existisse o trabalho do Sistema OCB e uma dessas tantas ameaças de redações em qualquer um dos 3 Poderes virasse uma Lei que devastasse a capacidade competitiva das cooperativas sentenciando todo o setor ao seu fim iminente! Me arrisco a dizer que todo esse trabalho de defesa que o Sistema OCB realiza diariamente seria exponencialmente percebido como valor imensurável por exatamente todas as cooperativas do país, sem qualquer exceção. Nenhuma delas jamais questionaria ou passaria despercebida da noção de importância do trabalho que o Sistema OCB realiza, quer seja nos avanços e conquistas, quer seja, em especial, na defesa e manutenção.
Fazendo este paralelo com o trabalho do Sistema OCB, quero chamar a atenção para a percepção de valor da cooperativa, na ótica de seus cooperados. Se as soluções e avanços que a cooperativa produz são percebidos como valor, é vital que o papel de defesa que a cooperativa exerce, também seja percebido como valor.
Repare que, por exemplo e por vezes, a simples atuação da cooperativa promove a regulação dos preços locais e afeta o comportamento concorrencial, ou seja, se por vezes o cooperado pode não estar satisfeito com o preço que a cooperativa está praticando e algum atravessador aventureiro está pagando mais, é fundamental que o cooperado tenha plena consciência que se não houvesse a cooperativa, ele ficaria refém deste atravessador e provavelmente, receberia substancialmente menos do que a cooperativa paga a ele hoje.
Óbvio que não estou aqui defendendo eventual ineficiência operacional de uma cooperativa! Certamente muitas precisam fazer melhor o ‘seu tema de casa’, sob a égide de não serem relevantes e nem sustentáveis! Defendo sim, que toda cooperativa precisa ter eficiência operacional e de propósito para ser relevante e aqui, estou na verdade, chamando atenção para uma compreensão mais absoluta acerca da percepção da relevância de uma cooperativa.
Portanto, se por algum momento a cooperativa não está fazendo grandes entregas para o seu quadro social, é essencial que este quadro social compreenda que momento é este que ela está enfrentando e perceba o valor da existência e da atuação da cooperativa na vida dele e da comunidade, ou seja, se a cooperativa que ele faz parte não existir mais, qual a extensão das perdas para a vida dele? Quais as dificuldades e ameaças que ele precisará enfrentar? Quais os prejuízos para a comunidade dele e o futuro dela?
Pronto! Com isto posto, quero acreditar que a capacidade para responder a pergunta inicial (quanto vale uma cooperativa?), começa a se tornar mais clara, consciente e justa.
Nos acostumamos fácil com a claridade da lâmpada, sem dar o devido valor a ela, acreditando que a lâmpada, independente do que aconteça, estará sempre lá funcionando, mas quando o disjuntor desarma, aí nos damos conta da falta que a luz da lâmpada nos faz.
O quadro social ter a ampla consciência da relevância da sua cooperativa, antes de tudo, se converte em fortaleza, para depois, se traduzir na capacidade plena de responder em toda a sua extensão, o quanto vale a sua cooperativa.
De forma complementar, os líderes das cooperativas também devem recorrentemente se perguntar sobre o quanto a cooperativa faria falta para os cooperados, suas famílias e para a comunidade. A depender da resposta, poderão fortalecer suas convicções no trabalho que estão desenvolvendo ou…deveriam fazer uma profunda reflexão acerca da eficiência operacional e de propósito da sua cooperativa e por consequência, de suas próprias tomadas de decisão e liderança.
Silvio Giusti é consultor em cooperativismo












