Em 2025, o cooperativismo de crédito mundial tem um convite poderoso à reflexão, à união e à ação. Sob o tema “Cooperação por um mundo próspero”, o movimento celebra o Dia Internacional das Cooperativas de Crédito (DICC) em um ano histórico: a Organização das Nações Unidas declarou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas, reconhecendo o papel transformador desse modelo na construção de economias mais humanas e sustentáveis.
Mais do que uma data simbólica, o momento marca uma virada de chave para o setor. O cooperativismo de crédito, que há décadas contribui para o desenvolvimento econômico e social de comunidades ao redor do mundo, ganha cada vez mais relevância no Brasil. De acordo com dados consolidados do Banco Central, o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) chegou a marca de R$ 885 bilhões em ativos, com crescimento consistente nas carteiras de crédito, nas aplicações e no número de cooperados. As cooperativas de crédito já respondem por cerca de 8% de todo o mercado financeiro nacional, e a expectativa é que essa participação chegue a 10% até 2027, consolidando o setor como uma das forças mais dinâmicas do sistema financeiro.
O avanço, no entanto, não se mede apenas em cifras. Cada número representa histórias de pessoas, empreendedores e produtores rurais que encontraram nas cooperativas uma alternativa justa e próxima para prosperar. Em muitas regiões, especialmente nas pequenas cidades e áreas rurais, as cooperativas de crédito são a única presença financeira efetiva, garantindo acesso a serviços bancários e crédito para quem, historicamente, esteve à margem do sistema. Essa capilaridade faz das cooperativas um dos principais instrumentos de inclusão financeira e social no país.
O modelo se destaca por unir resultados econômicos com propósito coletivo. Diferente das instituições financeiras tradicionais, as cooperativas não têm clientes, mas donos que participam das decisões e compartilham os resultados. O lucro não vai para acionistas distantes, mas retorna à comunidade em forma de sobras, investimentos locais e programas de educação financeira. Essa dinâmica cria um ciclo virtuoso: quanto mais a cooperativa cresce, mais riqueza é reinvestida nas próprias comunidades.
Grandes sistemas, como Ailos, CrediSIS, Sicredi, Sicoob, Cresol, Uniprime, Unicred e as independentes, são hoje exemplos de solidez e inovação. Juntas, essas redes somam mais de 15 mil pontos de atendimento e 22 milhões de cooperados, atuando em praticamente todos os estados brasileiros. Isso demonstra a força de um modelo que alia escala e proximidade.
Ao mesmo tempo em que cresce, o cooperativismo de crédito enfrenta desafios que exigem maturidade e visão de futuro. A digitalização do sistema financeiro, as novas exigências regulatórias e o avanço das fintechs impõem uma agenda de inovação contínua. As cooperativas precisam equilibrar a essência humana da cooperação com a eficiência tecnológica necessária para competir e atender às novas gerações. E estão fazendo isso: o setor investe fortemente em plataformas digitais, inteligência de dados e soluções financeiras sustentáveis, abrindo caminho para um cooperativismo 5.0, capaz de unir tecnologia, propósito e prosperidade.
O tema escolhido pela WOCCU para 2025 — “Cooperação por um mundo próspero” — reflete essa nova mentalidade. Prosperar, no contexto cooperativo, vai além do acúmulo de bens; significa crescer junto, com equilíbrio, ética e compromisso com o bem comum. É reconhecer que o crédito é mais do que uma transação: é uma ferramenta de transformação social.
O Brasil, que hoje já é referência mundial no cooperativismo financeiro, tem diante de si um futuro promissor. O fortalecimento da governança, a ampliação da educação cooperativa e a conexão com pautas globais — como sustentabilidade, inovação e economia verde — devem impulsionar ainda mais o setor na próxima década. As cooperativas estão se posicionando como agentes estratégicos de desenvolvimento regional, apoiando produtores rurais na transição sustentável, microempreendedores na geração de renda e jovens no acesso à educação financeira.
Em um mundo cada vez mais incerto, o cooperativismo de crédito reafirma seu papel como porto seguro: um sistema baseado na confiança, na solidariedade e na prosperidade compartilhada. O Ano Internacional das Cooperativas e o Dia Internacional do Cooperativismo de Crédito são, portanto, mais do que celebrações — são um chamado à ação. Um lembrete de que, quando pessoas se unem por um propósito comum, podem construir não apenas instituições financeiras mais humanas, mas sociedades mais prósperas, justas e sustentáveis.
*Luís Cláudio Silva é Diretor da MundoCoop